São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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DANÇA
Reestruturação do Municipal causou mudança, diz secretário da Cultura; Ivonice Satie será a diretora artística
Possi Neto é afastado do Balé da Cidade

Leonardo Colosso/Folha Imagem
José Possi Neto, que está deixando a direção do Balé da Cidade de SP


ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

José Possi Neto está deixando a direção artística do Balé da Cidade de São Paulo (BCSP). O afastamento foi comunicado à imprensa anteontem por Rodolfo Konder, secretário da Cultura do Município de São Paulo, que dois anos atrás convidou Possi para substituir Ivonice Satie, que voltará a dirigir a companhia oficial paulista.
O vaivém na direção do Balé da Cidade de São Paulo ocorre, segundo Konder, em razão de um processo de reestruturação interna do Teatro Municipal, conduzido por Vicente Amato Neto, que no início deste ano passou a dirigir a casa de espetáculos na qual o balé está sediado.
"Trata-se de uma mudança de cunho administrativo, que visa atender às necessidades do novo diretor do Teatro Municipal", diz Konder.
"Amato precisa de alguém em tempo integral e eu tenho que zelar pela disciplina do cargo. A atual situação da prefeitura está gerando uma cobrança maior quanto à assiduidade no trabalho, e os compromissos de Possi como diretor teatral não lhe permitem dedicação exclusiva ao balé."
Segundo Konder, a decisão de mudar a direção do BCSP corresponde a um "casamento de interesses" entre a Secretaria Municipal da Cultura, Vicente Amato Filho e o próprio Possi, que continuaria colaborando com o Teatro Municipal em produções especiais, como a direção de óperas.
"Percebi que Possi deixaria o balé já no ano passado, quando ele vinha demonstrando insatisfações", explica Amato.
"Acho que agora chegamos a uma solução perfeita, porque queremos contar com o talento de Possi em outros projetos."
José Possi Neto, no entanto, afirma que "jamais aceitou sair do balé". "Não houve decisão comum. Poucos dias atrás, Amato propôs que eu saísse do BCSP, mas que continuasse trabalhando com ele num cargo que não existe. Eu desconversei, porque não entendi. Tenho um compromisso com a dança e com o elenco e não pretendia abandonar o barco no meio do caminho", diz Possi.
"Estou chocado porque agora percebo que Konder e Amato vinham cogitando minha saída sem que nada fosse discutido comigo diretamente. Sou um diretor de música, dança e teatro que atua com independência. Não estou fazendo política, não tenho agentes, nem o rabo preso", ele salienta.
Possi afirma que não deixaria a direção do BCSP para ocupar outras funções no Teatro Municipal. "Desde que fui nomeado diretor do grupo de balé, a prefeitura vive um caos político e econômico. Pude constatar internamente a confusão dessa gestão e, ainda que houvesse, eu não mais aceitaria cargos."
Quanto à falta de dedicação exclusiva ao BCSP, Possi lembra que essa condição foi aceita pela secretaria desde a sua nomeação. "Mas, apesar de meus compromissos como diretor de teatro, eu vinha recusando trabalhos que pudessem prejudicar minha atuação no balé. No ano passado não aceitei, por exemplo, dirigir a peça "As Três Irmãs", de Tchecov, que acabou sendo dirigida por Bia Lessa."
Sobre a falta de dedicação exclusiva de outro artista subordinado à Secretaria Municipal da Cultura -o maestro Isaac Karabtchevsky, que, além de dirigir a Orquestra Sinfônica Municipal, também é diretor do Teatro La Fenice de Veneza (Itália)- Konder justifica: "Karabtchevsky dirige nossa orquestra, mas não tem cargo, é pago por apresentação. Quanto ao Possi, o considero um profissional competente, sério, criativo, e quero tê-lo junto de nós".


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