São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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CRÍTICA

Filme encanta ao mostrar apego a valores do passado

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em poucas seqüências "As Bicicletas de Belleville" abrem o jogo. É o tempo que precisamos para nos familiarizar com os desenhos do filme de Sylvain Chomet, onde os traços criam personagens e paisagens que ora parecem distorcidos, ora retorcidos -mas em todo caso oferecem uma imagem conturbada do humano.
A trama acentua a percepção que se cria. De início, existem ali um menino melancólico e uma avó dedicada, a sra. Souza, que faz tudo para alegrá-lo. As coisas só melhoram quando descobre que o garoto é um fã de ciclismo e lhe dá de presente um velocípede.
Passa-se o tempo, o garoto cresce e realiza seu sonho de correr na Volta da França. É então que, com outros dois ciclistas, é seqüestrado por gângsteres que o levam até a cidade grande, Belleville, para participar como escravos de um jogo de apostas. A avó irá à cidade, na companhia de Bruno, um cachorro gordo. Sem dinheiro, serão ajudados pelas Trigêmeas de Belleville, estrelas musicais.
A história que conta tem importância relativa para Chomet. O fato de se servir de desenhos, por exemplo, é mais relevante. Eles nos mostram o apego do realizador ao passado, a modos de vida mais suaves -a preferência pelo modo de vida comunal em oposição ao das metrópoles é evidente.
Felizmente, a influência de Jacques Tati atravessa a mise-en-scène, em decisões como a de realizar um filme baseado quase exclusivamente em ruídos e música, e não apenas na nostalgia.
O fato é que o filme -estranho no começo, talvez devido ao inusitado dos desenhos, à estridência dos personagens-, na medida em que se impõe ao espectador, tende a seduzi-lo e a encantá-lo.


As Bicicletas de Belleville
Les Triplettes de Belleville

   
Direção: Sylvain Chomet
Produção: França/Bélgica/Canadá/ Reino Unido, 2003
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Lumière e circuito



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