São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Antonio Meneses toca na medida exata, sem excessos

Músico se dedica a repertório tradicional, evitando compositores recentes

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Antonio Meneses é um artista que coloca a perfeição à frente da grandeza.
Nesse sentido, é um "clássico", porque nunca se excede: seja numa suíte para violoncelo solo de Bach (1685-1750) ou numa sonata de Beethoven (1770-1827), solando um concerto romântico ou tocando Villa-Lobos (1887-1959), sua arte está sempre na medida exata.
O fraseado é elegante, alongado. Preza a continuidade do discurso, não se detém em minúcias.
Gradua perfeitamente a dinâmica e mantém o som com uma beleza estável, nem muito quente nem muito fria.
Por isso é curioso que tenha gravado -e com excelente resultado- a obra integral para violoncelo e piano de Villa-Lobos justamente com uma musicista de características tão diferentes como a brasileira Cristina Ortiz.
Nascido em Recife, o violoncelista é dois anos mais novo do que Yo-Yo Ma (que, aliás, se apresenta em São Paulo nesta semana), mas, ao contrário do americano, evita o "crossover", assim como experimentalismos contemporâneos: a carreira de Meneses é predominantemente dedicada ao repertório tradicional escrito para o instrumento.
Sua índole camerística permite um saudável contraponto com a frequentemente opressiva agenda de concertos como solista convidado de orquestras ao redor do mundo, trabalho cujo foco está na repetição de poucas obras consagradas (lembremos que o cânone de concertos para violoncelo e orquestra não é muito extenso).
Para um músico que gravou com a tradicional Filarmônica de Berlim aos 24 anos de idade (sob a regência do lendário Herbert von Karajan), é notável como conquistou notoriedade também na música de câmara.
Tradicionalmente, este estilo exige um nível de intimidade, aprofundamento e dedicação nem sempre possível aos virtuoses acostumados a apresentações preparadas com um ou dois ensaios.
Exemplo máximo desse viés foi a sua participação no Beaux Arts Trio, um dos mais importantes conjuntos camerísticos da segunda metade do século 20, no qual atuou durante dez anos.

PARCERIAS
Meneses sempre trabalhou com pianistas de grande qualidade: entre os brasileiros, Gilberto Tinetti, Cristina Ortiz e Celina Szrvinsk, e, entre os estrangeiros, Michael Uhde e Gérard Wyss.
Vale destacar também a colaboração com o Menahem Pressler (líder do Beaux Arts desde 1955), com quem gravou a obra completa de Beethoven para a formação, que rendeu justamente um de seus melhores CDs.
Não há novidades no programa que será apresentado com Maria João Pires no Festival de Inverno de Campos do Jordão, já que todas as obras com violoncelo fazem parte da discografia de Antonio Meneses.
Retornar a certos repertórios em diferentes fases é comum na trajetória dos intérpretes, mas o interesse aumenta quando a presença de um novo parceiro propicia a descoberta de detalhes e nuanças. E ter Maria João ao piano é um excelente ponto de partida nessa direção.


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