São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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MC Lurdez da Luz lança EP com canções femininas e artesanais

Disco é primeiro solo da vocalista da banda de hip hop Mamelo Sound System

LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Luana Dias cresceu entre tecidos brancos da oficina de costura da avó. Uma oficina de vestidos de noiva. Mas foi na Luz, no centro da cidade de São Paulo, bairro onde viveu na infância, que virou Lurdez. Lurdez da Luz.
Uma garota interessada em fazer música de rua, que, ainda menina, fuçava os sebos da região onde morava. Aos 13 anos, tocava guitarra em uma banda de punk rock para se expressar ("por rebeldia") e, pouco depois, se enfiou no rap.
"Achei que era hora de falar do meu cotidiano no centro: o crack estava muito difundido, o rap estava bem mais vivo nos anos 90 e começou a fazer a minha cabeça. Me identifiquei; o cotidiano era meio ruim, mas, ao mesmo tempo, tinha uma coisa de festa, menos carrancuda do que o punk rock."
Hoje, aos 30, Lurdez lança seu primeiro EP solo, homônimo, em show no Centro Cultural São Paulo, no dia 10 de abril, ao lado de baixista, baterista e DJ. No palco, a cantora e compositora mostrará canções mais "femininas e artesanais" -trabalho que vai no sentido contrário do que fez até hoje no grupo de hip hop brasileiro Mamelo Sound System, apoiado em letras de denúncia.
Foi ao lado de Rodrigo Brandão, pilar da banda, que Lurdez começou. "Subi no palco com o Mamelo para fazer dobra. Backing vocal no rap a gente chama de dobra", diz. A partir daí, passou a compor, entrou em contato com a turma do meio e, hoje, mostra um pouco dessas interações em seu novo trabalho.
Mixado e pós-produzido pelo nova-iorquino Scott Hard (De La Soul, Wu Tang Clan), o disco, com apenas nove faixas, dá espaço a participações de peso como Jorge du Peixe (Nação Zumbi), Maurício Takara e o trompetista Rob Mazurek. Também tenta expressar, por meio de uma sonoridade marcada por batidas fortes, influências que carrega, de Mutantes e Novos Baianos.
Vez ou outra, nos shows, Lurdez também recupera uma música que não conseguiu gravar no disco. "Encontrei o DJ Primo [que morreu em 2008] num campeonato de DJ, e ele colocou um monte de base instrumental no meu iPod, quando soube que eu estava gravando. Ele disse: "Quero botar uns beats nesse disco aí". Então, escutei, escrevi para uma delas e ele faleceu."

Dia a dia
Não faz muito tempo que Lurdez da Luz passou a viver só da música. Engravidou aos 26 anos e sempre teve de manter, em paralelo, outros bicos para se sustentar -já trabalhou em shopping e estúdio de som.
Hoje, depois de morar com a mãe em Santo André, com a avó paterna no Glicério, bairro paulistano "considerado violento", e sozinha em Perdizes, divide uma casa com mais três moços, dois técnicos de som e um DJ, na Pompeia. É ali, num quarto, que vive com seu filho Rogê, 4, que leva todos os dias às 7h para a escola, onde ele fica até 17h.
Faz malabarismos para conciliar a vida de rapper e de mãe. "Ultimamente, tem sido uma coisa meio milagrosa. Não consigo planejar nada. Vivo um dia após o outro." Mas, ao que parece, "tá tudo bem, tá rolando".


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