|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/"FILHAS DO VENTO"
Vencedor de oito prêmios em Gramado de 2004, diretor lança drama familiar menos político
Joel Zito Araújo defende cota para negros
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma história pessoal fez Joel Zito Araújo, 50, voltar a suas próprias raízes. Com "Filhas do Vento", o diretor mergulha em sua
Minas Gerais natal para contar as
mágoas entre duas irmãs, separadas por 45 anos por conta de um
mal-entendido, que se reencontram após a morte do pai.
"O filme surgiu das experiências
das atrizes. Apesar de parecer
uma antítese de "A Negação do
Brasil" [seu longa anterior, de 99],
não foi algo pensado. A princípio,
imaginei a biografia da atriz Ruth
de Souza, mas, conforme conversava com o elenco, levantei boas
histórias e enveredei pela ficção. É
como se fosse um misto da vida
da Ruth com a da minha mãe."
Uma mulher sonhadora, que sai
de casa contra a vontade do pai
para tentar ganhar a vida como
atriz, se contrapõe a outra, que fica no interior, "cria raiz" e cuida
de vários filhos. São três gerações
de mulheres permeadas por reviravoltas e surgimento dos filhos.
Com um elenco majoritariamente negro, o cineasta -também negro- diz que não quis fazer um filme panfletário. "Minha
intenção foi fazer uma história de
amor numa família negra, já que
metade das famílias brasileiras é
constituída por negros. O lado
mais político é trabalhar uma história negra fora do estereótipo.
Não é discussão racial. Quis apenas mexer com o imaginário de
brancos e negros. Afinal, tenho de
refletir sobre a realidade racial."
Para ele, é "absolutamente necessário" um sistema de cotas na
sociedade, "porque a anormalidade das relações raciais no Brasil
faz com que todo mundo esteja
acostumado a ver o ator branco
como representação da beleza e,
até pior que isso, como representação do ser humano comum".
"Brinco com a imagem de uma
vara torta. Só existe um jeito de
estabelecer o equilíbrio: entortando para o outro lado. Se você só
puxá-la ao centro, não volta ao
normal. É essa a transformação
que a gente tem de fazer."
"Filhas do Vento" ganhou oito
prêmios em Gramado em 2004:
diretor, atriz (Ruth de Souza e Léa
Garcia), ator (Milton Gonçalves),
ator coadjuvante (Rocco Pitanga), crítica e atriz coadjuvante
(Thalma de Freitas e Taís Araujo).
"Louco para voltar a um set de
filmagem", Araújo já tem dois novos projetos. Em fase de roteiro,
"Rita" se inspira na canção de
Chico Buarque para falar de dois
amigos da velha-guarda da Vai-Vai (Milton Gonçalves e Jorge
Coutinho), que descobrem uma
possível filha. O segundo filme vai
se passar em Salvador, com o turismo sexual como pano de fundo. "Esse é mais mais político e
crítico. Devo experimentar mais."
Texto Anterior: Londrina sedia mais um novo festival literário Próximo Texto: Crítica: Com linguagem televisiva, filme se perde na condução dos atores Índice
|