São Paulo, segunda, 16 de fevereiro de 1998

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CINEMA
Filme de Salles é elogiado por crítica internacional
"Central" recebe aplausos em Berlim

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

O drama brasileiro "Central do Brasil", de Walter Salles, recebeu uma acolhida entusiástica na sessão oficial da noite de anteontem, dentro da mostra competitiva do 48º Festival Internacional de Cinema de Berlim.
O aplauso inicial, em meio aos créditos, durou dois minutos. A entrada no palco do ator-mirim Vinícius de Oliveira, 10, descoberto por Salles como engraxate no
aeroporto Santos Dumont, no Rio, detonou mais de sete minutos de palmas e bravos, crescentes com a entrada da atriz Fernanda Montenegro e do diretor.
Horas antes, na manhã de sábado, "Central" já havia deixado boa impressão na projeção para a crítica. Empatara em aplausos com o favorito até ali, "Gênio Indomável", de Gus van Sant. Ontem ambos foram superados pela repercussão, entre os jornalistas, da comédia "The Big Lebowski", dos irmãos Ethan e Joel Coen.
A reação a "Central" é a melhor acolhida a um filme brasileiro num grande festival internacional na última década. O diário berlinense "Der Tagesspiegel" estampava ontem um artigo defendendo logo na primeira linha a concessão do Urso de Ouro para o filme.
O crítico argentino Luciano Monteagudo, de "Página 12", classificou-o ontem como "o melhor filme da competição até aqui". Irônico, o crítico britânico David Robinson, do "The Times" londrino, disse que "o filme certamente estará concorrendo ao Oscar de filme estrangeiro no próximo ano. Foi feito para isso". Em seguida, completou: "Mas é um bom filme".
Salles tenta reduzir a expectativa de premiação. Prefere comemorar a lotação de todas as projeções do filme, incluindo as duas últimas previstas para hoje.
A melhor explicação dada até agora para a empatia de "Central" veio de Fernanda Montenegro na entrevista coletiva da tarde de anteontem. Foi direta e enfática: "Não é um filme perfeito, mas é um filme honesto".
"Central" tem conquistado as platéias como uma fábula ética sob a forma de um "road movie" passado no Brasil de hoje. A trama é simples: uma cética "escrevedora" de cartas (Montenegro) escolta um garoto pobre (Vinícius) numa viagem ao Nordeste à procura do pai que jamais viu.
Como notou com perspicácia a crítica Janet Maslin, do jornal americano "New York Times", os grandes momentos do filme acontecem quando o real funde-se ao ficcional, como nos depoimentos dos populares ou na sequência com uma romaria.
Walter Salles troca amanhã Berlim por Paris, onde finaliza seu novo longa-metragem, "Minuit/Contagem Regressiva", da telessérie "2000 Vu Par" (2000 Visto Por), produzida pelo canal franco-germânico Arte.
Fernanda Montenegro parte também amanhã para conhecer Praga, enquanto Vinícius volta ao Brasil. Viajam todos sob a expectativa de um breve regresso.




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