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GRAMADO
Longa-metragem de Sérgio Silva será exibido fora de concurso hoje, dia do anúncio dos filmes premiados
"Anahy de las Misiones" encerra festival
Divulgação
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O ator Marcos Palmeira, em 'Anahy de las Misiones'
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JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado
O Festival de
Cinema de Gramado (RS) termina hoje com o
anúncio dos
premiados e a
exibição, fora de
concurso, do
longa-metragem gaúcho "Anahy
de las Misiones", de Sérgio Silva.
O filme, que custou R$ 2,5 milhões, transfere uma antiga lenda
da região do rio da Prata para o Rio
Grande do Sul da época da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Anahy (Araci Esteves) é uma
mulher pobre que percorre os
campos de batalha com os filhos
(interpretados pelos atores Marcos Palmeira, Claudio Gabriel, Dira Paes e Fernando Alves Pinto)
para se apropriar dos despojos dos
mortos.
Seguindo a família, o filme mostra as mais variadas paisagens gaúchas: começa nos pampas (na região de Uruguaiana), passa pelos
morros de pedra do Dorsal das Encantadas e termina nos cânions da
serra, na região de Cambará.
É o primeiro longa-metragem
em 35 milímetros de Sérgio Silva.
Em 1990 ele co-dirigiu com Tuio
Becker o longa em 16 milímetros
"Heimweh/Nostalgia".
"Anahy" estréia em 5 de setembro no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina e, em seguida, chega a
São Paulo e Rio. Sérgio Silva, 51,
falou à Folha sobre o filme.
Folha - Depois de anos sem longas, o cinema gaúcho apresenta
dois -"Lua de Outubro" e
"Anahy"- com ambientação rural
e reconstituição histórica. É só
coincidência?
Sérgio Silva - É. Sempre gostei
de filmes de reconstituição. No caso do "Anahy", a Guerra dos Farrapos é só o fundo histórico.
O importante é o drama da família. Misturei o drama muito concreto da necessidade de sobrevivência da Anahy com um lado de
fantasia, de irreal.
Incluí no filme lendas como a do
boitatá (o fogo-fátuo) e a da índia
que canta com a voz do vento.
Além disso, há o episódio real e
fantástico do navio que Garibaldi
fez transportar por terra ao longo
de quilômetros entre os rios Capivari e Tramandaí.
Folha - Como é a estrutura do filme?
Silva - Como se trata de acompanhar um ano na vida de uma família, a narrativa atravessa diversos episódios. Os personagens vão
se desenvolvendo por meio desses
vários acontecimentos. "Anahy"
é como uma novela picaresca.
Folha - O filme acabou de ser rodado em julho de 96. Por que demorou tanto para ficar pronto?
Silva - O que demorou mais foi
a montagem, feita em duas etapas.
Tínhamos nove horas e meia de
copião bruto.
A primeira seleção do material
foi feita no Brasil. A montagem final foi feita em Buenos Aires por
Juan Carlos Macías, que montou
filmes de Luís Puenzo e Fernando
Solanas.
Outra coisa: o filme foi todo dublado, pois não havia como fazer
som direto numa história ambientada numa época em que não havia
ruído mecânico algum.
Folha - Ainda hoje há uma polarização muito grande entre cinema
de entretenimento e cinema autoral. Como você situaria "Anahy"
nesse contexto?
Silva - Não pensei em fazer um
filme para o grande público, nem
para cinematecas. O que eu sempre quis foi contar histórias.
Eu não conseguiria fazer um filme como "Ilha das Flores". Também não sou um autor, como Carlos Reichenbach, que escreve, dirige, faz a música, opera a câmera.
Eu prefiro o cinema de equipe.
Para mim, o trabalho do diretor é
coordenar as etapas da produção.
Claro que quero que meu filme
tenha sucesso de público. Se possível, gostaria que encontrassem nele também um valor, se não artístico, pelo menos cultural.
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