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MC Lurdez da Luz lança EP com canções femininas e artesanais
Disco é primeiro solo da vocalista da banda de hip hop Mamelo Sound System
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Luana Dias cresceu entre tecidos brancos da oficina de costura da avó. Uma oficina de vestidos de noiva. Mas foi na Luz,
no centro da cidade de São Paulo, bairro onde viveu na infância, que virou Lurdez. Lurdez
da Luz.
Uma garota interessada em
fazer música de rua, que, ainda
menina, fuçava os sebos da região onde morava. Aos 13 anos,
tocava guitarra em uma banda
de punk rock para se expressar
("por rebeldia") e, pouco depois, se enfiou no rap.
"Achei que era hora de falar
do meu cotidiano no centro: o
crack estava muito difundido, o
rap estava bem mais vivo nos
anos 90 e começou a fazer a minha cabeça. Me identifiquei; o
cotidiano era meio ruim, mas,
ao mesmo tempo, tinha uma
coisa de festa, menos carrancuda do que o punk rock."
Hoje, aos 30, Lurdez lança
seu primeiro EP solo, homônimo, em show no Centro Cultural São Paulo, no dia 10 de abril,
ao lado de baixista, baterista e
DJ. No palco, a cantora e compositora mostrará canções
mais "femininas e artesanais"
-trabalho que vai no sentido
contrário do que fez até hoje no
grupo de hip hop brasileiro Mamelo Sound System, apoiado
em letras de denúncia.
Foi ao lado de Rodrigo Brandão, pilar da banda, que Lurdez
começou. "Subi no palco com o
Mamelo para fazer dobra. Backing vocal no rap a gente chama
de dobra", diz. A partir daí, passou a compor, entrou em contato com a turma do meio e, hoje, mostra um pouco dessas interações em seu novo trabalho.
Mixado e pós-produzido pelo
nova-iorquino Scott Hard (De
La Soul, Wu Tang Clan), o disco, com apenas nove faixas, dá
espaço a participações de peso
como Jorge du Peixe (Nação
Zumbi), Maurício Takara e o
trompetista Rob Mazurek.
Também tenta expressar, por
meio de uma sonoridade marcada por batidas fortes, influências que carrega, de Mutantes e Novos Baianos.
Vez ou outra, nos shows, Lurdez também recupera uma música que não conseguiu gravar
no disco. "Encontrei o DJ Primo [que morreu em 2008] num
campeonato de DJ, e ele colocou um monte de base instrumental no meu iPod, quando
soube que eu estava gravando.
Ele disse: "Quero botar uns
beats nesse disco aí". Então, escutei, escrevi para uma delas e
ele faleceu."
Dia a dia
Não faz muito tempo que
Lurdez da Luz passou a viver só
da música. Engravidou aos 26
anos e sempre teve de manter,
em paralelo, outros bicos para
se sustentar -já trabalhou em
shopping e estúdio de som.
Hoje, depois de morar com a
mãe em Santo André, com a avó
paterna no Glicério, bairro paulistano "considerado violento",
e sozinha em Perdizes, divide
uma casa com mais três moços,
dois técnicos de som e um DJ,
na Pompeia. É ali, num quarto,
que vive com seu filho Rogê, 4,
que leva todos os dias às 7h para
a escola, onde ele fica até 17h.
Faz malabarismos para conciliar a vida de rapper e de mãe.
"Ultimamente, tem sido uma
coisa meio milagrosa. Não consigo planejar nada. Vivo um dia
após o outro." Mas, ao que parece, "tá tudo bem, tá rolando".
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