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São Paulo Fashion Week
Moda entra na era do business
Para Enzo Monzani e Conrado Will, donos da Zoomp, indústria precisa de gestão profissional
Proprietários de uma das principais grifes de jeanswear do país, empresários começaram a vestir jeans há pouco tempo
EDITOR DE MODA
No início deste ano, a venda
de duas das grifes mais prestigiosas do país, a Herchcovitch;
Alexandre e a Fause Haten,
surpreendeu o meio da moda.
Ambas entraram para a coleção
de marcas do grupo I'M Identidade Moda, ao lado da Zoomp,
da Zapping e da Cúmplice, adquiridas no ano passado.
Por trás da I'M -presidida
por Vicente Mello- está o grupo HLDC (abreviatura de "holding company"), dos sócios Enzo Monzani, 44, paulista, e
Conrado Will, 30, carioca que
vive em São Paulo há 24 anos.
Os dois já podem ser considerados os nomes mais poderosos
da moda brasileira -entendida
como criação e design, e não como pura fabricação de roupas.
Por intermédio deles e de outros novos grupos, a moda está deixando a época do negócio familiar
para entrar na era do business.
Ambos vieram do mercado
financeiro. Eles se conheceram
no Patrimônio Private Equity,
em 1998. A primeira empresa
que compraram foi a Tasa, de
headhunting (colocação de
executivos no mercado).
Em junho do ano passado,
iniciaram, com a Zoomp, a
aquisição de marcas de moda.
Em julho, compraram a BenQ,
indústria de montagem de celulares, que hoje se chama YVY.
Eles também assinaram um
contrato para gestão das lojas
Clube Chocolate, sobre a qual
têm opção de compra, caso esta
seja vendida pelo grupo português Riopele. O próximo passo
da HLDC será a aquisição de
uma companhia de óleo e gás.
No último ano, o faturamento do grupo foi de R$ 380 milhões -e R$ 180 milhões vieram das grifes da I'M. "Nós procuramos setores fragmentados
que possamos consolidar. A indústria de moda ainda é muito
pulverizada no Brasil, a maioria
das empresas é pequena e sem
gestão profissional", diz Monzani, no escritório da HLDC.
O projeto dos sócios é audacioso: criar um megagrupo de
gestão de marcas, como é a
PPR, dona da Gucci e outras
grifes. "Para quem gosta de desafio estratégico, a moda é um
negócio muito interessante",
diz Will. "Ela precisa ter concentração de capital para melhorar a capacidade de investimento", completa Monzani.
Investidores como Monzani
e Will são um fato novo para a
moda brasileira. Mas para eles,
também, a moda é um assunto
inédito. Muito discretos, ainda
estão aprendendo a decifrar as
idiossincrasias fashion.
Numa das primeiras reuniões da Zoomp, eles chegaram
a sugerir que as dançarinas
Scheila Carvalho e Sheila Mello
fizessem a campanha publicitária da grife. A equipe fashionista se entreolhou, assustada, e
com jeito explicou aos novatos
que não seria uma boa idéia.
Eles compreenderam na hora. "Talvez sejamos pouco sutis,
mas somos capazes de entender as sutilezas do meio da moda", diz Monzani. A equipe descartou as gostosonas do axé e
convidou Grazi Massafera.
Não foi a única coisa que espantou os sócios no reino da
moda. Donos de uma das principais grifes de jeanswear, a
Zoomp, eles não usavam jeans
até pouco tempo. "Eu chegava
nas reuniões e não havia ninguém de terno. Foi difícil acostumar a usar jeans", conta Will.
Para Monzani, "a moda é um
business de gente, você acaba
se conhecendo mais no final do
dia". Ele compara o meio fa-
shion com o do mundo dos investidores. No primeiro, conta,
há muitas pessoas maquiavélicas. "Gente má, sangue ruim
mesmo", ressalta. "Na moda, só
existem pequenas maldades."
(ALCINO LEITE NETO)
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