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CINEMA
Série vai reunir cineastas-revelação de cinco continentes; filme de Walter Salles vai representar o Brasil
Projeto '2000 Visto por...' já tem 2 longas
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
Foram exibidos em Veneza, durante o Festival de Cinema, os primeiros dois títulos da série de nove
longas "2000 Vu par ..." (2000 Visto por...) assinados por novos cineastas-revelação.
O projeto é do canal franco-alemão Arte e, do Brasil, o escolhido
foi Walter Salles com "Minuit"
(meia-noite). Como todos da série,
a contribuição brasileira também
será triste e pessimista para o mítico ingresso no novo milênio.
Esse é o tom da série, um quebranto simbólico do otimismo pelo novo milênio, confirmado na
visão dos dois primeiros longas
concluídos e apresentados em Veneza: "Tamás et Juli", da húngara
Ildiki Enyedi, e "Les Sanguinaires", do francês Laurent Canter.
No filme da França, um grupo de
amigos decide abdicar de todos os
símbolos do tempo -computadores, televisão, rádio, celular- e
isola-se numa ilhota próxima à
Córsega. É lá que fica o farol que dá
o título ao filme -"A Sanguinária". Como em "O Anjo Exterminador", de Buñuel, o isolamento
revela seus inversos.
A húngara Ildiki Enyedi, Câmera
de Ouro em Cannes pelo seu filme
de estréia "Meu 20º Século" e aclamada pelo seu seguinte "Magic
Hunter", mergulha numa primitiva mina de carvão para passar o réveillon. Tamás é o jovem mineiro
que ama Juli, uma "tia" de creche.
É um amor mal resolvido. Vai e
volta no desejo e nas incertezas.
Sofre da falta de comunicação.
A Arte anuncia para o final do
ano a conclusão da série, que será
vista no próximo ano, primeiro no
circuito de festivais e, depois, nas
TVs. Entre os longas da série, há
produções de cinco continentes.
O mauritano Abderrahmane Sissako, único representante da África, tira do tema a necessidade de
esquecer a ficção para encarar a
realidade miserável do continente.
Seu filme se chama "Uma Idéia
Negra para o Ano 2000".
"A Última Noite", do canadense
Don McKellar, mostra gente apavorada, em pânico frente à fatalidade e a necessidade de comemorar o ano 2000.
O alemão Romuald Karmakar
busca num quarteirão popular de
Frankfurt os elementos mesquinhos e pueris da comemoração,
com seu "Frankfurter Kreuz".
Com "A Primeira Noite de Minha Vida", o espanhol Miguel Albaladejo promete um road-movie
familiar com as lembranças de um
adolescente que recorda as circunstâncias do seu nascimento na
noite de 31 de dezembro de 1999.
O belga Alain Berliner promove
a tragicomédia por meio de um tipo comum que representa o mais
popular gosto culinário do pequeno país: a batata frita. Em "O Muro", o dono de um "fritekot" (barraca de batatas fritas) é surpreendido na manhã de 31 de dezembro.
A sua barraca foi dividida em dois
por um muro inesperado. O país
foi dividido em dois. A Bélgica flamenga e a Bélgica francófona.
Do chinês de Taiwan Tsai
Ming-Liang, o mais festejado cineasta do momento na França,
onde acaba de estrear seu "O
Rio", espera-se outro filme sobre
solidão regido pelo signo das
águas. "O Buraco" simboliza a
violação de privacidade em curso
de um apartamento para outro.
Hsiao Kang é o personagem que
observa a sua vizinha de baixo por
um buraco na noite de 31 de dezembro. E chove, como sempre,
torrencialmente em Taiwan.
E o Brasil de Walter Salles tem a
doce figura do mestre-compositor
Sargento, que faz o papel de um
sentenciado. Para poder comemorar o ano 2000 em liberdade, um
outro prisioneiro aceita a missão
de matar o seu melhor amigo. O
curso da fatalidade faz com que o
pistoleiro de aluguel encontre com
uma suicida abandonada pelo
amante. Eles verão à distância, do
alto de um edifício, a contagem regressiva para o novo milênio.
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