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CINEMA
Filme de Salles é elogiado por crítica internacional
"Central" recebe aplausos em Berlim
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
O drama brasileiro "Central do
Brasil", de Walter Salles, recebeu
uma acolhida entusiástica na sessão oficial da noite de anteontem,
dentro da mostra competitiva do
48º Festival Internacional de Cinema de Berlim.
O aplauso inicial, em meio aos
créditos, durou dois minutos. A
entrada no palco do ator-mirim
Vinícius de Oliveira, 10, descoberto por Salles como engraxate no
aeroporto Santos Dumont, no
Rio, detonou mais de sete minutos
de palmas e bravos, crescentes
com a entrada da atriz Fernanda
Montenegro e do diretor.
Horas antes, na manhã de sábado, "Central" já havia deixado
boa impressão na projeção para a
crítica. Empatara em aplausos
com o favorito até ali, "Gênio Indomável", de Gus van Sant. Ontem ambos foram superados pela
repercussão, entre os jornalistas,
da comédia "The Big Lebowski",
dos irmãos Ethan e Joel Coen.
A reação a "Central" é a melhor
acolhida a um filme brasileiro
num grande festival internacional
na última década. O diário berlinense "Der Tagesspiegel" estampava ontem um artigo defendendo
logo na primeira linha a concessão
do Urso de Ouro para o filme.
O crítico argentino Luciano
Monteagudo, de "Página 12",
classificou-o ontem como "o melhor filme da competição até
aqui". Irônico, o crítico britânico
David Robinson, do "The Times" londrino, disse que "o filme certamente estará concorrendo ao Oscar de filme estrangeiro
no próximo ano. Foi feito para isso". Em seguida, completou:
"Mas é um bom filme".
Salles tenta reduzir a expectativa
de premiação. Prefere comemorar
a lotação de todas as projeções do
filme, incluindo as duas últimas
previstas para hoje.
A melhor explicação dada até
agora para a empatia de "Central" veio de Fernanda Montenegro na entrevista coletiva da tarde
de anteontem. Foi direta e enfática: "Não é um filme perfeito, mas
é um filme honesto".
"Central" tem conquistado as
platéias como uma fábula ética
sob a forma de um "road movie"
passado no Brasil de hoje. A trama
é simples: uma cética "escrevedora" de cartas (Montenegro) escolta um garoto pobre (Vinícius) numa viagem ao Nordeste à procura
do pai que jamais viu.
Como notou com perspicácia a
crítica Janet Maslin, do jornal
americano "New York Times",
os grandes momentos do filme
acontecem quando o real funde-se
ao ficcional, como nos depoimentos dos populares ou na sequência
com uma romaria.
Walter Salles troca amanhã Berlim por Paris, onde finaliza seu
novo longa-metragem, "Minuit/Contagem Regressiva", da
telessérie "2000 Vu Par" (2000
Visto Por), produzida pelo canal
franco-germânico Arte.
Fernanda Montenegro parte
também amanhã para conhecer
Praga, enquanto Vinícius volta ao
Brasil. Viajam todos sob a expectativa de um breve regresso.
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