São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comentário

Papel de galã romântico engessou Swayze

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foram apenas três anos e dois filmes: "Dirty Dancing -Ritmo Quente" (1987) e "Ghost - Do Outro Lado da Vida" (1990). Mas foi o suficiente para estabelecer Patrick Swayze no imaginário coletivo como um galã romântico, para usar uma expressão antiquada, mas um conceito não ultrapassado.
Naquele curto período, ele era tudo de que Hollywood precisava: um astro que sabia ao mesmo tempo interpretar e atrair mulheres ao cinema, que ajudava a transformar filmes baratos em enormes sucessos.
Alguém que fazia adolescentes preencherem capas de fichário sonhando com gestos estranhos, como serem levantadas no ar em meio a uma dança ou moldarem vasos de argila abraçadas pelas costas.
Swayze era um ator ao mesmo tempo atlético e suave, que tinha músculos de halterofilista, mas sabia se mover com delicadeza. De certa forma, ele fez a transição entre os astros anabolizados dos anos 80 -Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger- e os tipos mais femininos da década de 90 -Brad Pitt, Tom Cruise, Keanu Reeves.
E então, de repente, o encanto acabou. Por algum motivo obscuro, Swayze nunca fez outro sucesso do tamanho daqueles dois filmes. Não se sabe se foi por suas escolhas pessoais ou pelas de Hollywood. Mas o fato de ter 38 anos na época de "Ghost" talvez ajude a explicar.
Swayze nunca usou seu físico avantajado para se transformar em herói de ação, como a turma dos anos 80. Nem atingiu o tipo de respeitabilidade que no cinema americano se traduz em indicações ao Oscar, como os colegas dos 90.
Por outro lado, Swayze conseguiu alguns feitos tão ou mais importantes. Como se descolar da imagem de galã e se provar um ator versátil, disposto a correr riscos.
Comprovando o talento revelado por Francis Ford Coppola em "Vidas sem Rumo" (1983), ele foi o carismático anti-herói do subestimado "Caçadores de Emoção" (1991), uma drag queen cômica e comovente em "Para Wong Foo..." (1995), um autor de autoajuda canastrão no experimental "Donnie Darko" (2001).
Mas não foi o suficiente para que ele mantivesse uma carreira estável, para que os convites voltassem a aparecer.
Foi preciso algo mais cruel que Hollywood para que ele retornasse aos holofotes. Foi doloroso ver um ator conhecido pelo porte físico definhar em público. O câncer no pâncreas terminou a tarefa de borrar sua estampa de galã, mas a luta contra a doença fez emergir outra imagem, a de um homem frágil, mas tenaz até o fim.


Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Marcelo Coelho: Duas ou quatro mulheres
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.