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LIVRO/LANÇAMENTO
"AS VIDAS DE CHICO XAVIER"
Obra de Marcel Souto Maior analisa o líder espírita sob foco jornalístico e reafirma o mito
Ceticismo guia biografia de Chico Xavier
ARMANDO ANTENORE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Escolha outro Chico, cara! O
Buarque, o Anysio...". Foi assim,
com sarcasmo, que colegas reagiram quando o repórter Marcel
Souto Maior, 38, anunciou: "Vou
me tornar biógrafo de Chico Xavier [1910-2002]".
Quase um deus para uma multidão de brasileiros, o líder espírita
nunca gozou de prestígio dentro
das redações. Rendia, no máximo, manchetes ruidosas, proporcionais à desconfiança que despertava. Charlatão, acusavam.
Santo do pau oco.
Naquele ano, 1993, Souto Maior
não pensava muito diferente.
Ateu, jamais se aproximara do espiritismo e duvidava das façanhas
de Chico. O personagem, entretanto, o intrigava -talvez porque, ainda menino, o jornalista
brasiliense passasse férias em
Araxá. A estância mineira fica
perto de Uberaba, onde o médium morava desde 1959. "A fama dele me assombrou durante
toda infância. Mal pisava em Araxá, ouvia histórias tenebrosas sobre "o sujeito que falava com almas do outro mundo"."
Resolveu biografá-lo para desmontar o mito. "Revelar como se
constrói um ídolo do povo." O resultado está em "As Vidas de Chico Xavier", que a Planeta acaba de
relançar. Os incrédulos, porém,
podem botar as barbas de molho:
o mito continua de pé. "Não encontrei nada que o desabonasse",
diz. "E olhe que procurei à beça."
Publicado originalmente em
1994 pela Rocco, o volume retornou em 30/6, atualizado. Doze
meses antes, Chico morria. Tinha
92 anos e se preparava para comemorar 75 de mediunidade.
Cerca de 15 biógrafos já esquadrinharam a trajetória do mulato
franzino, filho de analfabetos, que
nasceu em Pedro Leopoldo (MG)
e psicografou 412 livros. A garimpagem de Souto Maior destaca-se
como a única de cunho jornalístico. O repórter consultou arquivos
da Biblioteca Nacional, no Rio, e
conversou com 96 pessoas. Da lista, constam o barbeiro, o médico
e os desafetos. O próprio Chico,
que autorizou a pesquisa, enfrentou duas sessões de perguntas.
Familiares, no entanto, mostraram-se desgostosos. Julgam que
trechos tomam o protagonista como homossexual. Souto Maior
discorda: "Boatos recorrentes o
associavam à homossexualidade.
Não pude, por isso, deixar de investigar o tema. Mas concluí que
Chico conservou-se casto. Enxergava mortos e os escutava o tempo inteiro. Você acha que conseguia ter sossego para transar?".
A biografia aborda a questão da
vaidade. Por um lado, recusava
bajulações. Humilde, chamava a
si mesmo de "Cisco Xavier". Por
outro lado, insistia em usar uma
prosaica peruca. Disfarçava, esclarecendo que a adotara para
proteger a cabeça da friagem. Depois, admitiu: a careca o incomodava e pretendia escondê-la.
No ponto que realmente importa, o da idoneidade de Chico, o
jornalista é categórico: era homem íntegro. "Não extraiu proveito financeiro dos dons que dizia carregar. Vendeu 25 milhões
de livros e morreu pobre. Comprovei que doou cada centavo às
instituições kardecistas. Cumpriu
com disciplina a meta que se impôs: difundir o espiritismo e as
mensagens dos "desencarnados"."
O biógrafo relata que, enquanto
produzia o livro, presenciou "fenômenos estranhos". "Coisas de
arrepiar." Quando psicografava
cartas de mortos, o médium narrava fatos que só a família do "remetente" conhecia. "Se persisto
em meu ceticismo?", indaga-se
Souto Maior. "Digamos que, hoje,
duvido bem menos dos espíritos.
Ou melhor: creio profundamente
na fé de Chico. Ele acreditava que
possuía uma missão, e tal crença o
fez mover montanhas."
AS VIDAS DE CHICO XAVIER. Autor:
Marcel Souto Maior. Editora Planeta.
Quanto: R$ 28,60 (272 págs.).
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