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CRÍTICA
Elementos romanescos e artes marciais levantam candidato ao Oscar
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA
Nos últimos anos, o Oscar
tem sido um péssimo parâmetro, tal o volume de propaganda usado pelos estúdios e as distorções que gera na noção de mérito, por mais precária que seja.
Ang Lee é um diretor de cinema
superestimado desde o sucesso de
"O Banquete de Casamento", que
tinha, no entanto, um incontestável frescor. Depois, passando-se
francamente para o Ocidente, foi
promovido tanto quanto possível
por filmes cuja inconsistência vinha do trabalho de direção, como
"Razão e Sensibilidade".
Com "O Tigre e o Dragão", Lee
volta à China, mais precisamente
à China profunda, das artes marciais, e deixa a dúvida: será este filme candidatíssimo ao Oscar uma
fraude tipo "Gladiador"?
Os elementos são tradicionais:
uma espada especial; um grande
lutador, Li Mu Bai (Chow Yun-Fat), que não se julga digno dela;
lutadores menos especiais que
tentam tomá-la. Entre os usurpadores, uma em particular: não é
uma bandoleira vulgar, mas Jen
(Zhang Ziyi), filha de aristocrata.
No caminho da espada, dois
amores: o de Li Mu Bai por outra
lutadora, Yu Shu Lien (Michelle
Yeoh), amor secreto, encubado, e
o de Jen por um bandoleiro.
Elementos romanescos são
abundantes, assim como o feminismo ostensivo (e até arbitrário:
a desenvoltura com que Jen se
despe das convenções da China
do século 19 é espantosa).
É possível ainda que certas características do filme de artes
marciais tenham ajudado, como a
boa coreografia das lutas, que
aqui dota os heróis, entre outras,
da capacidade de voar.
Esse aspecto está longe de justificar tantas indicações ao Oscar
(dez!). Em termos de filme de
ação, diga-se logo, "O Tigre e o
Dragão" não dá para o começo se
comparado aos velhos filmes samurai japoneses ou aos kung fus
de um King Hu ou um John Woo.
É no aspecto narrativo, porém,
que "O Tigre e o Dragão" deixa a
desejar mais francamente, com
inúmeros momentos em que o espectador tem dificuldade de se situar no que está acontecendo, por
conta de elipses não explicadas ou
temáticas sugeridas, mas não plenamente desenvolvidas.
Entre as virtudes, ao contrário,
está o desenvolvimento de certos
paradoxos: o caráter aventureiro
de uma princesa, a timidez de um
guerreiro, sobretudo quando cercados pelo cerimonial e pelo senso de hierarquia da China da época, não deixam de ter seu encanto.
Um encanto menor, em todo
caso, do que o dessas fabulosas lutas entre espadachins que flutuam
no ar, dotados de um caráter estranhamente sobrenatural. Talvez
esse seja o principal aspecto a relevar, porque nos lembra da
imensa vitalidade e do caráter fabuloso do cinema chinês atual.
O Tigre e o Dragão
Crouching Tiger, Hidden Dragon
Direção: Ang Lee
Produção: China/Hong Kong/ EUA/
Taiwan, 2000
Com: Chow Yun-Fat, Zhang Ziyi
Quando: a partir de hoje nos cines
Central Plaza, Morumbi e circuito
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