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Crítica
Bellocchio filma simpáticos monstros
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que é um monstro? A pergunta já vem desde o célebre
"Freaks", de Todd Browning,
em que de certo modo demonstrava-se que a monstruosidade
não está na feiura ou na deficiência, mas basicamente em
um modo de pensar, de estar
entre as coisas.
A esta visão moral pode-se
acrescentar uma política: há
monstros ideológicos, e entre
eles é necessário incluir boa
parte da esquerda terrorista
italiana dos anos 1970 -por
exemplo, os assassinos de Aldo
Moro, de que trata Marco Bellocchio no magnífico "Bom
Dia, Noite" (TC Cult, 23h50,
não indicado para menores
de 12 anos).
O espantoso, o assustador, é
que esses criminosos sejam tão
parecidos conosco. É esse o
ponto que Bellocchio enfatiza:
nada de gente estranha, feia,
torta. Tudo começa com um
simpático casal que aluga uma
casa. Qualquer um de nós podia estar no lugar deles, em suma. Entre a normalidade e o
crime atroz, pode não haver
mais que um passo, como bem
sabia Fritz Lang.
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