São Paulo, terça, 16 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCO - LANÇAMENTOS
Selo Rhino abre seu baú de soul music no Brasil


CARLOS CALADO
especial para a Folha

O selo norte-americano Rhino, especialista em compilações de música pop, chega oficialmente ao mercado brasileiro com o primeiro suplemento fabricado no país.
Astros da soul music dos anos 60 comandam o pacote, que inclui Ray Charles, Otis Redding, Wilson Pickett, Ben E. King, Percy Sledge e Carla Thomas. As gravações pertencem ao precioso catálogo da gravadora nova-iorquina Atlantic, que dominou esse filão até o estabelecimento da inovadora Motown, de Detroit.
A cantora Aretha Franklin (leia abaixo crítica de seu novo disco) ganha destaque especial nesse pacote, com a reedição de três álbuns da melhor fase de sua carreira.
"I Never Loved a Man the Way I Love You" (1967) já começa com o hit "Respect", marco da virada de página que Aretha liderou na soul music. Fundindo o fraseado emocional do gospel com a sensualidade do rhythm & blues e a sofisticação do jazz, ela apontou um novo sentido ao pop negro.
"Lady Soul" (1968) é quase uma antologia de hits. Além dos sucessos "Chain of Fools", "(You Make Me Feel Like) A Natural Woman", "Since You've Been Gone" e "Ain't No Way", traz participações dos guitarristas Eric Clapton e Bobby Womack.
Já o conceitual "Hey Now Hey (The Other Side of the Sky)" foi o álbum menos popular de Aretha durante seu período na Atlantic. Lançado em 1973, com produção e arranjos do maestro Quincy Jones, revela o lado mais jazzístico da Lady Soul.
O CD "The Genius of Ray Charles" também conta com arranjos de Quincy Jones. Gravado em 1959, traz o cantor, pianista e pioneiro inventor da soul music à frente de uma "big band", interpretando standards jazzísticos. Mas começa com um clássico do R&B: a dançante "Let the Good Times Roll".
Lançado originalmente em 1965, "In the Midnight Hour" empresta o título a um dos maiores sucessos do cantor Wilson Pickett -dono de uma das vozes mais ácidas e carismáticas do gênero.
Na verdade, trata-se praticamente de uma antologia, com gravações feitas entre 1961 e 1965, que incluem a fase em que Pickett e Eddie Floyd integravam o grupo vocal The Falcons. Naquela época, os álbuns ainda não passavam de meras reuniões de singles, gravados em diversas épocas.
Algo semelhante acontece com o álbum de Otis Redding. "The Dock of the Bay" (1968) aproveita o título e o estrondoso sucesso do single lançado logo após a morte trágica do cantor, em um acidente de avião. Da noite para o dia, Redding virou mito.
Para completar o álbum, entraram outras 10 faixas (como "Let Me Come on Home"), que mofavam nos arquivos do selo Stax/Volt desde 1965, esperando a vez de virarem vinil.
No mesmo avião em que o eletrizante soulman da Georgia morreu também estavam quatro integrantes da banda que o acompanhava nos shows: os Bar-Kays.
Gravado pela banda poucos meses antes do acidente, o álbum "Soul Finger" é uma deliciosa sessão de soul music instrumental. Só possui um pequeno problema: em vários momentos, tem-se a impressão de que Otis Redding vai entrar cantando. Pena que isso não chegue a acontecer.
Outros dois pesos-pesados do gênero são retratados em antologias intituladas "The Very Best of". Autor do megahit "When a Man Loves a Woman", Percy Sledge é um desbragado narrador-intérprete de casos de amores perdidos ou impossíveis.
Já o eclético Ben E. King, conhecido pelo hit "Stand By Me", começou cantando no grupo vocal The Drifters e, nos anos 70, desembocou na dance music ("Supernatural Thing - Part 1").
Mais reduzido no pacote, além de Aretha Franklin, o time feminino tem ainda duas representantes. Apelidada de "rainha do soul de Memphis", Carla Thomas exibe sua versatilidade no álbum "The Queen Alone" (1967), interpretando várias canções da dupla Isaac Hayes & David Porter, como "I Want to Be Your Baby".
Já o quarteto vocal Sister Sledge, grande sucesso da era disco, contou com a produção de Nile Rodgers e Bernard Edwards (da banda Chic), no CD "We Are Family".
Ao final da audição desses 11 CDs da Rhino, sobra uma certeza. Apesar de ter sido ofuscado pelo brilho comercial da Motown, em termos essencialmente musicais, o elenco da Atlantic não devia nada ao da gravadora negra de Detroit.


Pacote: Rhino/Atlantic
Lançamento: Continental
Quanto: R$ 18, em média, cada CD



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.