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Para especialista, crise vai transformar a moda
Segundo Teri Agins, autora de "O Fim da Moda", acabou o consumismo exagerado
Agins, que já viveu no Brasil e é repórter especial do "Wall Street Journal", diz que é época de simplicidade e dos valores substantivos
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A semana de moda de Nova
York começou na última quinta
assombrada pela crise econômica. As expectativas são pessimistas para as grifes, e algumas
suspenderam seus desfiles.
Além de debilitar as marcas,
a crise também está colocando
em xeque valores e hábitos da
moda, na opinião da pesquisadora e jornalista Teri Agins, repórter especial do "Wall Street
Journal", que já viveu no Brasil
e é autora de um importante livro, "The End of Fashion" (o
fim da moda), sobre as mudanças na indústria, no marketing
e no consumo nos anos 90.
Em entrevista à Folha, a jornalista diz que a moda e o comportamento do consumidor
passam agora por nova transformação, por causa da crise,
mas também do casal Obama,
que indica outro modelo de vida aos americanos. Para Agins,
acabou a época do consumismo
exagerado e está entrando em
cena a era da simplicidade e
dos valores substantivos.
FOLHA - Como a sra. descreveria a
situação da moda nos Estados Unidos neste momento de crise?
TERI AGINS - Eu diria que as pessoas estão pessimistas e que a
economia da moda vai necessariamente mudar. Analistas dizem que as vendas neste ano
serão piores que as do ano passado, e há cálculos que projetam uma queda entre 3% e 7%
no mercado de luxo. Desde os
anos 90, houve um grande crescimento do mercado, a capacidade de produção das marcas
também aumentou muito. O
excesso de produção é um dos
grandes problemas, pois a demanda está caindo. As marcas
terão de ficar menores, não vão
poder produzir tanto e terão de
baixar os preços.
FOLHA - A sra. acha que o próprio
perfil do consumidor também está
mudando com a crise? A imprensa
americana fala de um novo tipo de
fashionista, o "recessionista", e do
fim da era "Sex and the City", com
personagens fanáticas por marcas.
AGINS - Sim e não. Sempre haverá pessoas obcecadas por grifes famosas e de luxo. Mas os
valores estão certamente mudando. Durante os anos 90, difundiu-se um novo tipo de consumidor, pessoas que só queriam comprar e comprar. Com
isso, colocamos de lado coisas
que realmente têm valor, mais
sérias. Agora, muitos estão
questionando se devem ou não
gastar US$ 5.000 num produto,
mesmo que tenham dinheiro,
se isto não será inapropriado
ou vulgar. Estamos pensando:
"Nosso novo presidente não é
assim, é um homem simples".
FOLHA - Algumas marcas americanas desistiram de desfilar em Nova
York. Por quê?
AGINS - Elas estão sem dinheiro e estão pensando em economizar. Também estão se perguntando sobre o sentido de
um desfile, que às vezes reúne
2.000 pessoas. Será que não
bastaria reunir as pessoas certas, os jornalistas que interessam, sem gastar US$ 100 mil e
US$ 500 mil num espetáculo?
FOLHA - Isto coloca em xeque a
ideia de fashion week, não?
AGINS - Sim, claro. Além disso,
quando você faz suas roupas,
está pensando no que vai vender, o que vai para a loja. Mas,
quando entra o conceito de
desfile, tudo vira um show. O
estilista tem que desenhar coisas que tenham este apelo do
espetáculo, e o show acaba ultrapassando a marca. É uma
grande distração, mas é também um gasto muito grande,
para ter apenas algumas fotos
nas revistas e alguns parágrafos
nos jornais. Por outro lado, desfiles são também rituais, que fazem parte da tradição da moda.
Ela sempre teve algo ritualístico, e essas coisas são difíceis de
morrer. Podem mudar, mas
não devem morrer.
FOLHA - Michelle Obama já se tornou realmente um ícone fashion,
como defende a imprensa de moda?
AGINS - Ela não é um ícone fashion. Ela representa uma mulher no meio dos 40 anos, que
trabalha, e as pessoas gostam
dela por isso, pelo fato de ser
igual à maioria das mulheres.
Portanto, é ridículo compará-la
a Jacqueline Kennedy, que era
uma fashionista a maior parte
do tempo. Nos EUA, é sempre
assim: dividem as mulheres entre fashionistas e intelectuais.
Ocorre que Michelle é as duas
coisas ao mesmo tempo. Ela
gosta de moda, mas é também
substantiva, não é superficial.
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