São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Pintor construía imagens com olhar fotográfico

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Louis Daguerre anunciou, em 7 de janeiro de 1839, a descoberta da fotografia na Academia de Ciências de Paris, ele não tinha idéia de que mudaria também os rumos da pintura no século 19.
Marcada pelo realismo acadêmico, a pintura da época precisou se reinventar para não competir com a fotografia. Já que o novo suporte conseguia realizar as imagens mais próximas daquilo que se chama realidade, então os pintores passaram a investigar outras maneiras de usar a pintura.
Em 1874, no ateliê do fotógrafo Maurice Nadar, uma exposição de jovens pintores apresentava uma nova forma de expressar a realidade por meio da exploração da representação da luz. Monet, Manet, Renoir, Sisley, Degas e Pissarro participaram dessa mostra inaugural do que se chamou de movimento impressionista.
Enquanto a fotografia apresentava um instante, a pintura impressionista buscava a síntese do movimento. A representação da incidência da luz era a técnica usada pelo conjunto desses artistas para tal construção, o que fez com que o impressionismo fosse apelidado como "arte da sensação rápida".

Movimento
O grupo, no entanto, apresentava divergências entre seus membros, e Edgar Degas (1834-1917) era dos mais originais. Primeiro, porque não cumpria a obrigação de pintar apenas espaços externos, o que era uma forma de crítica ao academicismo de ateliê e das cores sombrias. Degas preferia seguir o conselho que recebeu de seu mestre, o pintor francês Jean Auguste Dominique Ingres (1790-1867): "Nunca pintar na natureza, mas sempre de memória ou dos desenhos dos mestres".
Depois, em sua série sobre bailarinas, Degas, em vez de fugir da fotografia, construía suas imagens com um olhar fotográfico: retratava situações em trânsito, de maneira casual, como se captadas de surpresa, pois sua investigação concentrava-se de fato no estudo do movimento.
Para tal objetivo, o pintor transforma o observador em cúmplice voyerista, já que suas bailarinas parecem flagradas como que secretamente, fugindo, no entanto, de um cunho erótico. Ele pouco se interessa, de fato, pelas bailarinas, mas sim pelo movimento, o uso da cor e a incidência da luz, que foram suas principais marcas. Para tanto, Degas usou mesmo da câmara fotográfica, que ele próprio adquiriu em 1895.
Finalmente, com Degas, segundo o historiador Giulio Carlo Argan, se inicia a transformação da escultura, que ainda permanecia ligada à tradição, e que terá em Rodin (1840-1917), logo em seguida, seu momento mais marcante no início do modernismo.
Filho de banqueiro, o que lhe permitiu certa independência no início da carreira, Degas foi dos poucos impressionistas a alcançar sucesso comercial. O pintor gostava de polêmicas, chegando a acusar Monet de pintor que fazia decoração. Morreu com a pecha de direitista e anti-semita, por ser a favor da condenação do inocente Alfred Dreyfus, no caso que dividiu a França.


Texto Anterior: A chegada ao moderno
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.