|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Definido pelo diretor gaúcho Carlos Gerbase como um "thriller intimista", filme traz Maitê Proença
"Tolerância" discute sexo e crime
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Porto Alegre
Quinze anos depois de ter realizado (com Giba Assis Brasil) o
marco do cinema gaúcho "Verdes
Anos", o cineasta Carlos Gerbase,
40, volta ao longa-metragem com
"Tolerância".
É também o primeiro longa da
Casa de Cinema, produtora porto-alegrense que realizou nos últimos 12 anos os mais premiados
curtas brasileiros do período.
Definido pelo próprio Gerbase
como um "thriller intimista",
"Tolerância" está sendo rodado
em Porto Alegre e tem Maitê
Proença, Roberto Bontempo, Maria Ribeiro e Nelson Diniz nos papéis principais.
O filme conta a história de Márcia (Maitê) e Júlio (Bontempo),
um "casal aberto" que entra em
crise quando surgem outros parceiros em sua vida.
Márcia, advogada, tem um caso
com um cliente (Nelson Diniz),
acusado de assassinato. Júlio, editor de fotografia de uma revista
masculina, é seduzido por uma
ninfeta (Maria Ribeiro), amiga de
sua filha (Ana Maria Mainieri).
Dois triângulos sexuais, dois assassinatos misteriosos: o filme gira em torno desses pólos, discutindo de permeio o que houve
com os ideais libertários da geração que hoje está com 40 anos.
"Tolerância" tem cenas ousadas
de sexo e alguma violência, mas
Gerbase -que é também vocalista da banda de punk rock Os Replicantes- ressalta que tudo está
ali para servir à história.
"O filme não tem sexo explícito,
mas tem o sexo implícito mais
quente do cinema brasileiro", garante o diretor, que ensaiou muito as cenas eróticas com os atores
para evitar constrangimento e
perda de tempo no set.
A história de "Tolerância" foi
escrita por Gerbase há três anos.
Desde então, o roteiro passou por
12 versões e contou com a participação de Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Álvaro Teixeira.
Segundo Gerbase, foi Furtado
(diretor do célebre "Ilha das Flores") que deu ao filme "roupagem
e ritmo" capazes de atrair o grande público sem prejuízo de seu tema original, a tolerância.
Mas houve uma sugestão de
Furtado que Gerbase não aceitou:
a troca do pronome "tu" pelo
"você" nas falas. "Eu não conseguia acreditar naqueles diálogos
com "você". Afinal, a história se
passa em Porto Alegre, os personagens são porto-alegrenses."
Do mesmo modo, o cineasta
quer que o filme "tenha a cara de
Porto Alegre" e a luz oblíqua e
poética do Rio Grande do Sul.
O diretor de fotografia Alex Sernambi e o diretor de arte Fiapo
Barth são, ao lado da assistente de
direção Ana Luiza Azevedo, os
"braços direitos" de Carlos Gerbase no set de filmagem.
O entrosamento entre o diretor
e sua equipe, aliado à exaustiva
preparação prévia do filme (para
o qual foram feitos "storyboards"
e ensaios com os atores), permite
que as filmagens fluam sem perda
de tempo ou material.
Pelo menos foi o que a reportagem da Folha viu em dois dias de
complicadas filmagens em locação, envolvendo movimentos de
grua e grande número de figurantes, no parque Farroupilha, em
Porto Alegre.
O custo de "Tolerância" é de R$
2 milhões. Metade disso foi investida por empresas gaúchas, e a outra metade veio de um concurso
público estadual de cinema.
As filmagens, com locações em
Porto Alegre e nas cidades gaúchas de Gramado, Igrejinha e São
Lourenço, terminam nos próximos dias. O filme deverá estar
pronto até o final do ano e será,
provavelmente, distribuído em
todo o país pela Columbia.
Segundo a produtora Luciana
Tomasi, "Tolerância" é, de longe,
a maior produção da Casa de Cinema até hoje. "Somando a equipe técnica e o elenco principal, são
110 pessoas, sem contar os cem figurantes", diz.
"Tolerância" é o ponto culminante de um processo que começou há 20 anos, quando um grupo
de universitários -entre eles
Gerbase, Giba Assis Brasil, Werner Schunemann e Nelson Nadotti- criou um vigoroso movimento de cinema em super-8.
Em homenagem a essas origens, Gerbase usou em "Tolerância" imagens do documentário
em super-8 "Encruzilhada Natalino", sobre um encontro pela reforma agrária em 1978. No longa
de Gerbase, a manifestação é o pano de fundo para o encontro entre
os personagens Márcia e Júlio na
juventude.
Nada mais apropriado para um
filme que é também, à sua maneira, um balanço de geração.
O jornalista José Geraldo Couto viajou a
convite da produção de "Tolerância"
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Maitê Proença elogia roteiro Índice
|