São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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CINEMA
Definido pelo diretor gaúcho Carlos Gerbase como um "thriller intimista", filme traz Maitê Proença
"Tolerância" discute sexo e crime


JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Porto Alegre

Quinze anos depois de ter realizado (com Giba Assis Brasil) o marco do cinema gaúcho "Verdes Anos", o cineasta Carlos Gerbase, 40, volta ao longa-metragem com "Tolerância".
É também o primeiro longa da Casa de Cinema, produtora porto-alegrense que realizou nos últimos 12 anos os mais premiados curtas brasileiros do período.
Definido pelo próprio Gerbase como um "thriller intimista", "Tolerância" está sendo rodado em Porto Alegre e tem Maitê Proença, Roberto Bontempo, Maria Ribeiro e Nelson Diniz nos papéis principais.
O filme conta a história de Márcia (Maitê) e Júlio (Bontempo), um "casal aberto" que entra em crise quando surgem outros parceiros em sua vida.
Márcia, advogada, tem um caso com um cliente (Nelson Diniz), acusado de assassinato. Júlio, editor de fotografia de uma revista masculina, é seduzido por uma ninfeta (Maria Ribeiro), amiga de sua filha (Ana Maria Mainieri).
Dois triângulos sexuais, dois assassinatos misteriosos: o filme gira em torno desses pólos, discutindo de permeio o que houve com os ideais libertários da geração que hoje está com 40 anos.
"Tolerância" tem cenas ousadas de sexo e alguma violência, mas Gerbase -que é também vocalista da banda de punk rock Os Replicantes- ressalta que tudo está ali para servir à história.
"O filme não tem sexo explícito, mas tem o sexo implícito mais quente do cinema brasileiro", garante o diretor, que ensaiou muito as cenas eróticas com os atores para evitar constrangimento e perda de tempo no set.
A história de "Tolerância" foi escrita por Gerbase há três anos. Desde então, o roteiro passou por 12 versões e contou com a participação de Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Álvaro Teixeira.
Segundo Gerbase, foi Furtado (diretor do célebre "Ilha das Flores") que deu ao filme "roupagem e ritmo" capazes de atrair o grande público sem prejuízo de seu tema original, a tolerância.
Mas houve uma sugestão de Furtado que Gerbase não aceitou: a troca do pronome "tu" pelo "você" nas falas. "Eu não conseguia acreditar naqueles diálogos com "você". Afinal, a história se passa em Porto Alegre, os personagens são porto-alegrenses."
Do mesmo modo, o cineasta quer que o filme "tenha a cara de Porto Alegre" e a luz oblíqua e poética do Rio Grande do Sul.
O diretor de fotografia Alex Sernambi e o diretor de arte Fiapo Barth são, ao lado da assistente de direção Ana Luiza Azevedo, os "braços direitos" de Carlos Gerbase no set de filmagem.
O entrosamento entre o diretor e sua equipe, aliado à exaustiva preparação prévia do filme (para o qual foram feitos "storyboards" e ensaios com os atores), permite que as filmagens fluam sem perda de tempo ou material.
Pelo menos foi o que a reportagem da Folha viu em dois dias de complicadas filmagens em locação, envolvendo movimentos de grua e grande número de figurantes, no parque Farroupilha, em Porto Alegre.
O custo de "Tolerância" é de R$ 2 milhões. Metade disso foi investida por empresas gaúchas, e a outra metade veio de um concurso público estadual de cinema.
As filmagens, com locações em Porto Alegre e nas cidades gaúchas de Gramado, Igrejinha e São Lourenço, terminam nos próximos dias. O filme deverá estar pronto até o final do ano e será, provavelmente, distribuído em todo o país pela Columbia.
Segundo a produtora Luciana Tomasi, "Tolerância" é, de longe, a maior produção da Casa de Cinema até hoje. "Somando a equipe técnica e o elenco principal, são 110 pessoas, sem contar os cem figurantes", diz.
"Tolerância" é o ponto culminante de um processo que começou há 20 anos, quando um grupo de universitários -entre eles Gerbase, Giba Assis Brasil, Werner Schunemann e Nelson Nadotti- criou um vigoroso movimento de cinema em super-8.
Em homenagem a essas origens, Gerbase usou em "Tolerância" imagens do documentário em super-8 "Encruzilhada Natalino", sobre um encontro pela reforma agrária em 1978. No longa de Gerbase, a manifestação é o pano de fundo para o encontro entre os personagens Márcia e Júlio na juventude.
Nada mais apropriado para um filme que é também, à sua maneira, um balanço de geração.


O jornalista José Geraldo Couto viajou a convite da produção de "Tolerância"


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