São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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FILMES

TV PAGA


"Sobre Meninos e Lobos" transluz duplicidade da vida

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Às vezes alguém pergunta por que mesmo os filmes menores de Clint Eastwood merecem elogios dos críticos. A resposta é muito simples: basta compará-lo aos filmes da maior parte dos outros realizadores. No drama, no melodrama, no faroeste, Eastwood sempre tem um ponto de vista próprio a expor, algo a desenvolver que preserva a coerência do conjunto de sua obra.
Não importa tanto qual a origem do argumento de "Sobre Meninos e Lobos" (HBO, 21h), por exemplo. Na história dos três amigos de infância que se reencontram na maturidade, Eastwood coloca seu olhar pessoal com muita ênfase.
Vejamos: Sean Penn é o ex-criminoso cuja filha é assassinada. Kevin Bacon é o que se tornou policial e investiga o caso. Tim Robbins é aquele que, em menino, foi violentado por um padre e que hoje ainda convive com esse trauma. Ele é, por isso mesmo, o principal suspeito do assassinato.
O desenvolvimento da trama é razoavelmente vulgar, assentando-se em mal-entendidos. No entanto, o filme nos interessa e nos prende a atenção. É possível que isso se dê, ao menos em parte, devido à atuação do elenco -que é uma virtude de diretor, diga-se.
Mas existe, antes de tudo, esse apego de Eastwood à duplicidade da vida. Seus personagens sempre têm duas vidas. É o caso, aqui, de Tim Robbins: sua primeira vida ficou na infância, precede o momento da violentação. A segunda vem depois. A segunda, no mais, dificilmente pode ser chamada de vida: ele tornou-se um fantasma. Sua existência é somente a confirmação da morte moral que o atingiu na infância.
Por que ele sente as coisas assim? O filme não explica. Há um quê católico nisso, é evidente: se algo de ruim acontece, a culpa deve recair sobre a vítima. É assim também em "O Homem Errado", de Hitchcock, não é? Eastwood coloca-se aqui, bem incisivamente, como um cineasta "à altura do homem". Ou seja: em briga com Deus.

TV ABERTA

Freira ajuda criminoso em "Os Últimos Passos de ..."

Querida, Nós Encolhemos
SBT, 14h15.
(Honey, We Shrunk Ourselves). EUA, 1996, 74 min. Direção: Dean Cundley. Com Rick Moranis, Eve Gordon. Depois de encolher e esticar crianças, o cientista Moranis faz ele e a mulher encolherem. A idéia, que também não é assim tão grande, também vai encolhendo. Feito para TV.

O Homem da Música
SBT, 16h.
(The Music Man). EUA, 2003 ,150 min. Direção: Jeff Bleckner. Com Matthew Broderick, Kristin Chenoweth, Debra Monk. Vendedor ambulante travestido de professor de música chega a pequena cidade disposto a aplicar um golpe nos moradores locais: diz que formará uma banda, ensinando a garotada local por método revolucionário e já trata de embolsar o dinheiro dos instrumentos e tal. Mas ele se apaixona pela bibliotecária, e toda a história vai mudar. Antigo sucesso da Broadway em filme para a TV. A observar. Inédito.

Os Últimos Passos de um Homem
Record, 22h.
(Dead ManWalking). EUA,1995, 121 min. Direção: Tim Robbins. Com Susan Sarandon, Sean Penn, Robert Prosky. Freira recebe pedido de ajuda de um condenado à morte. Topa e, entre outras, passa a escutar todas as atrocidades que cometeu. O lance do filme é levar o espectador a concluir que, por mais detestável que seja o criminoso, a pena de morte continua sendo uma barbárie. É mais fácil concordar com a idéia do que acompanhar o filme.

D-Tox
Globo, 23h.
(D-Tox). EUA, 2000, 96 min. Direção: Jim Gillespie. Com Sylvester Stallone, Tom Berenger, Polly Walker. Stallone em maré de azar. Está numa clínica, recuperando-se de trauma sofrido nas mãos de criminoso, quando o local se transforma em alvo de um serial killer. Aí é curar rapidinho do estresse ou morrer.

Apocalipse - Terror em Berlim
SBT, 23h30.
(Apokalipso - Bombbentimmung in Berlin). Alemanha,1999, 95 min. Direção: Martin Walz. Com Armin Rohde, Amalie Bizer. Seita acredita que, na virada do milênio, só um belo sacrifício pode salvar a humanidade. Em vista disso, decide matar a poder de bombas a primeira criança nascida em Berlim no ano 2000. Inédito.

Na Mira do Inimigo
SBT, 1h20.
(Four Dogs Playing Poker). EUA, 2000, 98 min. Direção: Paul Rachman. Com Olivia Williams, Balthazar Gety, Forrest Whitaker. Quatro ladrões e amigos, pilhados após roubarem uma estatueta de Degas em Buenos Aires, são forçados pelo colecionador Whitaker a aparecer com US$ 1 milhão. A única maneira de isso acontecer é levantando o dinheiro do seguro de vida. Para tanto, seria preciso que um deles morresse.

Escrava do Prazer
Bandeirantes, 2h30.
(Call Girl). EUA, 1995, 85 min. Direção: Robert Spera. Com Melanie Hall, Vincent Dale. Fotógrafa talentosa vê sua exposição fracassar. Sem um tostão furado no bolso, torna-se "call girl", enfrentando os perigos atinentes à prostituição e aos filmes vagabundos.

O que Terá Acontecido a Baby Jane?
SBT, 3h10.
(What Ever Happened to Baby Jane?). EUA,1962, 132 min. Direção: Robert Aldrich. Com Bette Davis, Joan Crawford. Bette, a Baby Jane, ex-menina prodígio, assiste, em idade madura, o sucesso fulgurante da irmã (Crawford), enquanto seus filmes fracassam miseravelmente. Aí ela dá início a um festival de atrocidades contra a irmã, que fazem de "Baby Jane" um exemplo do terror em ritmo de Grand Guignol. Em branco-e-preto. Só para São Paulo. (IA)


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