São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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As meninas


Sai pela Cosac & Naify "Meninas do Brasil", livro de fotografias da documentarista Mari Stockler


ANA WEISS
DA REDAÇÃO

As meninas inesquecíveis da história da arte aparecem normalmente em duas situações: em ajuntamentos (festas, piqueniques, bailes) ou em momentos que precedem os ajuntamentos (em frente a espelhos, arrumando as roupas de festa, piquenique, baile). São assim "As Meninas" de Diego Velázquez (1599-1660), "Les Demoiselles d'Avignon", de Pablo Picasso (1881-1973) e as várias bailarinas de bronze de Edgar Degas (1834-1917).
"Meninas do Brasil", que ainda não faz parte dessa história, enquadra essas mesmas situações protagonizadas por jovens damas dos morros cariocas e periferias do Brasil afora. O livro de fotografias, com mais ou menos 300 flagrantes da documentarista paulista Mari Stockler, será lançado amanhã pela Cosac & Naify na livraria Siciliano.
As meninas também estão à vista no Pavilhão da Bienal em formato de exposição para os convidados da SP Fashion Week, que guarda 206 imagens escolhidas entre as mais de mil que a fotógrafa começou a colecionar em 94, em Belford Roxo, Rio.
Por que no evento de moda, meninas? Porque a lente da máquina Xereta da fotógrafa angulou, mais que tudo, os trajes de baile (funk, principalmente) das meninas do Brasil: aquelas blusinhas decotadas e justas, que sai verão entra inverno continuam imperando, não nas revistas, mas nos armários femininos, mais do que qualquer peça chamada "básica" pelos frequentadores do SPFW.
A roupa é linha mestra da pesquisa de quase oito anos de Mari Stockler, que começou a notar o padrão "no vestir" das meninas quando trabalhava na produção do "Brasil Legal", de Regina Casé, no começo dos anos 90.
Então, com a pequena máquina, enfronhou-se em ajuntamentos como o Emoções, na favela da Rocinha, o Dream Express, casa de samba-rock em São Paulo, nos arredores dos ensaios de escolas de samba (onde as meninas que não têm dinheiro para entrar aproveitam a música que vaza das quadras). "Também falei com muita gente que produz essa moda", diz a autora, referindo-se aos alfaiates das peças de lycra e alcinha que vestem suas meninas.
Das moças do começo deste texto, as de Picasso talvez sejam das que os retratos dela mais se aproximam. Stockler registrou praticamente tudo o que está no livro na posição de menina também: fotografou dançando, andando, muito próxima de suas personagens, assim como, guardadas as devidas proporções, as "Demoiselles" (ícone do nascente cubismo do início do século 20), as da fotógrafa estão próximas de quem vê, como em um "zoom".
Muitas delas, por isso, aparecem fora de foco e com cortes estranhos, o que pode desagradar alguns conhecedores de fotografia. Mas Matisse também não gostava muito do quadro do colega e falou mal dele quando ficou pronto. Alguém se lembra?


MENINAS DO BRASIL - livro de fotografias de Mari Stockler. Editora: Cosac & Naify. Preço: R$ 35 (304 págs.). Lançamento: amanhã, às 18h, na livraria Siciliano (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, portão 3 do parque Ibirapuera, tel. 0/xx/ 11/3218-1468).



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