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Kertsman dá voz às nossas raízes musicais
da Reportagem Local
Muita tinta já correu sobre "as
verdadeiras raízes" da música brasileira. E correu talvez do lado errado: o modernismo e o Estado
Novo, cada um a seu modo, levantaram a questão em termos defensivos, patrióticos, de reconquista
da identidade cultural.
Mas há outro caminho, que consiste em interrogar essas mesmas
raízes para que elas respondam o
que possuem de mouras, de ibéricas ou de holandesas, deixando
aflorar, por exemplo, o paralelo
entre o rústico nacional e o renascentista europeu.
O projeto é ambicioso. Acaba de
dar um passo bem sucedido pelas
mãos do musicólogo e maestro
Miguel Kertsman, 32.
Seu "Amazônica" está sendo
lançado mundialmente pela Sony
Classical.
Não é um CD com estilização falsamente folclórica. Alguém como
Mário de Andrade, morto há 52
anos, ficaria feliz com um trabalho
escrito em torno de uma questão
estética da qual foi o mais erudito
precursor.
A saber: como funciona a sobreposição de origens musicais que, a
partir dos índios, foram se agregando com a chegada das demais
culturas que passaram a miscigenar no Brasil colonial?
O CD, gravado em Pernambuco
em outubro do ano passado, traz a
Camerata Cantione Antiqua e um
grupo enorme de artistas nordestinos convidados.
Há zabumba e ganzá, rabeca e pífano, caracaxá e maracas. O Brasil
colônia se encaixa nessa amostragem sonora.
Kertsman, músico radicado em
Nova York, opera de certo modo
uma imensa colagem de gêneros.
Mas sem a visão de uma amostragem dispersa que integraria um registro etnográfico.
Ele quer saber como se articulam
coerências, como se opera a coincidência de harmonias e achados
melódicos. Há então uma mistura
bem-sucedida do compositor com
o compilador. Peças como o "Maracatu", o "Aboio Grande", a
"Chegança" ou "Caramuru" são
ao mesmo tempo de Kertsman e de
toda a cultura na qual mergulhou.
(JBN)
Disco: Amazônica
Autor e regente: Miguel Kertsman
Lançamento: Sony Classical
Quanto: R$ 18 (em média)
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