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Coleção Folha traz "Pacto Sinistro", de Hitchcock
Longa é baseado em livro de Patricia Highsmith
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Pacto Sinistro", próximo volume da Coleção Folha
Clássicos do Cinema -disponível nas bancas no domingo-,
Alfred Hitchcock mais do que
justifica sua fama de "mestre
do suspense". Ele se faz valer de
seu reconhecido domínio da
linguagem cinematográfica para eletrizar o espectador e, de
quebra, abordar dois de seus
assuntos favoritos: o duplo e a
transferência de culpa.
As duas questões já estavam
amplamente presentes no romance de Patricia Highsmith
que deu origem ao roteiro. A
trama é simples: um homem sinistro aborda um total desconhecido e lhe apresenta o plano
de um crime perfeito. Guy Haynes, jogador de tênis, tem problemas com a ex-mulher, que
lhe recusa o divórcio; Bruno
Anthony, autor da ideia, odeia o
pai. Se um se livrar do problema do outro, não devem ser
descobertos, pois serão assassinatos sem motivos aparentes.
Já nos planos de abertura,
Hitchcock apresenta a questão
do duplo de forma direta, como
mostra o texto do crítico Inácio
Araujo que integra este volume
da coleção: "Vemos pernas se
movendo em direções opostas.
Um sapato escuro, um sapato
claro. Tudo parece colocá-los
em oposição, exceto o fato de
que estamos em uma estação
ferroviária e ambos caminham
na direção de um trem".
Durante a viagem, ocorre o
diálogo que deslancha a história: "Está armada a trama em
vários aspectos, mas especialmente em um. Bruno é capaz
de remeter Guy ao mais fundo
de seus sentimentos. O tenista
recusa o pacto, mas sabemos
que, no fundo, ele deseja a morte da frívola esposa. E o simples
fato de desejar, ainda que de
maneira inconsciente, uma
morte, nos torna potencialmente assassinos. Assim racionava Hitchcock. Assim também raciocinava o charmoso
Bruno".
Bruno, mente doentia, interpreta reações ambíguas de Guy
como um sinal para levar sua
ideia macabra adiante. Quando
este se recusa a realizar sua
parte do plano, Bruno arma para incriminar Guy. É o medo
profundo do típico herói hitchcockiano: ser acusado de um
crime que jamais cometeu.
Protagonistas destacados
Apesar da direção precisa de
Hitchcock, com sua decupagem cuidadosa, nada funcionaria tão bem se não fossem os
atores principais. Farley Granger, como Guy, e Robert Walker, como Bruno, são muito diferentes entre si, mas com um
ponto em comum: são sedutores e charmosos à sua maneira.
É verdade que Hitchcock declarou a François Truffaut que
gostaria mesmo de ter William
Holden no papel de Guy, pois
queria "um homem mais forte",
mas Farley Granger, que já havia trabalhado com o cineasta
em "Festim Diabólico", dá conta do recado e está perfeitamente convincente. Robert
Walker, o vilão Bruno, teve um
fim trágico: morreu no ano seguinte ao lançamento do filme,
vítima de uma reação alérgica
provocada por um calmante.
O livro que acompanha o
DVD traz fotos do filme e ainda
um texto que descreve a produção de "Pacto Sinistro", desde a
compra dos direitos do livro até
a data de seu lançamento. Há
também biografias de Alfred
Hitchcock, Patricia Highsmith
e do elenco principal, além de
comentários dos críticos Roger
Ebert, André Bazin, Claude
Chabrol e Eric Rohmer.
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