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"O MESTRE"
Irlandês recria vida de Henry James
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
O período escolhido pelo
ficcionista irlandês Colm
Tóibín para retratar a vida do
americano Henry James, do início
de 1895 ao fim de 1899, é alcunhado pelo biógrafo Leon Edel, no
monumental "Life of Henry James", em cinco volumes, de "The
Treacherous Years", os anos traiçoeiros. Não começaram bem.
As cortinas se abrem com o fiasco de "Guy Domville", a suntuosa
peça de James passada no século
18. Na estréia, só amigos aplaudiram. James, sem atentar para o fato, subiu ao palco e recebeu uma
sonorosa vaia. Foi a pá de cal em
sua carreira de dramaturgo.
Coincidência ou não, ele pouco
depois abandonou seu apartamento londrino em Kensington e
alugou uma casa, quase de campo, em Rye, Sussex. A despeito do
fracasso no teatro, o escritor produziu contos excepcionais, além
do excelente romance "Pelos
Olhos de Maisie". O final da fase
marcou o início da redação de sua
obra-prima "The Ambassadors".
Tóibín não se limita ao qüinqüênio em destaque e enfoca episódios decisivos da vida do autor.
Ele volta aos anos da Guerra Civil
americana (1861-65), da qual nem
Henry não participou, mas sim
seu irmão mais novo. Wilky lutou
num regimento estraçalhado numa manobra mal-conduzida.
Também mostra a suposta responsabilidade de James pela morte da prima Minny Temple e da
amiga Constance Woolson
-ambas teriam sido influenciadas pelo egoísmo, pela inépcia e
pelo puritanismo do escritor.
Mas não são nessas relações que
está o melhor do romance. Tóibín
fica mais à vontade quando desce
aos pormenores do comportamento, às interpretações dos gestos corriqueiros e aos qüiproquós
domésticos. É deliciosa a descrição da aflição de James quando
seus criados passam a beber e a
adotar uma atitude insolente.
Outro trecho carregado de não-ditos é o da noite em que o jovem
Henry é obrigado a dividir o leito
com o amigo Oliver Holmes, recém-saído da guerra americana.
A tensão homossexual é soberbamente dramatizada. Mas Tóibín
não consigue manter esse ritmo
nem trazer novidade às cenas
mais momentosas.
Outro ponto fraco é sua tentativa de examinar as fontes de inspiração ficcional, cuja dramatização
soa mecânica, tendendo ao psicologismo. Além do mais, o James
que surge das páginas de "O Mestre" é uma figura anódina. Numa
biografia, pode-se chegar à conclusão que se queira a partir do
exame dos fatos, mas, num romance, certas opções estéticas
conduzem ao desinteresse.
O Mestre
Autor: Colm Tóibín
Tradutor: José Geraldo Couto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 52 (440 págs.)
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