São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

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Iván Fischer traz sua orquestra a SP

Conjunto sinfônico de Budapeste apresenta Mozart, Bruckner e Beethoven na Sala São Paulo

Para eslovaco, gravar música hoje é algo tão simples quanto tirar fotografias: "Estou feliz que isso tenha acontecido"

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O eslovaco Iván Fischer, 56, é uma espécie de midas entre os maestros de sua geração: todo projeto que toca com as mãos gera gravações de referência, prêmios discográficos ou produções operísticas exemplares.
Ele está em São Paulo hoje e amanhã com a Orquestra do Festival de Budapeste, por ele criada em 1983 e que se tornou um dos grandes conjuntos sinfônicos do Leste Europeu.
Os dois concertos -Mozart, Bruckner, Leo Weiner, Schumann e Beethoven- abrem a temporada deste ano da Sociedade de Cultura Artística. Ambos serão na Sala São Paulo.
Em conversa com a Folha, ele nega que seja um maestro irritadiço, comenta sua relação com as sinfonias de Mahler e diz que, dos tempos do comunismo, só sente saudades do padrão de educação musical. A seguir, a entrevista.  

FOLHA - O sr. tem a reputação de ser especialmente duro com o músicos. A disciplina é importante para atingir um padrão elevado?
IVÁN FISCHER
- Bem, pelo contrário, eu sempre tratei meus músicos com muito respeito e acredito que um comportamento humano e respeitoso é altamente prioritário. A disciplina coletiva não é um fator determinante. O importante é a disciplina que cada músico traz dentro de si mesmo. O princípio vale para instrumentistas, regentes, compositores ou qualquer músico.

FOLHA - Com que idade o sr. se considerou o bastante maduro para interpretar sinfonias de Gustav Mahler? Existem a seu ver sinfonias dele mais fáceis de reger que outras?
FISCHER
- Existem sinfonias dele muito difíceis de reger. Eu nunca o fiz com a "Sétima" ou com a "Oitava". Mas creio que a "Quinta" é bem mais difícil que a "Nona", porque Mahler modificou sua linguagem antes de escrever a "Sexta", e seu estilo é inabitualmente complexo. Com relação a mim, comecei a me interessar por ele pouco depois dos 20 anos. Regi a "Quarta" com 26. Mas, passadas três décadas, ainda não consegui completar o ciclo integral.

FOLHA - Há algo do regime comunista de que o sr. sinta falta?
FISCHER
- O comunismo tinha coisas boas e coisas ruins. O regime apoiava o método educacional Kodaly [Zoltan Kodaly (1882-1967), compositor e musicólogo] e, por isso, existiam excelentes conservatórios. Mas de um modo geral não tenho razões para sentir saudades.

FOLHA - Das óperas de Mozart que o sr. regeu, quais as mais exigentes?
FISCHER
- Cada uma tem suas próprias dificuldades. "A Flauta Mágica" e "O Rapto no Serralho" são dificílimas na hora da escolha do elenco. "As Bodas de Fígaro" exigem um bom diretor cênico e "Don Giovanni" precisa de um excelente cantor no papel-título.

FOLHA - As vendas de CDs estão em queda. Qual o suporte digital que o sr. acredita que estará sendo usado em dez anos e de que maneira isso o afetaria?
FISCHER
- Tenho certeza de que dentro de poucos anos algo substituirá os CDs. Provavelmente poderemos acessar qualquer música pela internet, e ela estará disponível por meio de um software bem simples, em celulares ou relógios de pulso. Gravar música já é algo hoje tão simples quanto tirar fotografias. Estou feliz que isso tenha acontecido.

FOLHA - O sr. tem regido grande número de estréias. Há alguma clara direção estética no trabalho desses compositores ainda vivos?
FISCHER
- Os compositores trazem sempre uma marca individual. Mas há uma forte tendência de retorno à tonalidade. Creio que o século 20 foi longe demais na tentativa de criar linguagens cada vez mais difíceis para o ouvido humano.

FOLHA - Há algo -como um compositor, uma peça com coro- que o sr. gostaria de ter trazido para sua turnê latino-americana?
FISCHER
- As possibilidades são infindáveis. Sempre programo peças que interpretamos bem e que possam agradar ao público nos locais que visitaremos.


ORQUESTRA DO FESTIVAL DE BUDAPESTE
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, SP; tel. 0/xx/11/ 3223-3966; televendas tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: R$ 120 a 240; R$ 10 para estudantes com menos de 30 anos, meia hora antes de cada concerto
Patrocinadores: Companhia Brasileira de Alumínio, Telefônica e Votorantim


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