São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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MAM paulistano reúne fotos com "erros" produzidas em 30 anos de carreira de Luiz Braga

Metamorfoses de luz

Luiz Braga/Divulgação
"Vendedor de Balões", de 1990, também integra, a partir de amanhã, a exposição no MAM


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A subversão da cor que tinge o tênue limite entre um mundo que se revela tal como ele é e uma visão que tende ao abstrato é um dos prismas que ilumina a mostra "Retratos Amazônicos", que o fotógrafo paraense Luiz Braga, 48, exibe a partir de amanhã no Museu de Arte Moderna, no parque Ibirapuera, em São Paulo.
Belém, a cidade na qual Braga nasceu e de onde nunca se mudou, é praticamente a única protagonista de seu trabalho, que já dura 30 anos. Se os olhos do fotógrafo não puderam escapar da luz e cores locais, porém, suas fotografias cruzaram fronteiras e o fizeram ganhar prêmios como o prestigiado Leopold Godowsky Jr. Color Photography Awards, além de figurarem em importantes coleções mundo afora.
Parte do sucesso das imagens de Braga é atribuída a um tipo específico de uso de luz e cor que ele consegue atrair para dentro de sua câmera. Isso se dá utilizando o desvio de cor, na verdade um "erro" de leitura que determinados tipos de filmes apresentam quando utilizados em certas situações de luminosidade. Ao estudar e mapear esses desvios de cor, ele conseguiu criar uma espécie de alfabeto visual próprio, que, somado à sua capacidade de enxergar o lúdico nas cenas cotidianas, findou por gerar uma obra sólida com alta voltagem poética.
Com curadoria de Tadeu Chiarelli, "Retratos Amazônicos" traz um panorama da trajetória de Braga, pontuado por cerca de 50 imagens de várias fases de sua carreira, incluindo algumas em P&B, o que deixaria de fazer em 1981, quando começaram suas experiências formais com a cor.
"Várias vertentes me atraíram para o trabalho de Braga", conta Chiarelli. "Uma delas foi ter percebido dentro de sua produção uma herança da pintura concreta e neoconcreta que surge carregada de uma visualidade muito própria do Norte do país", diz.
Para decifrar as origens e achar um eixo curatorial para a mostra, Chiarelli recorreu a um artigo escrito pelo fotógrafo Paul Strand (1890-1976) em 1917, quando a fotografia ainda se debatia em busca de uma identidade perdida entre as ciências e as artes. No texto, dizia que a fotografia tinha duas possibilidades: retratar os objetos e o mundo visível fielmente, tal como eles pareciam aos olhos, ou então abstraí-los e deixar que a linguagem fosse tomada por linhas e formas lúdicas.
"O que me deu um estalo é que a obra de Braga parece trafegar livremente entre a objetividade e a abstração, sem necessidade de optar claramente por uma das vias, como preconizava Strand", diz Chiarelli.
"Ao mesmo tempo em que realiza um levantamento objetivo dessa estética ornamental de cunho geométrico-construtivo, que é patente na cultura popular do Norte do país, ele subverte o código da objetividade, de um registro que tenderia ao antropológico, ao inserir uma espécie de ruído. Isso ocorre quando ele incorpora cores que não guardam similaridade com a idéia que temos do mundo real", completa.

LUIZ BRAGA - RETRATOS AMAZÔNICOS. Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/ xx/11/5549-9688). Quando: abertura amanhã, às 19h. De 18/2 a 3/4 (ter., qua., sex. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 22h). Quanto: R$ 5,50 (crianças até dez e adultos com mais de 65 não pagam); gratuita aos domingos o dia inteiro e às quintas a partir das 17h.

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