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ANÁLISE
Pintor construía imagens com olhar fotográfico
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Louis Daguerre
anunciou, em 7 de janeiro de
1839, a descoberta da fotografia
na Academia de Ciências de Paris,
ele não tinha idéia de que mudaria também os rumos da pintura
no século 19.
Marcada pelo realismo acadêmico, a pintura da época precisou
se reinventar para não competir
com a fotografia. Já que o novo
suporte conseguia realizar as imagens mais próximas daquilo que
se chama realidade, então os pintores passaram a investigar outras
maneiras de usar a pintura.
Em 1874, no ateliê do fotógrafo
Maurice Nadar, uma exposição
de jovens pintores apresentava
uma nova forma de expressar a
realidade por meio da exploração
da representação da luz. Monet,
Manet, Renoir, Sisley, Degas e Pissarro participaram dessa mostra
inaugural do que se chamou de
movimento impressionista.
Enquanto a fotografia apresentava um instante, a pintura impressionista buscava a síntese do
movimento. A representação da
incidência da luz era a técnica
usada pelo conjunto desses artistas para tal construção, o que fez
com que o impressionismo fosse
apelidado como "arte da sensação
rápida".
Movimento
O grupo, no entanto, apresentava divergências entre seus membros, e Edgar Degas (1834-1917)
era dos mais originais. Primeiro,
porque não cumpria a obrigação
de pintar apenas espaços externos, o que era uma forma de crítica ao academicismo de ateliê e das
cores sombrias. Degas preferia seguir o conselho que recebeu de
seu mestre, o pintor francês Jean
Auguste Dominique Ingres (1790-1867): "Nunca pintar na natureza,
mas sempre de memória ou dos
desenhos dos mestres".
Depois, em sua série sobre bailarinas, Degas, em vez de fugir da
fotografia, construía suas imagens com um olhar fotográfico:
retratava situações em trânsito, de
maneira casual, como se captadas
de surpresa, pois sua investigação
concentrava-se de fato no estudo
do movimento.
Para tal objetivo, o pintor transforma o observador em cúmplice
voyerista, já que suas bailarinas
parecem flagradas como que secretamente, fugindo, no entanto,
de um cunho erótico. Ele pouco se
interessa, de fato, pelas bailarinas,
mas sim pelo movimento, o uso
da cor e a incidência da luz, que
foram suas principais marcas. Para tanto, Degas usou mesmo da
câmara fotográfica, que ele próprio adquiriu em 1895.
Finalmente, com Degas, segundo o historiador Giulio Carlo Argan, se inicia a transformação da
escultura, que ainda permanecia
ligada à tradição, e que terá em
Rodin (1840-1917), logo em seguida, seu momento mais marcante
no início do modernismo.
Filho de banqueiro, o que lhe
permitiu certa independência no
início da carreira, Degas foi dos
poucos impressionistas a alcançar
sucesso comercial. O pintor gostava de polêmicas, chegando a
acusar Monet de pintor que fazia
decoração. Morreu com a pecha
de direitista e anti-semita, por ser
a favor da condenação do inocente Alfred Dreyfus, no caso que dividiu a França.
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