São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

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Ônibus com espetáculo sobre rua Augusta atrasa e pega trânsito na estréia

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ônibus saiu do ponto inicial com 50 minutos de atraso. Teve os 40 lugares ocupados, mais gente em pé. Enfrentou e também causou congestionamento. Parecia a rotina da cidade em dias úteis, mas era a aventura teatral proposta pelo espetáculo itinerante "Os Dois Lados da Rua Augusta", que a Companhia Satélite estreou sábado à noite.
A produção contornou imprevistos, da falha nos microfones a justamente um ônibus quebrado no caminho. Entre os passageiros, 35 são espectadores da história que começa na esquina das ruas Augusta e Estados Unidos, nos Jardins, atravessa a Paulista e avança até o cruzamento da Augusta com a rua João Guimarães Rosa, no sentido centro.
No roteiro do também ator Dionísio Neto, quatro super-heróis são incumbidos por um oráculo de encontrar um medalhão com a foto do "rei" Roberto Carlos em relevo. A peça teria sido enterrada na rua Augusta. Encontrá-la impedirá que sua memória se apague. As cenas se passam dentro do ônibus, com seis personagens protagonistas, ou do lado de fora, nas paradas em que um coro de 15 atores intervém próximo a endereços como a Galeria Ouro Fino.
O carro da viação Andorinha, normalmente usado para viagens interestaduais, vira cenário adaptado. A lataria é toda revestida de pelúcia cor-de-rosa. As janelas são contornadas por luzinhas. O pára-brisa traz signos religiosos do catolicismo, da umbanda, do budismo etc. Impossível não notar a passagem do veículo que desperta pedestres entusiastas ("Ê, bicharada!") ou agressivos, como um rapaz que atira um objeto na lateral e quase provoca acidente.
O casal Sathiko e Cláudio Reis viaja motivado pela nostalgia da Augusta que freqüentava nos anos 70. "Essa galeria era o point da época", diz a professora Sathiko, 55.
O diretor Ivan Feijó, 38, trata o espetáculo como intervenção urbana. Fala em embaralhar a ilusão do lado Jardins, suas butiques, com a realidade do lado centro, o néon de hotéis, cortiços, garotas de programa e motoristas que emperram o trânsito ao abordá-las. "É como se perdêssemos a ilusão de super-homens, de cidadãos do consumo na sociedade do espetáculo", diz Feijó.
Duas horas e 26 minutos depois, o final da "viagem psicodélica" é celebrado com um batuque. Em seguida, o motorista Sérgio Silva, 39, retorna com o público ao começo -agora sem paradas. Estão previstas sessões de "Os Dois Lados da Rua Augusta" nos dias 21/4 (21h) e 22/4 (19h). A peça é gratuita, com reservas pelo e-mail producao@com panhiasatelite.com.


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