São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coleção Folha traz "Pacto Sinistro", de Hitchcock

Longa é baseado em livro de Patricia Highsmith

DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Pacto Sinistro", próximo volume da Coleção Folha Clássicos do Cinema -disponível nas bancas no domingo-, Alfred Hitchcock mais do que justifica sua fama de "mestre do suspense". Ele se faz valer de seu reconhecido domínio da linguagem cinematográfica para eletrizar o espectador e, de quebra, abordar dois de seus assuntos favoritos: o duplo e a transferência de culpa.
As duas questões já estavam amplamente presentes no romance de Patricia Highsmith que deu origem ao roteiro. A trama é simples: um homem sinistro aborda um total desconhecido e lhe apresenta o plano de um crime perfeito. Guy Haynes, jogador de tênis, tem problemas com a ex-mulher, que lhe recusa o divórcio; Bruno Anthony, autor da ideia, odeia o pai. Se um se livrar do problema do outro, não devem ser descobertos, pois serão assassinatos sem motivos aparentes.
Já nos planos de abertura, Hitchcock apresenta a questão do duplo de forma direta, como mostra o texto do crítico Inácio Araujo que integra este volume da coleção: "Vemos pernas se movendo em direções opostas. Um sapato escuro, um sapato claro. Tudo parece colocá-los em oposição, exceto o fato de que estamos em uma estação ferroviária e ambos caminham na direção de um trem".
Durante a viagem, ocorre o diálogo que deslancha a história: "Está armada a trama em vários aspectos, mas especialmente em um. Bruno é capaz de remeter Guy ao mais fundo de seus sentimentos. O tenista recusa o pacto, mas sabemos que, no fundo, ele deseja a morte da frívola esposa. E o simples fato de desejar, ainda que de maneira inconsciente, uma morte, nos torna potencialmente assassinos. Assim racionava Hitchcock. Assim também raciocinava o charmoso Bruno".
Bruno, mente doentia, interpreta reações ambíguas de Guy como um sinal para levar sua ideia macabra adiante. Quando este se recusa a realizar sua parte do plano, Bruno arma para incriminar Guy. É o medo profundo do típico herói hitchcockiano: ser acusado de um crime que jamais cometeu.

Protagonistas destacados
Apesar da direção precisa de Hitchcock, com sua decupagem cuidadosa, nada funcionaria tão bem se não fossem os atores principais. Farley Granger, como Guy, e Robert Walker, como Bruno, são muito diferentes entre si, mas com um ponto em comum: são sedutores e charmosos à sua maneira.
É verdade que Hitchcock declarou a François Truffaut que gostaria mesmo de ter William Holden no papel de Guy, pois queria "um homem mais forte", mas Farley Granger, que já havia trabalhado com o cineasta em "Festim Diabólico", dá conta do recado e está perfeitamente convincente. Robert Walker, o vilão Bruno, teve um fim trágico: morreu no ano seguinte ao lançamento do filme, vítima de uma reação alérgica provocada por um calmante.
O livro que acompanha o DVD traz fotos do filme e ainda um texto que descreve a produção de "Pacto Sinistro", desde a compra dos direitos do livro até a data de seu lançamento. Há também biografias de Alfred Hitchcock, Patricia Highsmith e do elenco principal, além de comentários dos críticos Roger Ebert, André Bazin, Claude Chabrol e Eric Rohmer.


Texto Anterior: Música: Michael Jackson cancela leilão de seus bens
Próximo Texto: Cinema fez adaptações de Highsmith
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.