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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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Curador da 50ª Bienal de Veneza, Francesco Bonami dissolve a megalomania da mostra e se diz contrário à espetacularização da arte

Regras invertidas

Tony Gentile/Reuters
Visitante diante de obra do britânico Simon J. Starling, na 50ª Bienal de Veneza


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Apesar da grandiosidade da 50ª Bienal de Veneza, aberta ao público na sexta, com cerca de 350 artistas, faltou, para alguns críticos, grandiosidade nas obras, como ocorreu na edição passada, organizada por Harald Szeemann.
Entretanto, essa foi mesmo uma estratégia do curador geral da Bienal, Francesco Bonami, já na escolha do tema "A Ditadura do Observador". "A arte é uma experiência particular. Quem quer viver grandes experiências deve visitar o Grand Canyon. A espetacularização das exposições sempre atrapalha a relação do observador com a obra, e esta foi criada para ser vista por alguém, individualmente", disse o curador.
Assim, Bonami conseguiu dissolver o caráter megalomaníaco das bienais e transformá-las em pequenas mostras, reduzindo também a importância do próprio curador. Essa é a idéia do "arquipélago", conceito usado por Bonami para definir a Bienal.
Cada uma das 11 exposições da Bienal tem uma lógica própria e, em alguns casos, até se opõem. Enquanto "Zona de Urgência", curada por Hou Hanru, com uma significativa participação de artistas chineses, é totalmente caótica, "O Cotidiano Alterado", organizada pelo mexicano Gabriel Orozco, é minimalista até na seleção de artistas, apenas seis, num galpão.
No entanto, se a Bienal apresenta uma nova forma de relação com o público, os pavilhões nacionais continuam ainda buscando impressionar a todo custo. Um bom exemplo é o espaço da Inglaterra, que apresenta Chris Ofili, artista que causou polêmica ao mostrar a Virgem Maria envolta por pequenas vaginas e fezes de elefante na "Sensation". Em Veneza, Ofili apresenta imensas telas bicolores, com forte cenografia.
Anteontem, na abertura oficial, Bonami anunciou os prêmios do evento. O Leão de Ouro pelo conjunto da obra foi entregue aos italianos Carol Rama e Michelangelo Pistoletto. O Leão de Ouro de melhor trabalho foi dado à dupla suíça Peter Fischli e David Weiss. O prêmio de melhor participação nacional foi para Luxemburgo, com o artista Su-Mei Tse. Os britânicos Oliver Payne e Nick Relph venceram como artistas com menos de 35 anos.
A Bienal fica em cartaz até 2 de novembro, outro recorde, pois nunca o evento durou tanto. Tudo para agradar o observador.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da associação BrasilConnects.


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