São Paulo, terça, 16 de setembro de 1997.



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CINEMA
Série vai reunir cineastas-revelação de cinco continentes; filme de Walter Salles vai representar o Brasil
Projeto '2000 Visto por...' já tem 2 longas

LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas

Foram exibidos em Veneza, durante o Festival de Cinema, os primeiros dois títulos da série de nove longas "2000 Vu par ..." (2000 Visto por...) assinados por novos cineastas-revelação.
O projeto é do canal franco-alemão Arte e, do Brasil, o escolhido foi Walter Salles com "Minuit" (meia-noite). Como todos da série, a contribuição brasileira também será triste e pessimista para o mítico ingresso no novo milênio.
Esse é o tom da série, um quebranto simbólico do otimismo pelo novo milênio, confirmado na visão dos dois primeiros longas concluídos e apresentados em Veneza: "Tamás et Juli", da húngara Ildiki Enyedi, e "Les Sanguinaires", do francês Laurent Canter.
No filme da França, um grupo de amigos decide abdicar de todos os símbolos do tempo -computadores, televisão, rádio, celular- e isola-se numa ilhota próxima à Córsega. É lá que fica o farol que dá o título ao filme -"A Sanguinária". Como em "O Anjo Exterminador", de Buñuel, o isolamento revela seus inversos.
A húngara Ildiki Enyedi, Câmera de Ouro em Cannes pelo seu filme de estréia "Meu 20º Século" e aclamada pelo seu seguinte "Magic Hunter", mergulha numa primitiva mina de carvão para passar o réveillon. Tamás é o jovem mineiro que ama Juli, uma "tia" de creche. É um amor mal resolvido. Vai e volta no desejo e nas incertezas. Sofre da falta de comunicação.
A Arte anuncia para o final do ano a conclusão da série, que será vista no próximo ano, primeiro no circuito de festivais e, depois, nas TVs. Entre os longas da série, há produções de cinco continentes.
O mauritano Abderrahmane Sissako, único representante da África, tira do tema a necessidade de esquecer a ficção para encarar a realidade miserável do continente. Seu filme se chama "Uma Idéia Negra para o Ano 2000".
"A Última Noite", do canadense Don McKellar, mostra gente apavorada, em pânico frente à fatalidade e a necessidade de comemorar o ano 2000.
O alemão Romuald Karmakar busca num quarteirão popular de Frankfurt os elementos mesquinhos e pueris da comemoração, com seu "Frankfurter Kreuz".
Com "A Primeira Noite de Minha Vida", o espanhol Miguel Albaladejo promete um road-movie familiar com as lembranças de um adolescente que recorda as circunstâncias do seu nascimento na noite de 31 de dezembro de 1999.
O belga Alain Berliner promove a tragicomédia por meio de um tipo comum que representa o mais popular gosto culinário do pequeno país: a batata frita. Em "O Muro", o dono de um "fritekot" (barraca de batatas fritas) é surpreendido na manhã de 31 de dezembro. A sua barraca foi dividida em dois por um muro inesperado. O país foi dividido em dois. A Bélgica flamenga e a Bélgica francófona.
Do chinês de Taiwan Tsai Ming-Liang, o mais festejado cineasta do momento na França, onde acaba de estrear seu "O Rio", espera-se outro filme sobre solidão regido pelo signo das águas. "O Buraco" simboliza a violação de privacidade em curso de um apartamento para outro. Hsiao Kang é o personagem que observa a sua vizinha de baixo por um buraco na noite de 31 de dezembro. E chove, como sempre, torrencialmente em Taiwan.
E o Brasil de Walter Salles tem a doce figura do mestre-compositor Sargento, que faz o papel de um sentenciado. Para poder comemorar o ano 2000 em liberdade, um outro prisioneiro aceita a missão de matar o seu melhor amigo. O curso da fatalidade faz com que o pistoleiro de aluguel encontre com uma suicida abandonada pelo amante. Eles verão à distância, do alto de um edifício, a contagem regressiva para o novo milênio.



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