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Crítica/""Quidam"
Precisão absoluta do coletivo torna Cirque du Soleil misto de teatro e circo
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O circo e o teatro são milenares, mas na modernidade se aproximaram e quase se confundiram. "Quidam", do Cirque du
Soleil, é um exemplo dessa confusão, ainda que, no limite, seja
mesmo um espetáculo circense. Como teatro tem uma dramaturgia, desenvolvida com
elementos cenográficos por sete criadores e um encenador,
Franco Dragone. A exemplo de
uma sessão de circo, reúne uma
série de números autônomos,
que combinam desempenhos
humanos extraordinários com
momentos de descontração cômica e musical.
Tramam-se contorcionistas,
acrobatas e palhaços em uma
sintaxe espetacular homogênea. A cenotécnica é sofisticada
e instaura na gramática espacial do picadeiro movimentos
suspensos horizontais e verticais, produzidos por um arco de
pontes rolantes.
O tema se apresenta a partir
da oposição entre uma menina
sonhadora e seus pais, absortos
em suas ocupações cotidianas.
O nome Quidam, um peixe primaveril do Canadá, evoca as
maravilhas imperceptíveis do
mundo, trazidas por um anônimo solitário que propõe à menina um passeio onírico.
A fórmula lembra as encenações que o teatro do século 19
chamava de "mágicas", em que
o ponto alto era sempre a "mutação à vista" do público, proporcionada por magos nos bastidores. É um gênero que busca
maravilhar os sentidos e serve-se de licenças poéticas para
propor histórias fantásticas.
Os aspectos circenses aparecem depurados de elementos
tradicionais -números de animais, trapézio-, mas fieis a todo tipo de virtuosismo físico.
Predominam cordas e panos,
seja em versões aéreas, como as
da australiana Donna Stevens e
da ucraniana Oksana
Pylypchuk, ou nos conjuntos
de acrobatas com cordas lisas
ou de saltar e bambolês. O foco
no trabalho corporal é confirmado ao se situar como clímax
o número "estátua", com Richard Jescmen e Yana Semilet.
O circo sempre trouxe implícito um jogo de risco com a
morte. No Cirque du Soleil esta
faceta se atenua, ainda que algumas rotinas sejam perigosas.
O risco maior ali é o do erro,
que empanaria a potência dos
conjuntos. É na precisão absoluta do coletivo, desenhada em
coreografias de saltos e acrobacias dificílimas, que aparece
mais claro sua condição híbrida
de ser, também, teatro.
QUIDAM
Quando: qui. e sex. às 21h, sáb. às 17h
e 21h, dom. às 16h e 20h. Até 28/3
Onde: Pq. Villa-Lobos - av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2.001, Alto de Pinheiros;
tel. 0/xx/11/4004-3100
Quanto: de R$ 190 a R$ 390
Classificação indicativa: 13 anos
Avaliação: bom
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