São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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Meneses depois do pesadelo

Recuperado de cirurgia no pulso, o violoncelista inclui o Brasil em sua intensa agenda de concertos

Chico Porto - 5.set.07/JC Imagem
Antonio Meneses toca em Olinda, em seu Estado natal (PE)

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De um tumor no pulso direito, Antonio Meneses extraiu um livro de memórias.
Mais celebrado instrumentista brasileiro de cordas de todos os tempos, o pernambucano radicado na Basileia (Suíça) resolveu narrar a história de seus 52 anos de vida.
"A ideia não é fazer uma biografia, mas contar coisas importantes que me aconteceram", diz. O músico está sendo auxiliado na empreitada pelos jornalistas João Luiz Sampaio, de "O Estado de S.Paulo", e Luciana Medeiros, assessora de imprensa.
"O livro é uma mistura de memórias pessoais e reflexões sobre música", diz Sampaio. A primeira parte da obra -ainda sem título- conta a trajetória de Meneses da infância à consagração.
Há episódios como a vitória no Concurso Tchaikovski, de Moscou, as gravações com a Filarmônica de Berlim, do mítico regente Herbert von Karajan, e o período com o Beaux Arts Trio.
A segunda metade do livro trata do violoncelo e seu repertório e das atividades pedagógicas de Meneses.

TUMOR BENIGNO
Tudo começou no final do ano passado. "Havia a previsão de operar um tumor benigno que estava crescendo no pulso direito, e a Rosana Lanzelotte [cravista e parceira musical] sugeriu que eu aproveitasse o período que ficaria sem tocar para escrever o livro", conta o músico.
Feita a cirurgia em 29/12, Meneses deu seu depoimento aos jornalistas no começo deste ano. Acompanhada de um CD que está sendo gravado, a obra deve sair pela Algol Editora no final de outubro, quando ele toca na Sala São Paulo, com a Osesp.
Restabelecido da operação e em plena atividade de concertos, ele vem ao Brasil em julho. Estreará no Festival de Inverno de Campos do Jordão um duo com a pianista portuguesa Maria João Pires e lançará um disco gravado com a orquestra britânica Northern Sinfonia.
"O duo com Maria João começou meio por acaso. Eu ia tocar no Brasil com [o pianista] Menahem Pressler [de 86 anos, que foi seu parceiro no Beaux Arts Trio]. Glória Guerra, que é a agente de ambos, fez a intermediação entre nós", conta.
Meneses só vai encontrar a futura parceira em Campos do Jordão. "Minha expectativa é a melhor possível, porque a Maria João tocou música de câmara a vida inteira, e isso faz a diferença."
O concerto marcará o lançamento de seu disco com um par de concertos do mestre austríaco do classicismo Joseph Haydn (1732-1809), ao lado do concertino do pernambucano Clóvis Pereira.
A ser editado internacionalmente pela Avie Records, e aqui pelo selo Clássicos, o CD não tem maestro -Meneses é o diretor musical. "Não faço isso muito, porque as oportunidades não aparecem. De qualquer forma, se houver um bom regente, prefiro trabalhar com ele."
Para 2011, ele prevê o lançamento de um DVD com sonatas do compositor barroco veneziano Antonio Vivaldi (1678-1741), acompanhado do cravo de Lanzelotte e do violoncelo de David Chew.
Ao interpretar o repertório desse período, Meneses emprega seu violoncelo montado da maneira moderna, mas lança mão de um arco barroco, e algumas técnicas interpretativas aprendidas da escola da música "de época".
"Aprendi muito com as ideias do barroco, mas seria falso tentar fazer meu violoncelo imitar o da música antiga", diz. "Eu diria que faço um barroco moderno."


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