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Crítica/"Eu Sou a Lenda"
Registro apocalíptico ecoa "O Planeta dos Macacos"
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK
Duas metades de andamento bem distinto
convivem em "Eu Sou
a Lenda". Na primeira, começa-se por idéia semelhante à que
"O Planeta dos Macacos"
(1968) deixou para o final: de
avanço em avanço, o homem levou a civilização ao extermínio,
mas ao menos o planeta sobreviveu, sob o controle talvez
mais sábio de outras espécies.
Os passeios solitários do Dr.
Robert Neville (Will Smith) e
sua cadela Samantha pelo que
restou de Manhattan em um
futuro próximo têm beleza desoladora. Filmagens em locações (que tumultuaram a vida
da cidade durante meses), direção de arte e efeitos digitais se
combinam para sublinhar a
inutilidade dos artefatos da sociedade de consumo nessa ilha
agora fantasma (onde, apesar
da destruição, ainda há energia
elétrica para fazer funcionar o
que interessa à trama).
Em pouco tempo, percebe-se
que o vazio poético está sintonizado com a luz do dia. À noite,
saem das trevas criaturas que
pontuam a segunda parte do filme de acordo com as convenções dos zumbis cinematográficos. A amargura das distopias
de "O Planeta dos Macacos" e
"Os 12 Macacos" (1995), entre
outros clássicos, deixa de ser
referência para que ecoe mais
forte a tradição de confronto
entre humanos e mortos-vivos
à moda de George Romero.
Era improvável que "Eu Sou
a Lenda" se tornasse um dos
maiores sucessos de bilheteria
da atual temporada, com cerca
de US$ 240 milhões arrecadados em quatro semanas nos
EUA, mesmo prevalecendo o
registro apocalíptico. Como na
primeira versão de "Blade Runner" (1982), acrescenta-se um
pouco de esperança ao pacote,
bem traduzida pela presença
angelical de Alice Braga como a
mulher cuja fé, no final das contas, move a ciência e o dia depois de amanhã.
EU SOU A LENDA
Direção: Francis Lawrence
Com: Will Smith, Alice Braga
Produção: EUA, 2007
Onde: estréia na sexta-feira (18/1) em circuito
Avaliação: bom
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