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CINEMA/ESTRÉIA
Algo de podre no império
Divulgação
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Michael Moore em cena do filme, que expõe o fascínio mórbido dos EUA pelas armas |
Michael Moore faz com "Tiros em Columbine" uma obra-prima contra
o pensamento neoconservador
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SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos meses, a onda
neoconservadora que havia
se instalado nos EUA com a vitória de George W. Bush em 2000 e
que ganhara legitimidade depois
do 11 de setembro de 2001 tomou
de assalto a mídia e a indústria do
entretenimento do país.
Atores perderam o emprego
por se manifestar contra a invasão
do Iraque e a direita dá o tom até
em comédias românticas (como
"Encontro de Amor") e não-românticas (como "Sou Espião").
Entre os jornais, o que mais
cresce é o tablóide "The New York
Post", de Rupert Murdoch, dono
também da Fox e da Fox News,
atuais emissoras campeãs de audiência em suas categorias -o
jornalismo praticado pelo trio de
empresas é tão imparcial quanto
o "Granma" cubano.
Neste universo, o roliço agitador de esquerda Michael Moore,
49, virou herói da resistência. Cada filme, cada livro que lança, cada discurso que faz é um pequeno
mas certeiro golpe no pensamento monolítico que ameaça a pátria
das liberdades individuais.
É nesse contexto que seu "Tiros
em Columbine", que estréia hoje,
vira uma obra-prima. O documentário parte do episódio de
1999, em que dois estudantes mataram 12 colegas e um professor e
se suicidaram numa escola pública em Columbine (na noite anterior, tinham ido jogar boliche, daí
a ironia do título original), para
entender o fascínio mórbido que
os EUA nutrem pelas armas.
Apesar de esperto e bem-humorado -é impagável a sequência
em que Moore invade casas de canadenses, para demonstrar como
são menos temerosos que seus vizinhos-, "Tiros" têm defeitos
demais. Erra, por exemplo, ao
mostrar o assédio de Moore a
Charlton Heston, controversa figura que é presidente de honra da
associação de defensores do uso
de armas, mas que sai do episódio
mais simpático e passível de pena
do que queria o diretor.
Mas acerta na essência, ao tentar e quase sempre demonstrar
que as 11 mil mortes por ano relacionadas a armas no país (contra
165 da Inglaterra) ocorrem por
dois motivos: muitos americanos
estão armados, e americanos têm
muito medo, o que interessa a
muitos. (Por exemplo: enquanto
os crimes violentos aumentaram
20% na última década nos EUA, a
cobertura da mídia ao assunto
cresceu 600% naquele período.)
Além disso, merece o nosso respeito qualquer diretor que tenha
sido vaiado na entrega do Oscar.
Tiros em Columbine
Bowling for Columbine
Direção: Michael Moore
Produção: EUA, 2002
Quando: a partir de hoje, nos cines
Cinearte, Espaço Unibanco e circuito
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