São Paulo, Quinta-feira, 16 de Setembro de 1999
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Artista brasileiro ganha mostra de sua vasta produção audiovisual no MoMA

Arthur Omar leva êxtase e violência a Nova York



CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A produção do fotógrafo, artista plástico, videomaker, músico e cineasta Arthur Omar ganha, a partir de 1º de outubro, um palco privilegiado: o MoMA de NY.
Organizada por Laurence Kardish, curador do departamento de filme e vídeo do museu, a mostra apresentará cerca de 40 vídeos e filmes realizados a partir dos anos 70, a quase totalidade de sua produção audiovisual. Por falta de uma cópia para exibição, "Serafim Ponte Grande" (1971), curta baseado livremente no livro homônimo de Oswald de Andrade, ficou fora.
O ciclo entra no programa "Middle Career Retrospective", que já se centrou na obra de artistas consagrados, como John Cassavetes e Clint Eastwood. Essa é a primeira vez que ele se atém na produção de um brasileiro.
O evento é composto por nove programas diferentes (leia quadro ao lado), que terão duas sessões cada, em dias distintos.
Omar já esteve no MoMA antes. Em 1990, alguns filmes experimentais seus foram exibidos no museu. No ano passado, "Triste Trópico" (1974) foi incluído na retrospectiva da mostra brasileira "Cinema Novo and Beyond".
O artista é um dos grandes nomes do cinema experimental no país. Seus filmes e vídeos são delírios estético-poéticos que se pautam por uma visão pessoal de aspectos da cultura, história e sociedade brasileiras.
Sua argumentação pode partir de um baile funk em uma favela carioca ("Sonhos e Histórias de Fantasmas"), de uma revolta de trabalhadores no século 18 na Bahia ("O Anno de 1798") ou do cotidiano de um detetive metido a Baretta ("O Inspetor", sobre o policial Jamil Warwar), todos documentários heterodoxos repletos de lirismo e reflexão teórica.
"Nada pode parar o jorro de imagens, palavras, sons e conceitos de um filme de Arthur Omar", escreve Paulo Herkenhoff (curador da última Bienal de SP) em texto para o catálogo do evento.
Arthur Omar trabalha para a criação de uma linguagem poética do êxtase. "O êxtase é uma experiência violenta. O cinema tem uma natureza violenta, de abalo. O cinema tem de ter um elemento de choque, algo que não acontece no cinema brasileiro, que é extremamente contido", disse.
Omar, por sua vez, não se contém. Realiza estudos sobre cinema documental e etnográfico, trabalha com novas formas de percepção da imagem, reflete sobre a produção artística contemporânea, cria aberturas para a criação de novos tipos de narrativas audiovisuais, sempre pautado em experiências de violência e êxtase.
"Trabalho com a transformação de uma imagem documental, que deve ser desconstruída para criar novos impactos visuais no espectador. Quero diminuir a taxa de informação para expandir a taxa de emoção", afirmou.


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