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MÚSICA
Núcleo de produção lança "Coleção Nacional", com convidados especiais de rap e mangue beat
Instituto questiona a autoria em CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Involuntariamente, o grupo
Instituto vem jogar mais pimenta
na acalorada discussão da MPB
sobre numeração de discos, autoria, direito autoral, formatos musicais, renovação artística etc.
Nem é que os quatro rapazes organizados em torno do também
nascente selo Instituto tenham
opinião firme sobre tais assuntos.
Sua intervenção nasce já a partir
da dificuldade de conceituar o
que eles são e o que é seu primeiro
disco, "Coleção Nacional".
Rica Amabis, 28, Tejo Damasceno, 26, e Daniel Ganja Man, 24,
são produtores musicais em São
Paulo. Rodrigo Silveira, 24, é programador visual. Juntos, não formam um grupo musical, dizem.
"Instituto é um selo, um estúdio
e um projeto musical", tenta explicar Silveira. " "Coleção Nacional" é uma coletânea que produzimos para apresentá-lo", continua
Damasceno. "Instituto é um núcleo de produção. É um conceito
novo", atalha Amabis, hesitante.
Embora mais ou menos novatos, os rapazes já têm militância
no novo pop. Atuam na produção
técnica do recém-lançado CD dos
Racionais. Co-produziram a trilha do filme "O Invasor", estrelada pelo rapper Sabotage. Assinarão seis faixas do novo da Nação
Zumbi. Rica Amabis lançou o CD
solo "Sambadelic" (99).
"A gente não é banda, nem artista. Sou produtor e programo
samples. Ganja Man é produtor,
mas também é músico", define
Damasceno. "Eu sou mais produtor e técnico de som, não me considero músico", afirma Amabis.
"É uma cultura em que o produtor acaba virando um pouco artista", admite enfim Damasceno.
O texto de apresentação do disco para a imprensa, elaborado pelo produtor e jornalista Alex Antunes, é mais incisivo: "O que é
um produtor, o que é um DJ, o
que é um artista solo, o que é um
"projeto'? Na música pop atual as
barreiras entre categorias vêm
sendo anarquicamente borradas
e ignoradas por uma geração para
quem a tecnologia é apenas um isqueiro para acender o rastilho da
criatividade, e a "assinatura" é
mais uma oportunidade para bagunçar a noção de autoria".
Continua Antunes: "Remixes
em que não aparece nada da gravação original, ou a aparição do
chamado "bastard pop", onde moleques simplesmente acoplam
samples de duas ou mais músicas,
à revelia de gravadoras, para criar
um hit instantâneo pela internet
-este é um mundo de pesadelo
para os carcereiros da cultura".
Os próprios "moleques" do Instituto tratam de jogar água fria
pessimista no entusiasmo teórico
de Antunes: "Alex é louco para inventar movimento e colocar manifesto em tudo", ri Amabis. "Só
queremos juntar uma galera que
curte os mesmos sons -samba,
reggae, eletrônica, hip hop, um
pouco de jazz", simplifica.
A "galera" não é nada pequena.
Alternam-se por 14 faixas, quase
sempre sob supervisão do núcleo
central, nomes de vanguarda do
hip hop (Sabotage, Rappin"
Hood, Z'África Brasil, BNegão, Zé
Gonzales), expoentes do mangue
beat (Fred Zero Quatro, Otto, Nação Zumbi sob o pseudônimo Los
Sebosos Postizos), garotos pós-mangue beat (Bonsucesso Samba
Clube), artistas pop gaúchos (o
lunático Flu, membros do Ultramen e da Comunidade Nin-Jitsu,
reunidos sob o apelido Traidores
da Babilônia), cânones da tradição (Cila do Coco) etc.
Também a explicação para tamanha congregação de músicos é
prosaica. "Parece que foi complicado fazer, mas não foi. Todo
mundo é amigo, aparece em casa.
Nós íamos gravando", conta Damasceno, dono da casa/ estúdio/
gravadora/instituto.
Um dos preceitos do Instituto é
intervir sobre o trabalho de cada
convidado. Sabotage canta samba, a letra de Rappin" Hood praticamente desaparece na mixagem
final, Fred Zero Quatro vai de reggae, o rapper Fernandinho Beatbox (do Z'África Brasil) faz percussão vocal em tempo de samba
etc. "O CD todo é de gente fazendo coisas que não faz normalmente", diz Damasceno.
A autoria vira conceito esfumaçado também no imaginário visual de "Coleção Nacional", que
retrata pessoas em situações cotidianas, mas sempre com o rosto
escondido por toalha branca com
logotipo vermelho do Instituto.
Se isso simboliza o processo de
extinção do autor, nem aí os rapazes são afirmativos: "É uma brincadeira não premeditada, que
tem rendido várias interpretações", diz Silveira. "As fotos brincam também com o terrorismo,
com não ser identificado", entrega Damasceno. "Quem são os caras por trás das toalhas?", pergunta Silveira. São o Instituto.
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