São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997.



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GRAMADO
Longa-metragem de Sérgio Silva será exibido fora de concurso hoje, dia do anúncio dos filmes premiados
"Anahy de las Misiones" encerra festival

Divulgação
O ator Marcos Palmeira, em 'Anahy de las Misiones'


JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado

O Festival de Cinema de Gramado (RS) termina hoje com o anúncio dos premiados e a exibição, fora de concurso, do longa-metragem gaúcho "Anahy de las Misiones", de Sérgio Silva.
O filme, que custou R$ 2,5 milhões, transfere uma antiga lenda da região do rio da Prata para o Rio Grande do Sul da época da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Anahy (Araci Esteves) é uma mulher pobre que percorre os campos de batalha com os filhos (interpretados pelos atores Marcos Palmeira, Claudio Gabriel, Dira Paes e Fernando Alves Pinto) para se apropriar dos despojos dos mortos.
Seguindo a família, o filme mostra as mais variadas paisagens gaúchas: começa nos pampas (na região de Uruguaiana), passa pelos morros de pedra do Dorsal das Encantadas e termina nos cânions da serra, na região de Cambará.
É o primeiro longa-metragem em 35 milímetros de Sérgio Silva. Em 1990 ele co-dirigiu com Tuio Becker o longa em 16 milímetros "Heimweh/Nostalgia".
"Anahy" estréia em 5 de setembro no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, em seguida, chega a São Paulo e Rio. Sérgio Silva, 51, falou à Folha sobre o filme.

Folha - Depois de anos sem longas, o cinema gaúcho apresenta dois -"Lua de Outubro" e "Anahy"- com ambientação rural e reconstituição histórica. É só coincidência?
Sérgio Silva -
É. Sempre gostei de filmes de reconstituição. No caso do "Anahy", a Guerra dos Farrapos é só o fundo histórico.
O importante é o drama da família. Misturei o drama muito concreto da necessidade de sobrevivência da Anahy com um lado de fantasia, de irreal.
Incluí no filme lendas como a do boitatá (o fogo-fátuo) e a da índia que canta com a voz do vento.
Além disso, há o episódio real e fantástico do navio que Garibaldi fez transportar por terra ao longo de quilômetros entre os rios Capivari e Tramandaí.
Folha - Como é a estrutura do filme?
Silva -
Como se trata de acompanhar um ano na vida de uma família, a narrativa atravessa diversos episódios. Os personagens vão se desenvolvendo por meio desses vários acontecimentos. "Anahy" é como uma novela picaresca.
Folha - O filme acabou de ser rodado em julho de 96. Por que demorou tanto para ficar pronto?
Silva -
O que demorou mais foi a montagem, feita em duas etapas. Tínhamos nove horas e meia de copião bruto.
A primeira seleção do material foi feita no Brasil. A montagem final foi feita em Buenos Aires por Juan Carlos Macías, que montou filmes de Luís Puenzo e Fernando Solanas.
Outra coisa: o filme foi todo dublado, pois não havia como fazer som direto numa história ambientada numa época em que não havia ruído mecânico algum.
Folha - Ainda hoje há uma polarização muito grande entre cinema de entretenimento e cinema autoral. Como você situaria "Anahy" nesse contexto?
Silva -
Não pensei em fazer um filme para o grande público, nem para cinematecas. O que eu sempre quis foi contar histórias.
Eu não conseguiria fazer um filme como "Ilha das Flores". Também não sou um autor, como Carlos Reichenbach, que escreve, dirige, faz a música, opera a câmera.
Eu prefiro o cinema de equipe. Para mim, o trabalho do diretor é coordenar as etapas da produção.
Claro que quero que meu filme tenha sucesso de público. Se possível, gostaria que encontrassem nele também um valor, se não artístico, pelo menos cultural.



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