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Iván Fischer traz sua orquestra a SP
Conjunto sinfônico de Budapeste apresenta Mozart, Bruckner e Beethoven na Sala São Paulo
Para eslovaco, gravar
música hoje é algo tão
simples quanto tirar
fotografias: "Estou feliz que
isso tenha acontecido"
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O eslovaco Iván Fischer, 56, é
uma espécie de midas entre os
maestros de sua geração: todo
projeto que toca com as mãos
gera gravações de referência,
prêmios discográficos ou produções operísticas exemplares.
Ele está em São Paulo hoje e
amanhã com a Orquestra do
Festival de Budapeste, por ele
criada em 1983 e que se tornou
um dos grandes conjuntos sinfônicos do Leste Europeu.
Os dois concertos -Mozart,
Bruckner, Leo Weiner, Schumann e Beethoven- abrem a
temporada deste ano da Sociedade de Cultura Artística. Ambos serão na Sala São Paulo.
Em conversa com a Folha,
ele nega que seja um maestro
irritadiço, comenta sua relação
com as sinfonias de Mahler e
diz que, dos tempos do comunismo, só sente saudades do
padrão de educação musical.
A seguir, a entrevista.
FOLHA - O sr. tem a reputação de
ser especialmente duro com o músicos. A disciplina é importante para
atingir um padrão elevado?
IVÁN FISCHER - Bem, pelo contrário, eu sempre tratei meus
músicos com muito respeito e
acredito que um comportamento humano e respeitoso é
altamente prioritário. A disciplina coletiva não é um fator
determinante. O importante é
a disciplina que cada músico
traz dentro de si mesmo. O
princípio vale para instrumentistas, regentes, compositores
ou qualquer músico.
FOLHA - Com que idade o sr. se considerou o bastante maduro para interpretar sinfonias de Gustav Mahler? Existem a seu ver sinfonias dele mais fáceis de reger que outras?
FISCHER - Existem sinfonias dele muito difíceis de reger. Eu
nunca o fiz com a "Sétima" ou
com a "Oitava". Mas creio que a
"Quinta" é bem mais difícil que
a "Nona", porque Mahler modificou sua linguagem antes de
escrever a "Sexta", e seu estilo é
inabitualmente complexo.
Com relação a mim, comecei a
me interessar por ele pouco depois dos 20 anos. Regi a "Quarta" com 26. Mas, passadas três
décadas, ainda não consegui
completar o ciclo integral.
FOLHA - Há algo do regime comunista de que o sr. sinta falta?
FISCHER - O comunismo tinha
coisas boas e coisas ruins. O regime apoiava o método educacional Kodaly [Zoltan Kodaly
(1882-1967), compositor e musicólogo] e, por isso, existiam
excelentes conservatórios. Mas
de um modo geral não tenho
razões para sentir saudades.
FOLHA - Das óperas de Mozart que
o sr. regeu, quais as mais exigentes?
FISCHER - Cada uma tem suas
próprias dificuldades. "A Flauta Mágica" e "O Rapto no Serralho" são dificílimas na hora da
escolha do elenco. "As Bodas de
Fígaro" exigem um bom diretor
cênico e "Don Giovanni" precisa de um excelente cantor no
papel-título.
FOLHA - As vendas de CDs estão
em queda. Qual o suporte digital
que o sr. acredita que estará sendo
usado em dez anos e de que maneira isso o afetaria?
FISCHER - Tenho certeza de que
dentro de poucos anos algo
substituirá os CDs. Provavelmente poderemos acessar
qualquer música pela internet,
e ela estará disponível por meio
de um software bem simples,
em celulares ou relógios de pulso. Gravar música já é algo hoje
tão simples quanto tirar fotografias. Estou feliz que isso tenha acontecido.
FOLHA - O sr. tem regido grande
número de estréias. Há alguma clara
direção estética no trabalho desses
compositores ainda vivos?
FISCHER - Os compositores trazem sempre uma marca individual. Mas há uma forte tendência de retorno à tonalidade.
Creio que o século 20 foi longe
demais na tentativa de criar
linguagens cada vez mais difíceis para o ouvido humano.
FOLHA - Há algo -como um compositor, uma peça com coro- que o
sr. gostaria de ter trazido para sua
turnê latino-americana?
FISCHER - As possibilidades são
infindáveis. Sempre programo
peças que interpretamos bem e
que possam agradar ao público
nos locais que visitaremos.
ORQUESTRA DO FESTIVAL DE BUDAPESTE
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, SP; tel. 0/xx/11/ 3223-3966;
televendas tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: R$ 120 a 240; R$ 10 para estudantes com menos de 30 anos, meia
hora antes de cada concerto
Patrocinadores: Companhia Brasileira de Alumínio, Telefônica e Votorantim
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