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Vaneau quer contar suas memórias
DA REPORTAGEM LOCAL
Na sala do apartamento, gaiolas
vazias dividem o espaço aéreo
com passarinhos soltos, modelados pelas mãos desse artista que
acaba de completar 78 anos e não
desaprendeu a relacionar-se com
vida, pessoas e objetos com ludicidade, assim como no palco.
Pintor, ator, encenador, cenógrafo, figurinista e coreógrafo, para citar alguns afazeres, o belga
Maurice Vaneau está radicado no
Brasil há quase 50 anos. Nos últimos tempos, porém, ele vem sendo pouco lembrado.
Quatro anos atrás, metido em
um macacão respingado de tintas, podia-se vê-lo no saguão do
Teatro Brasileiro de Comédia, trabalhando às vésperas da reabertura do espaço após reforma.
Justamente o lendário TBC em
que ele estreou no Brasil como diretor, em 1956, com a comédia "A
Casa de Chá do Luar de Agosto",
do americano John Patrick, com
Ítalo Rossi, Nathália Timberg,
Milton Morares e outros.
Foi Vaneau quem dirigiu a primeira montagem brasileira de
"Quem Tem Medo de Virginia
Woolf?" (1965), do também americano Edward Albee, estrelado
por Cacilda Becker (1925-69).
Artista multidiscipliinar, ele
afirma que "todas as artes têm
pontos em comum e precisamos
conectá-los para não ficarmos numa perspectiva pobre."
Vaneau começou a carreira cursando belas artes na Bélgica natal.
Depois, fez teatro. Transitou por
Bruxelas, Paris, Nova York. Participou do elenco do Teatro Nacional da Bélgica, que veio em turnê
para a América do Sul em meados
da década de 50.
O industrial italiano Franco
Zampari (1898-1966), "pai" do
TBC, assistiu à apresentação da
companhia no Teatro Municipal
do Rio e convidou-o para a equipe
da rua Major Diogo.
Vaneau entregou-se ao "destino", como diz. Casou-se em 1978
com a dançarina Célia Gouvêa,
parceira também em várias coreografias, mãe de suas duas filhas, Vânia e Yara, que também
trilharam as artes, cênicas e visuais, respectivamente.
Foi diretor do departamento de
teatro em São Paulo, na gestão do
crítico Sábato Magaldi na Secretaria Municipal da Cultura (1975-79); resgatou a pantomima que
praticou na Europa e protagonizou espetáculos na base do "one-man show", como em "Para Governador" (1981).
É o arco dessas memórias que
Vaneau pretende reunir em livro.
Um projeto maturado, mas para o
qual ainda faltam recursos. Nada
que demova a esperança do artista que, na juventude, viu judeus
serem assassinados na Bélgica pelos nazistas, durante a Segunda
Guerra Mundial.
(VS)
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