São Paulo, segunda, 16 de junho de 1997.



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Jorge Mautner lança 'Estilhaços de Paixão' na Internet e em CD

da Reportagem Local

O eterno menestrel da MPB Jorge Mautner, 56, apresentou na última quarta-feira, na Funarte, em São Paulo, seu novo disco, "Estilhaços de Paixão".
Inaugurou também sua página na Internet (http:// www.culturalnet.com/jorgemautner/), que dá acesso, desde já, à audição integral do CD, que só deve ser lançado em 16 de julho, pela gravadora Velas.
Não há contradição entre o velho violino e o "cyberspace" dos anos 90, segundo ele. "Eu sempre fui fractal", diz o cantor e compositor carioca.
Identificado na MPB como pertencente ao grupo dos "malditos", Mautner chega ao oitavo disco em 39 anos de carreira.
Exilado no período 1965-1971, só conseguiu gravar seu primeiro álbum na volta ao Brasil, com "Para Iluminar a Cidade" (1972, PolyGram, fora de catálogo).
Os anos pré-exílio, no entanto, mantêm-se presentes no Mautner de 1997: além de estar relançando seu primeiro livro, "Deus da Chuva e da Morte", de 1962, coloca no novo disco composições esquecidas desde o início de sua carreira.
"A música que dá título ao disco é uma inédita de 1958, muito existencial, um bolero filosófico. Acho que ela não perdeu a atualidade, a atualidade é agora."
Outras dessa mesma safra são "Quando a Tarde Vem" ("um Tom Jobim enlouquecido") e "Olhar Bestial", composta em 1958 e lançada antes em versão ao vivo em "Para Iluminar a Cidade". "Mas lá só havia um pedaço. Gravo inteira pela primeira vez."
Não-inéditas também são "Orquídea Negra", que Zé Ramalho lançou em disco homônimo, no início dos 80, "Viajante", gravada antes por Fagner, e "A Bandeira do Meu Partido", homenagem ao PC do B que Mautner lançou antes em "Antimaldito" (1985).
A única peça que não é de sua autoria (solo ou com o eterno parceiro Nelson Jacobina, também arranjador do álbum) é "Dona Catulina". "O Boi", só lançada em compacto em 1977, Mautner considera "semi-inédita".
Trata-se de poema de Castro Alves que Mautner fundiu a um tema folclórico nordestino para homenagear o pernambucano Chico Science, morto no início do ano (que havia gravado, em seu último disco, o "Maracatu Atômico" de Mautner).
"Ele era formidável, genial. Ele ter gravado 'Maracatu Atômico' comprova, modéstia à parte, a atualidade do velho profeta", diz.
As restantes entre as 15 faixas de "Estilhaços de Paixão" são inéditas ("tenho 2.000 páginas publicadas, mas pelo menos 15 mil inéditas em baú").
"Canto do Espanto" traz o vocal do cantor Celso Sim, parceiro de Mautner no disco anterior, "Pedra Bruta" (1992).
Mautner mostra-se satisfeito com o resultado do primeiro CD em cinco anos: "É o mais clássico de todos que fiz. Estou cantando bem, as condições de estúdio foram boas, há menos dissonância".
Na homepage, confessa quase não ter encostado. O trabalho foi feito por João Ramires e inclui, além do novo disco completo, texto biográfico sobre Mautner, discografia (os trabalhos em catálogo podem ser ouvidos pela rede), bibliografia e letras cifradas de algumas de suas canções.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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