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Consórcio antipop
Nova cena paulistana cresce com o espírito "faça você mesmo" e medo do estrelato
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça tudo o que você sabia
sobre pop -já não é mais assim.
Uma cena nova, viva e ativa cresce
sob os escombros da indústria fonográfica, muitas vezes zombando dos conceitos a que aquela
mesma indústria nos acostumou.
Uma dessas cenas se plantou no
bairro paulistano da Vila Mariana, desdenhando da esterilidade e
do individualismo da música de
São Paulo nos anos 90. Já rende
uma gravadora (Reco-Head), 11
discos e uma profusão de grupos
que vivem em esquema de rodízio
de integrantes, estilos e temas. E
tem uma banda-símbolo, que começa a ficar popular, apesar do
medo de sê-lo: Jumbo Elektro.
O chefe do coletivo é Arthur
Joly, 27, que administra a Reco-Head com base no estúdio que
montou no fundo da casa de seus
pais. De lá conquistou a veterana
Elza Soares, com quem gravou o
disco mais "célebre" da gravadora, o ousado "Vivo Feliz" (2003).
Além de dono do selo, Joly toca
nos grupos Tchucbandionis, Laboratório (ou Labo) e Mugomango (na verdade, um grupo de um
homem só). Do Labo, participam
também outros cérebros da turma, Marcelo Ozorio, 29, Daniel
Setti, 25, e Guab, 28.
Esses nomes (e outros vários)
vão se repetir nas bandas Jumbo
Elektro, Cérebro Eletrônico, Rabo
de Galo Trio etc. Intercalam pop-rock, tropicália, eletrônica, jazz,
muita música instrumental.
Os vocais ora não existem, ora
são sujos e tortos, como é caso da
Cérebro Eletrônico, que acaba de
lançar o CD "Onda Híbrida Ressonante", de idolatria ao maestro
Rogério Duprat e aos Mutantes,
entre outros tropicalistas. Uma
repulsa à figura do líder cantor carismático que move multidões
parece mover todos os projetos.
Ainda assim, os vocais do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro (cujo disco de estréia deve sair
em agosto) são ocupados por um
novo protótipo de (anti) popstar.
Ele tem 29 anos, é tímido, consome vorazmente o roteiro paulistano de shows, tem visual hippie, usa boina tipo clube da esquina e se chama Tatá Aeroplano
(ex-Airplane, dos tempos em que
amava "Surrealistic Pillow", do
Jefferson Airplane). Para o Jumbo
Elektro, criou uma linguagem que
parodia o inglês, mas não significa nada -o "embromation".
Mais ainda que seus colegas de
turma, Tatá é o homem das mil
bandas. Está na Chill-Out Company, que nasceu das suas noites
de freqüentador de raves de trance. Está na Luz de Caroline, toca
com o baiano Moisés Santana.
Em cada uma adota uma persona,
mas todas têm um traço comum:
Tatá toca brinquedos, dos quais
extrai efeitos de sintetizador.
No Jumbo, em que todos os sete
integrantes têm nomes e trajetórias inventadas, ele já foi Mr. Em
Off, mas virou Frito Sampler após
um sonho. "Sonhei que estava numa rave e chegava um moleque
todo empolgado, "pô, você é o Frito Sampler do Jumbo Elektro!".
Mandei o sonho pro pessoal por
e-mail, virei Frito Sampler", conta
o anti-astro, que, ao tentar se ver
de fora, traz à mente a figura do
(anti) tropicalista Tom Zé.
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