São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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Crítica/""Quidam"

Precisão absoluta do coletivo torna Cirque du Soleil misto de teatro e circo

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O circo e o teatro são milenares, mas na modernidade se aproximaram e quase se confundiram. "Quidam", do Cirque du Soleil, é um exemplo dessa confusão, ainda que, no limite, seja mesmo um espetáculo circense. Como teatro tem uma dramaturgia, desenvolvida com elementos cenográficos por sete criadores e um encenador, Franco Dragone. A exemplo de uma sessão de circo, reúne uma série de números autônomos, que combinam desempenhos humanos extraordinários com momentos de descontração cômica e musical.
Tramam-se contorcionistas, acrobatas e palhaços em uma sintaxe espetacular homogênea. A cenotécnica é sofisticada e instaura na gramática espacial do picadeiro movimentos suspensos horizontais e verticais, produzidos por um arco de pontes rolantes.
O tema se apresenta a partir da oposição entre uma menina sonhadora e seus pais, absortos em suas ocupações cotidianas.
O nome Quidam, um peixe primaveril do Canadá, evoca as maravilhas imperceptíveis do mundo, trazidas por um anônimo solitário que propõe à menina um passeio onírico.
A fórmula lembra as encenações que o teatro do século 19 chamava de "mágicas", em que o ponto alto era sempre a "mutação à vista" do público, proporcionada por magos nos bastidores. É um gênero que busca maravilhar os sentidos e serve-se de licenças poéticas para propor histórias fantásticas.
Os aspectos circenses aparecem depurados de elementos tradicionais -números de animais, trapézio-, mas fieis a todo tipo de virtuosismo físico. Predominam cordas e panos, seja em versões aéreas, como as da australiana Donna Stevens e da ucraniana Oksana Pylypchuk, ou nos conjuntos de acrobatas com cordas lisas ou de saltar e bambolês. O foco no trabalho corporal é confirmado ao se situar como clímax o número "estátua", com Richard Jescmen e Yana Semilet.
O circo sempre trouxe implícito um jogo de risco com a morte. No Cirque du Soleil esta faceta se atenua, ainda que algumas rotinas sejam perigosas.
O risco maior ali é o do erro, que empanaria a potência dos conjuntos. É na precisão absoluta do coletivo, desenhada em coreografias de saltos e acrobacias dificílimas, que aparece mais claro sua condição híbrida de ser, também, teatro.


QUIDAM

Quando: qui. e sex. às 21h, sáb. às 17h e 21h, dom. às 16h e 20h. Até 28/3
Onde: Pq. Villa-Lobos - av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2.001, Alto de Pinheiros; tel. 0/xx/11/4004-3100
Quanto: de R$ 190 a R$ 390
Classificação indicativa: 13 anos
Avaliação: bom




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