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Ônibus com espetáculo sobre rua Augusta atrasa e pega trânsito na estréia
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ônibus saiu do ponto inicial com 50 minutos de atraso.
Teve os 40 lugares ocupados,
mais gente em pé. Enfrentou e
também causou congestionamento. Parecia a rotina da cidade em dias úteis, mas era a
aventura teatral proposta pelo
espetáculo itinerante "Os Dois
Lados da Rua Augusta", que a
Companhia Satélite estreou
sábado à noite.
A produção contornou imprevistos, da falha nos microfones a justamente um ônibus
quebrado no caminho. Entre
os passageiros, 35 são espectadores da história que começa
na esquina das ruas Augusta e
Estados Unidos, nos Jardins,
atravessa a Paulista e avança
até o cruzamento da Augusta
com a rua João Guimarães Rosa, no sentido centro.
No roteiro do também ator
Dionísio Neto, quatro super-heróis são incumbidos por um
oráculo de encontrar um medalhão com a foto do "rei" Roberto Carlos em relevo. A peça
teria sido enterrada na rua Augusta. Encontrá-la impedirá
que sua memória se apague.
As cenas se passam dentro do
ônibus, com seis personagens
protagonistas, ou do lado de
fora, nas paradas em que um
coro de 15 atores intervém
próximo a endereços como a
Galeria Ouro Fino.
O carro da viação Andorinha, normalmente usado para
viagens interestaduais, vira
cenário adaptado. A lataria é
toda revestida de pelúcia cor-de-rosa. As janelas são contornadas por luzinhas. O pára-brisa traz signos religiosos do
catolicismo, da umbanda, do
budismo etc. Impossível não
notar a passagem do veículo
que desperta pedestres entusiastas ("Ê, bicharada!") ou
agressivos, como um rapaz
que atira um objeto na lateral
e quase provoca acidente.
O casal Sathiko e Cláudio
Reis viaja motivado pela nostalgia da Augusta que freqüentava nos anos 70. "Essa galeria
era o point da época", diz a
professora Sathiko, 55.
O diretor Ivan Feijó, 38, trata o espetáculo como intervenção urbana. Fala em embaralhar a ilusão do lado Jardins,
suas butiques, com a realidade
do lado centro, o néon de hotéis, cortiços, garotas de programa e motoristas que emperram o trânsito ao abordá-las. "É como se perdêssemos a
ilusão de super-homens, de cidadãos do consumo na sociedade do espetáculo", diz Feijó.
Duas horas e 26 minutos depois, o final da "viagem psicodélica" é celebrado com um
batuque. Em seguida, o motorista Sérgio Silva, 39, retorna
com o público ao começo
-agora sem paradas. Estão
previstas sessões de "Os Dois
Lados da Rua Augusta" nos
dias 21/4 (21h) e 22/4 (19h). A
peça é gratuita, com reservas
pelo e-mail producao@com
panhiasatelite.com.
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