São Paulo, Sábado, 16 de Janeiro de 1999
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PATRIMÔNIO
Coleções públicas de SP receberam apenas 410 exemplares, em média, em 98; padrão internacional pede 2.800
Bibliotecas vivem com 20% do orçamento

MARTA AVANCINI
da Reportagem Local

Cada uma das bibliotecas públicas da cidade de São Paulo recebeu, durante o ano de 98, uma média de 410 livros novos. Se forem excluídas as doações e só forem computadas as compras feitas da prefeitura, o número cai para 286.
O dado se refere às 28 bibliotecas para adultos, entre elas a Mário de Andrade, a segunda maior do país (330 mil volumes) -perde apenas para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro-, e retrata o quadro de penúria a que estão submetidas as bibliotecas públicas brasileiras.
Se forem somados os acervos de todas as bibliotecas paulistanas chega-se a aproximadamente 2 milhões de livros. Já que a média internacional de renovação de acervos é de 4%, cada biblioteca deveria ter sido contemplada com 2.800 livros.
Paralelamente, quando se compara com 97, 98 pode ser considerado ruim no que se refere à reposição de acervo das bibliotecas paulistas. Em 97, cada uma recebeu uma média de 929 livros.
Ainda assim, São Paulo pode ser considerada uma exceção no Brasil. "Pelo menos tem uma rede que funciona e atende à população. Muitas cidades nem sequer têm biblioteca", diz Otaviano de Fiore, secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
Dos 5.482 municípios brasileiros, 3.288 possuem bibliotecas. Desse total, funcionam 3.079, mas entre 700 e 1.000 estão mal-instaladas. Na tentativa de expandir a rede, o ministério está fazendo parcerias com prefeituras para montar bibliotecas. Em três anos, foram inauguradas 329 bibliotecas.
Mas, se pelo aspecto da estrutura São Paulo pode ser considerada exceção, a cidade é regra quando o assunto é escassez de recursos: em 98, a Secretaria Municipal de Cultura teve à sua disposição R$ 246 mil para comprar livros, embora tenha solicitado R$ 1,2 milhão no orçamento enviado à Câmara dos Vereadores. Para 99, a verba pedida para livros é de R$ 6,5 milhões.
"Sabemos que é difícil passar. No final, a gente acaba tendo de adaptar à realidade", diz Marlene Gomes Martinez Hirata, diretora do Departamento de Bibliotecas Públicas de São Paulo.
Mais do que a reposição do acervo propriamente dita, o tipo de livro que acaba sendo comprado é outro problema. Boa parte das compras é de livros que compõem a lista dos pedidos pelos exames vestibulares, já que o público das bibliotecas é composto predominantemente por estudantes.
"Isso é uma distorção. Os alunos acabam indo para a biblioteca porque não existe uma biblioteca escolar que funcione", diz Luís Milanesi, professor na área de Ciência da Informação da ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP.
O colunista Alberto Dines está em férias

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