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CRÍTICA
Filme encanta ao mostrar apego a valores do passado
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em poucas seqüências "As Bicicletas de Belleville" abrem o
jogo. É o tempo que precisamos
para nos familiarizar com os desenhos do filme de Sylvain Chomet,
onde os traços criam personagens
e paisagens que ora parecem distorcidos, ora retorcidos -mas
em todo caso oferecem uma imagem conturbada do humano.
A trama acentua a percepção
que se cria. De início, existem ali
um menino melancólico e uma
avó dedicada, a sra. Souza, que faz
tudo para alegrá-lo. As coisas só
melhoram quando descobre que
o garoto é um fã de ciclismo e lhe
dá de presente um velocípede.
Passa-se o tempo, o garoto cresce e realiza seu sonho de correr na
Volta da França. É então que, com
outros dois ciclistas, é seqüestrado por gângsteres que o levam até
a cidade grande, Belleville, para
participar como escravos de um
jogo de apostas. A avó irá à cidade, na companhia de Bruno, um
cachorro gordo. Sem dinheiro, serão ajudados pelas Trigêmeas de
Belleville, estrelas musicais.
A história que conta tem importância relativa para Chomet. O fato de se servir de desenhos, por
exemplo, é mais relevante. Eles
nos mostram o apego do realizador ao passado, a modos de vida
mais suaves -a preferência pelo
modo de vida comunal em oposição ao das metrópoles é evidente.
Felizmente, a influência de Jacques Tati atravessa a mise-en-scène, em decisões como a de realizar
um filme baseado quase exclusivamente em ruídos e música, e
não apenas na nostalgia.
O fato é que o filme -estranho
no começo, talvez devido ao inusitado dos desenhos, à estridência
dos personagens-, na medida
em que se impõe ao espectador,
tende a seduzi-lo e a encantá-lo.
As Bicicletas de Belleville
Les Triplettes de Belleville
Direção: Sylvain Chomet
Produção: França/Bélgica/Canadá/
Reino Unido, 2003
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Lumière e circuito
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