São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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Consórcio antipop

Nova cena paulistana cresce com o espírito "faça você mesmo" e medo do estrelato

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça tudo o que você sabia sobre pop -já não é mais assim. Uma cena nova, viva e ativa cresce sob os escombros da indústria fonográfica, muitas vezes zombando dos conceitos a que aquela mesma indústria nos acostumou.
Uma dessas cenas se plantou no bairro paulistano da Vila Mariana, desdenhando da esterilidade e do individualismo da música de São Paulo nos anos 90. Já rende uma gravadora (Reco-Head), 11 discos e uma profusão de grupos que vivem em esquema de rodízio de integrantes, estilos e temas. E tem uma banda-símbolo, que começa a ficar popular, apesar do medo de sê-lo: Jumbo Elektro.
O chefe do coletivo é Arthur Joly, 27, que administra a Reco-Head com base no estúdio que montou no fundo da casa de seus pais. De lá conquistou a veterana Elza Soares, com quem gravou o disco mais "célebre" da gravadora, o ousado "Vivo Feliz" (2003).
Além de dono do selo, Joly toca nos grupos Tchucbandionis, Laboratório (ou Labo) e Mugomango (na verdade, um grupo de um homem só). Do Labo, participam também outros cérebros da turma, Marcelo Ozorio, 29, Daniel Setti, 25, e Guab, 28.
Esses nomes (e outros vários) vão se repetir nas bandas Jumbo Elektro, Cérebro Eletrônico, Rabo de Galo Trio etc. Intercalam pop-rock, tropicália, eletrônica, jazz, muita música instrumental.
Os vocais ora não existem, ora são sujos e tortos, como é caso da Cérebro Eletrônico, que acaba de lançar o CD "Onda Híbrida Ressonante", de idolatria ao maestro Rogério Duprat e aos Mutantes, entre outros tropicalistas. Uma repulsa à figura do líder cantor carismático que move multidões parece mover todos os projetos.
Ainda assim, os vocais do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro (cujo disco de estréia deve sair em agosto) são ocupados por um novo protótipo de (anti) popstar.
Ele tem 29 anos, é tímido, consome vorazmente o roteiro paulistano de shows, tem visual hippie, usa boina tipo clube da esquina e se chama Tatá Aeroplano (ex-Airplane, dos tempos em que amava "Surrealistic Pillow", do Jefferson Airplane). Para o Jumbo Elektro, criou uma linguagem que parodia o inglês, mas não significa nada -o "embromation".
Mais ainda que seus colegas de turma, Tatá é o homem das mil bandas. Está na Chill-Out Company, que nasceu das suas noites de freqüentador de raves de trance. Está na Luz de Caroline, toca com o baiano Moisés Santana. Em cada uma adota uma persona, mas todas têm um traço comum: Tatá toca brinquedos, dos quais extrai efeitos de sintetizador.
No Jumbo, em que todos os sete integrantes têm nomes e trajetórias inventadas, ele já foi Mr. Em Off, mas virou Frito Sampler após um sonho. "Sonhei que estava numa rave e chegava um moleque todo empolgado, "pô, você é o Frito Sampler do Jumbo Elektro!". Mandei o sonho pro pessoal por e-mail, virei Frito Sampler", conta o anti-astro, que, ao tentar se ver de fora, traz à mente a figura do (anti) tropicalista Tom Zé.


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