São Paulo, segunda, 16 de fevereiro de 1998

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TELEVISÃO
"Companheiro" não convence crítica dos EUA

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

A maior parte dos filmes políticos indica qual o lado "certo", aquele que merece a torcida do público espectador. Esse não é o caso de "O Que É Isso, Companheiro?", indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro e em exibição nos cinemas de Nova York. É o que comentam algumas das resenhas críticas nos EUA.
Distribuído pela Miramax, o filme foi lançado no momento certo. Um pouco antes do anúncio das indicações ao Oscar, os vários críticos de cinema na TV, nos jornais e nas revistas procuravam afiar os seus palpites. E nessa especulação, o filme de Bruno Barreto ganhou repercussão mais que bem-vinda para o cinema nacional.
Mas os comentários não são eufóricos. Roger Ebert, do "Siskel and Ebert", o programa televisivo clássico no gênero comentário crítico de cinema, gravado em Chicago há 22 anos, atribuiu apenas 3 estrelas ao filme brasileiro. A resenha de Ebert, publicada na sua coluna na Internet impressiona pela contundência.
Na minha ingenuidade nativa, cheguei a concordar que a ampla repercussão do filme, culminando com a indicação para o Oscar, se devia ao acerto de uma estratégia calculada: a representação densa e positiva do embaixador dos EUA, um homem sensível, independente, liberal, crítico ao apoio de seu próprio governo aos militares brasileiros, mas também crítico aos sequestradores de esquerda.
Nessa interpretação, a honestidade e a lisura de um representante diplomático ianque, ameaçado pela selvageria de alienígenas decididos a ir às vias de fato, seria suficiente para convencer o público dos EUA de que este filme vale.
Mas o comentário de Ebert, o crítico do "Chicago Sun Times", que com Gene Siskel, o crítico do jornal rival, o "Chicago Tribune", forma a dupla de cinéfilos mais influente nos EUA, põe por terra a pretensa esperteza latina.
Para o dono do famoso polegar -para cima e para baixo- , a ambivalência do filme não convence. O crítico reclama do que talvez pudesse ser interpretado como uma familiar condescendência católica. Afinal, o filme retrata sequestradores como bem intencionados e ingênuos jovens amadores; e torturadores como sensíveis seres com crise de consciência. Na categoria filme político, Ebert compara "Companheiro" com os filmes decididos de Costa Gravas e não se convence.
É sempre difícil saber qual é o peso da crítica. Mas "Siskel and Ebert" certamente disseminam opinião. As críticas dos dois profissionais estão também disponíveis nos jornais e na Internet.

E-mail: ehamb@uol.com.br



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