São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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"O MESTRE"

Irlandês recria vida de Henry James

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

O período escolhido pelo ficcionista irlandês Colm Tóibín para retratar a vida do americano Henry James, do início de 1895 ao fim de 1899, é alcunhado pelo biógrafo Leon Edel, no monumental "Life of Henry James", em cinco volumes, de "The Treacherous Years", os anos traiçoeiros. Não começaram bem.
As cortinas se abrem com o fiasco de "Guy Domville", a suntuosa peça de James passada no século 18. Na estréia, só amigos aplaudiram. James, sem atentar para o fato, subiu ao palco e recebeu uma sonorosa vaia. Foi a pá de cal em sua carreira de dramaturgo.
Coincidência ou não, ele pouco depois abandonou seu apartamento londrino em Kensington e alugou uma casa, quase de campo, em Rye, Sussex. A despeito do fracasso no teatro, o escritor produziu contos excepcionais, além do excelente romance "Pelos Olhos de Maisie". O final da fase marcou o início da redação de sua obra-prima "The Ambassadors".
Tóibín não se limita ao qüinqüênio em destaque e enfoca episódios decisivos da vida do autor. Ele volta aos anos da Guerra Civil americana (1861-65), da qual nem Henry não participou, mas sim seu irmão mais novo. Wilky lutou num regimento estraçalhado numa manobra mal-conduzida.
Também mostra a suposta responsabilidade de James pela morte da prima Minny Temple e da amiga Constance Woolson -ambas teriam sido influenciadas pelo egoísmo, pela inépcia e pelo puritanismo do escritor.
Mas não são nessas relações que está o melhor do romance. Tóibín fica mais à vontade quando desce aos pormenores do comportamento, às interpretações dos gestos corriqueiros e aos qüiproquós domésticos. É deliciosa a descrição da aflição de James quando seus criados passam a beber e a adotar uma atitude insolente.
Outro trecho carregado de não-ditos é o da noite em que o jovem Henry é obrigado a dividir o leito com o amigo Oliver Holmes, recém-saído da guerra americana. A tensão homossexual é soberbamente dramatizada. Mas Tóibín não consigue manter esse ritmo nem trazer novidade às cenas mais momentosas.
Outro ponto fraco é sua tentativa de examinar as fontes de inspiração ficcional, cuja dramatização soa mecânica, tendendo ao psicologismo. Além do mais, o James que surge das páginas de "O Mestre" é uma figura anódina. Numa biografia, pode-se chegar à conclusão que se queira a partir do exame dos fatos, mas, num romance, certas opções estéticas conduzem ao desinteresse.


O Mestre
  
Autor: Colm Tóibín
Tradutor: José Geraldo Couto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 52 (440 págs.)


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