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"O QUINTO ELEMENTO"
Diretor do filme que abriu o 50º Festival de Cannes veio a São Paulo divulgar a superprodução
"Hollywood é fast-food", afirma Besson
Divulgação
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Gary Oldman
em cena do
filme, que
está batendo
recordes de
bilheteria nos
Estados
Unidos
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PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Luc Besson parece não gostar de
ser chamado de cineasta francês.
Apesar de a nacionalidade estar
correta, ele faz questão de dizer
que a obra de um artista é uma
criação completamente pessoal e
independe de onde ele nasceu.
O cineasta esteve em São Paulo
para divulgar "O Quinto Elemento", filme que abriu o Festival de
Cannes e já é sucesso de bilheteria
na França e nos EUA.
Uma ficção científica ambientada em Nova York, no século 23,
"O Quinto Elemento" mostra a
humanidade lutando contra um
mal supremo vindo do espaço, que
poderá acabar com a vida na Terra.
Segundo o cineasta, apesar de o
filme ser falado em inglês e ter Bruce Willis como protagonista, não é
Hollywood puro. "A maneira que
a indústria norte-americana faz filmes é a mesma pela qual faz comida. É fast-food", disse à Folha, no
hotel Ceasar Park. A seguir, os
principais trechos da entrevista.
Folha - Seu filme parece ter referências e citações a outras produção como "Blade Runner", "Duro
de Matar" e até "Guerra nas Estrelas". Foi intencional?
Luc Besson - Não existem tais
semelhanças, citações. Eu me lembro de uma crítica ao meu primeiro filme. O autor listou inspirações
de cinco filmes e eu não havia visto
nenhum. Fui à locadora para ver
do que ele estava falando.
Folha - Mas não há nenhuma citação?
Besson - Apenas uma, e é uma
piada. O penteado do major que se
passaria por mulher de Korben
Dallas é o mesmo da Princesa Leia.
Foi apenas uma piada. Há três temas na vida: "Hamlet", a Guerra
de Tróia e "Romeu e Julieta", nada mais. Você pode relacionar todos os filmes e livros a esses três
temas. A única coisa que muda é o
ponto de vista do artista que fala
sobre ele. O problema em ficção
científica é que nós temos poucas
referências. Há quatro ou cinco
grandes filmes de sci-fi, como
"Blade Runner", "Alien", "Brazil", "2001 - Uma Odisséia no Espaço".
Onde seu filme inova?
Besson - A novidade é o fato do
artista poder se divertir. A maioria
dos filmes de sci-fi são sérios, assustadores. Esse diz várias coisas
boas com um sorriso o tempo todo. É o acesso à comédia, normalmente não permitido na ficção
científica, a grande mudança.
Folha - Você escreveu a história
quando era adolescente. Porque
resolveu filmá-la agora?
Besson - Eu tinha esse mundo
aos 16 anos. Não era muito feliz no
meu mundo, era chato e eu vivia
sozinho, então escrevia como uma
maneira de escapar. Mas não havia
uma história, não tinha nada a dizer. Quando tinha 30, havia algumas coisas que queria dizer, e pensei que esse século 23 que eu havia
imaginado seria um bom background. O interessante de o filme
se passar no futuro é dizer todas as
coisas, de dizer no passado aconteceu, no presente acontece e pode
acontecer no futuro também. É a
maneira de como esquecemos o
conhecimento. Se você coloca a
ação no futuro, é mais óbvio.
Folha - Qual a essência do filme?
Besson - É caracterizada por
uma fala de Leeloo, que diz: "Qual
a utilidade de salvar vidas quando
se vê o que vocês fazem com ela?".
Para mim, essa é a articulação de
todo o filme. Ela nasce, vê o mundo, gosta dele e aprende o que as
pessoas fazem com a vida.
Folha - Como um cineasta francês...
Besson - Eu sou um cineasta.
Sou francês e sou um cineasta. Arte é uma expressão individual. Não
depende de onde essa pessoa nasceu, do que ela come, sua relação
com seus pais, é uma experiência
totalmente pessoal.
Folha - Mas você fez uma escolha
pelos efeitos especiais, por filmes
hollywoodianos, de ação. Por quê?
Besson - Porque quando se tem
algo importante a dizer, minha filosofia é dizê-lo com um sorriso.
Hoje, se você quer falar com um
garoto de 15 anos sobre guerra e
colocar uma reportagem sobre a
última guerra mundial na televisão, ele vai trocar de canal.Agora,
se você faz com que ele se apaixone
por Leeloo e faz Leeloo chorar em
frente à guerra, ele ficará preocupado. É possível dizer algumas coisas sobre violência, armas, vida,
amor, mesmo parecendo um pouco ingênuo. O final é o resumo de
um filme. Um homem e uma mulher juntos, falando de amor e salvando o amor. E a única coisa que
pode salvar o mundo é esse homem amar essa mulher.
Folha - O que fará agora?
Besson - Nada. Estou de férias.
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