São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Crítica/"Eu Sou a Lenda"

Registro apocalíptico ecoa "O Planeta dos Macacos"

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK

Duas metades de andamento bem distinto convivem em "Eu Sou a Lenda". Na primeira, começa-se por idéia semelhante à que "O Planeta dos Macacos" (1968) deixou para o final: de avanço em avanço, o homem levou a civilização ao extermínio, mas ao menos o planeta sobreviveu, sob o controle talvez mais sábio de outras espécies.
Os passeios solitários do Dr. Robert Neville (Will Smith) e sua cadela Samantha pelo que restou de Manhattan em um futuro próximo têm beleza desoladora. Filmagens em locações (que tumultuaram a vida da cidade durante meses), direção de arte e efeitos digitais se combinam para sublinhar a inutilidade dos artefatos da sociedade de consumo nessa ilha agora fantasma (onde, apesar da destruição, ainda há energia elétrica para fazer funcionar o que interessa à trama).
Em pouco tempo, percebe-se que o vazio poético está sintonizado com a luz do dia. À noite, saem das trevas criaturas que pontuam a segunda parte do filme de acordo com as convenções dos zumbis cinematográficos. A amargura das distopias de "O Planeta dos Macacos" e "Os 12 Macacos" (1995), entre outros clássicos, deixa de ser referência para que ecoe mais forte a tradição de confronto entre humanos e mortos-vivos à moda de George Romero.
Era improvável que "Eu Sou a Lenda" se tornasse um dos maiores sucessos de bilheteria da atual temporada, com cerca de US$ 240 milhões arrecadados em quatro semanas nos EUA, mesmo prevalecendo o registro apocalíptico. Como na primeira versão de "Blade Runner" (1982), acrescenta-se um pouco de esperança ao pacote, bem traduzida pela presença angelical de Alice Braga como a mulher cuja fé, no final das contas, move a ciência e o dia depois de amanhã.


EU SOU A LENDA
Direção:
Francis Lawrence
Com: Will Smith, Alice Braga
Produção: EUA, 2007
Onde: estréia na sexta-feira (18/1) em circuito
Avaliação: bom


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