|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Eternamente precoce, Johns mostra por que amadureceu
DA REDAÇÃO
Não é um paradoxo. Ele cresceu fazendo rock e agora
não quer mais saber dessas "coisas de adolescente". Se "Frogstomp" (95) e "Freak Show" (97)
eram dois álbuns para herdeiro
nenhum de Nirvana botar defeito,
"Neon Ballroom" (99) e especialmente este "Diorama" (02) são a
prova de que Daniel Johns não está aí para brincadeira: seu negócio
é fazer música, seja ela para ser tocada em uma guitarra distorcida,
seja para ser interpretada por
uma imensa orquestra de metais,
percussão e cordas.
Passada a aversão inicial que todo roqueiro tem quando uma
banda "começa a fazer balada"
-ainda mais se o vocalista for
loirinho de olhos azuis- a audição de "Diorama" surpreende
mais uma vez. Poucas (e boas) são
as pesadas: "One Way Mule",
"The Lever" e ponto.
Sinceridade
São, no entanto, as mais calminhas e visceralmente sinceras
canções que insistem em brilhar
no palco do, à primeira vista, pessimista compositor deste álbum.
Diz ele, em "Across the Night",
um quase épico, incrementado
com os arranjos de Van Dyke
Parks (parceiro de Brian Wilson
no jamais lançado "Smiles"): "Eu
me apaixonei pelas pessoas dormindo/ e abracei a artrite no ombro de um homem (...) Não quero
fazê-lo chorar/ Mas esses sentimentos vão atravessar a noite / E
só vou fazê-lo chorar com eles".
Enquanto que a anorexia nervosa já não era mais novidade desde
"Ana's Song", do "Neon Ballroom", as crises de pânico e o período em que preferia ficar trancado no quarto a colocar os pés na
rua, com medo de apanhar, são
agora registradas em "Without
You", desesperada tentativa de
amar alguém, que derrete com a
simples exposição aos raios de sol.
É bem verdade ainda que "Diorama" não está só fundado nos
momentos mais sombrios dos últimos anos de Johns. Em "Greatest View", canta "os enganos não
significam nada/ se você não se
arrepende deles". Em "Luv Your
Life": "Leve a vela até a escuridão
de sua ferida/ queime e execute as
memórias da doença".
Também aqui, como em "Tuna
in the Bride", com seus ecos de
Queen, os arranjos de orquestra
contribuem para iluminar a vontade de sobreviver do rapaz.
Não é de se estranhar que uma
figura tão precoce tenha hoje tantos problemas de gente grande. E
Johns não se esquiva deles. Transforma-os em música, a linguagem
mais perfeita para se chegar direto ao coração.(DIEGO ASSIS)
Diorama
Artista: Silverchair
Lançamento: Warner
Preço: R$ 25, em média
Texto Anterior: Em novo disco, líder do Silverchair canta a via-crúcis da fama Próximo Texto: Trecho Índice
|