São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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CINEMA/"FILHAS DO VENTO"

Vencedor de oito prêmios em Gramado de 2004, diretor lança drama familiar menos político

Joel Zito Araújo defende cota para negros

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma história pessoal fez Joel Zito Araújo, 50, voltar a suas próprias raízes. Com "Filhas do Vento", o diretor mergulha em sua Minas Gerais natal para contar as mágoas entre duas irmãs, separadas por 45 anos por conta de um mal-entendido, que se reencontram após a morte do pai.
"O filme surgiu das experiências das atrizes. Apesar de parecer uma antítese de "A Negação do Brasil" [seu longa anterior, de 99], não foi algo pensado. A princípio, imaginei a biografia da atriz Ruth de Souza, mas, conforme conversava com o elenco, levantei boas histórias e enveredei pela ficção. É como se fosse um misto da vida da Ruth com a da minha mãe."
Uma mulher sonhadora, que sai de casa contra a vontade do pai para tentar ganhar a vida como atriz, se contrapõe a outra, que fica no interior, "cria raiz" e cuida de vários filhos. São três gerações de mulheres permeadas por reviravoltas e surgimento dos filhos.
Com um elenco majoritariamente negro, o cineasta -também negro- diz que não quis fazer um filme panfletário. "Minha intenção foi fazer uma história de amor numa família negra, já que metade das famílias brasileiras é constituída por negros. O lado mais político é trabalhar uma história negra fora do estereótipo. Não é discussão racial. Quis apenas mexer com o imaginário de brancos e negros. Afinal, tenho de refletir sobre a realidade racial."
Para ele, é "absolutamente necessário" um sistema de cotas na sociedade, "porque a anormalidade das relações raciais no Brasil faz com que todo mundo esteja acostumado a ver o ator branco como representação da beleza e, até pior que isso, como representação do ser humano comum".
"Brinco com a imagem de uma vara torta. Só existe um jeito de estabelecer o equilíbrio: entortando para o outro lado. Se você só puxá-la ao centro, não volta ao normal. É essa a transformação que a gente tem de fazer."
"Filhas do Vento" ganhou oito prêmios em Gramado em 2004: diretor, atriz (Ruth de Souza e Léa Garcia), ator (Milton Gonçalves), ator coadjuvante (Rocco Pitanga), crítica e atriz coadjuvante (Thalma de Freitas e Taís Araujo).
"Louco para voltar a um set de filmagem", Araújo já tem dois novos projetos. Em fase de roteiro, "Rita" se inspira na canção de Chico Buarque para falar de dois amigos da velha-guarda da Vai-Vai (Milton Gonçalves e Jorge Coutinho), que descobrem uma possível filha. O segundo filme vai se passar em Salvador, com o turismo sexual como pano de fundo. "Esse é mais mais político e crítico. Devo experimentar mais."


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