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CRÍTICA ERUDITO
Antonio Meneses toca na medida exata, sem excessos
Músico se dedica a repertório tradicional, evitando compositores recentes
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Antonio Meneses é um artista que coloca a perfeição à
frente da grandeza.
Nesse sentido, é um "clássico", porque nunca se excede: seja numa suíte para violoncelo solo de Bach (1685-1750) ou numa sonata de
Beethoven (1770-1827), solando um concerto romântico ou tocando Villa-Lobos
(1887-1959), sua arte está
sempre na medida exata.
O fraseado é elegante,
alongado. Preza a continuidade do discurso, não se detém em minúcias.
Gradua perfeitamente a dinâmica e mantém o som com
uma beleza estável, nem
muito quente nem muito fria.
Por isso é curioso que tenha gravado -e com excelente resultado- a obra integral para violoncelo e piano
de Villa-Lobos justamente
com uma musicista de características tão diferentes como
a brasileira Cristina Ortiz.
Nascido em Recife, o violoncelista é dois anos mais
novo do que Yo-Yo Ma (que,
aliás, se apresenta em São
Paulo nesta semana), mas,
ao contrário do americano,
evita o "crossover", assim como experimentalismos contemporâneos: a carreira de
Meneses é predominantemente dedicada ao repertório tradicional escrito para o
instrumento.
Sua índole camerística
permite um saudável contraponto com a frequentemente
opressiva agenda de concertos como solista convidado
de orquestras ao redor do
mundo, trabalho cujo foco
está na repetição de poucas
obras consagradas (lembremos que o cânone de concertos para violoncelo e orquestra não é muito extenso).
Para um músico que gravou com a tradicional Filarmônica de Berlim aos 24 anos
de idade (sob a regência do
lendário Herbert von Karajan), é notável como conquistou notoriedade também na
música de câmara.
Tradicionalmente, este estilo exige um nível de intimidade, aprofundamento e dedicação nem sempre possível
aos virtuoses acostumados a
apresentações preparadas
com um ou dois ensaios.
Exemplo máximo desse
viés foi a sua participação no
Beaux Arts Trio, um dos mais
importantes conjuntos camerísticos da segunda metade do século 20, no qual
atuou durante dez anos.
PARCERIAS
Meneses sempre trabalhou com pianistas de grande qualidade: entre os brasileiros, Gilberto Tinetti, Cristina Ortiz e Celina Szrvinsk, e,
entre os estrangeiros, Michael Uhde e Gérard Wyss.
Vale destacar também a
colaboração com o Menahem
Pressler (líder do Beaux Arts
desde 1955), com quem gravou a obra completa de Beethoven para a formação, que
rendeu justamente um de
seus melhores CDs.
Não há novidades no programa que será apresentado
com Maria João Pires no Festival de Inverno de Campos
do Jordão, já que todas as
obras com violoncelo fazem
parte da discografia de Antonio Meneses.
Retornar a certos repertórios em diferentes fases é comum na trajetória dos intérpretes, mas o interesse aumenta quando a presença de
um novo parceiro propicia a
descoberta de detalhes e
nuanças. E ter Maria João ao
piano é um excelente ponto
de partida nessa direção.
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