São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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CRÍTICA

Eternamente precoce, Johns mostra por que amadureceu

DA REDAÇÃO

Não é um paradoxo. Ele cresceu fazendo rock e agora não quer mais saber dessas "coisas de adolescente". Se "Frogstomp" (95) e "Freak Show" (97) eram dois álbuns para herdeiro nenhum de Nirvana botar defeito, "Neon Ballroom" (99) e especialmente este "Diorama" (02) são a prova de que Daniel Johns não está aí para brincadeira: seu negócio é fazer música, seja ela para ser tocada em uma guitarra distorcida, seja para ser interpretada por uma imensa orquestra de metais, percussão e cordas.
Passada a aversão inicial que todo roqueiro tem quando uma banda "começa a fazer balada" -ainda mais se o vocalista for loirinho de olhos azuis- a audição de "Diorama" surpreende mais uma vez. Poucas (e boas) são as pesadas: "One Way Mule", "The Lever" e ponto.

Sinceridade
São, no entanto, as mais calminhas e visceralmente sinceras canções que insistem em brilhar no palco do, à primeira vista, pessimista compositor deste álbum.
Diz ele, em "Across the Night", um quase épico, incrementado com os arranjos de Van Dyke Parks (parceiro de Brian Wilson no jamais lançado "Smiles"): "Eu me apaixonei pelas pessoas dormindo/ e abracei a artrite no ombro de um homem (...) Não quero fazê-lo chorar/ Mas esses sentimentos vão atravessar a noite / E só vou fazê-lo chorar com eles".
Enquanto que a anorexia nervosa já não era mais novidade desde "Ana's Song", do "Neon Ballroom", as crises de pânico e o período em que preferia ficar trancado no quarto a colocar os pés na rua, com medo de apanhar, são agora registradas em "Without You", desesperada tentativa de amar alguém, que derrete com a simples exposição aos raios de sol.
É bem verdade ainda que "Diorama" não está só fundado nos momentos mais sombrios dos últimos anos de Johns. Em "Greatest View", canta "os enganos não significam nada/ se você não se arrepende deles". Em "Luv Your Life": "Leve a vela até a escuridão de sua ferida/ queime e execute as memórias da doença".
Também aqui, como em "Tuna in the Bride", com seus ecos de Queen, os arranjos de orquestra contribuem para iluminar a vontade de sobreviver do rapaz.
Não é de se estranhar que uma figura tão precoce tenha hoje tantos problemas de gente grande. E Johns não se esquiva deles. Transforma-os em música, a linguagem mais perfeita para se chegar direto ao coração.(DIEGO ASSIS)


Diorama    
Artista: Silverchair
Lançamento: Warner
Preço: R$ 25, em média



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