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FILOSOFIA
Durante palestra no Rio, pensador mostra seu desconforto com os dias atuais; francês fala hoje em Belo Horizonte
Michel Déguy critica a "era do testemunho"
DA SUCURSAL DO RIO
Em sua palestra no seminário
"O Silêncio dos Intelectuais", anteontem, o poeta e filósofo Michel
Déguy afirmou que a era do engajamento, que teve em Sartre seu
principal intelectual, foi sucedida
pela era do testemunho, cujos nomes mais famosos seriam os do
escritor Primo Levi e do poeta
Paul Celan.
"Existe engajamento enquanto
houver horizonte, enquanto acredita-se no "futuro radiante". O testemunho é sempre de desgraças,
catástrofes, extermínios", disse
ele, na Maison de France, no Rio.
Déguy foi mais claro no texto
que acompanhou a palestra: "O
engajamento intelectual pressupunha a existência e a energia da
persuasão loquaz. (...) Mas o testemunho, verbal ou documentário, livro ou filme, tem força para
persuadir a renúncia do horrível?
Duvido. Quanto mais testemunhos, mais tristezas e mortes. (...)
As palavras e mesmo as imagens
esgotam-se ao testemunhar."
O pensador francês afirmou
que, com as épocas, mudam os
sentidos das palavras e dos pensamentos. Mas mostrou seu desconforto com os tempos atuais ao
falar sobre publicidade. "A imagem publicitária é uma das grandes pragas de hoje. Há um dilúvio,
uma inundação de imagens.
Odeio a publicidade. Ela diz: "Seja
original imitando todo mundo". É
a brutalização do paradoxo."
Segundo Déguy, o craque Zidane é o francês mais importante do
momento porque sua imagem é a
que mais aparece em telas de todos os tipos. "Só se existe hoje à
medida que se é colocado na tela.
Aí você se torna visível, ou hipervisível", afirmou. Para demonstrar "o descrédito em que a arte e
a poesia caíram", Déguy recorreu
ao exemplo do surrealismo. "Foi
o último movimento que abrangeu todas as artes, o último capítulo da arte erudita. Surrealista,
hoje, é uma palavra usada para
designar qualquer bobagem". Déguy fala hoje em Belo Horizonte,
no Centro Cultural da UFMG.
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