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Comentário
Papel de galã romântico engessou Swayze
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foram apenas três anos e
dois filmes: "Dirty Dancing
-Ritmo Quente" (1987) e
"Ghost - Do Outro Lado da Vida" (1990). Mas foi o suficiente
para estabelecer Patrick Swayze no imaginário coletivo como
um galã romântico, para usar
uma expressão antiquada, mas
um conceito não ultrapassado.
Naquele curto período, ele
era tudo de que Hollywood precisava: um astro que sabia ao
mesmo tempo interpretar e
atrair mulheres ao cinema, que
ajudava a transformar filmes
baratos em enormes sucessos.
Alguém que fazia adolescentes preencherem capas de fichário sonhando com gestos
estranhos, como serem levantadas no ar em meio a uma dança ou moldarem vasos de argila
abraçadas pelas costas.
Swayze era um ator ao mesmo tempo atlético e suave, que
tinha músculos de halterofilista, mas sabia se mover com delicadeza. De certa forma, ele fez
a transição entre os astros anabolizados dos anos 80 -Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger- e os tipos mais femininos da década de 90 -Brad Pitt,
Tom Cruise, Keanu Reeves.
E então, de repente, o encanto acabou. Por algum motivo
obscuro, Swayze nunca fez outro sucesso do tamanho daqueles dois filmes. Não se sabe se
foi por suas escolhas pessoais
ou pelas de Hollywood. Mas o
fato de ter 38 anos na época de
"Ghost" talvez ajude a explicar.
Swayze nunca usou seu físico avantajado para se transformar em herói de ação, como a
turma dos anos 80. Nem atingiu o tipo de respeitabilidade
que no cinema americano se
traduz em indicações ao Oscar,
como os colegas dos 90.
Por outro lado, Swayze conseguiu alguns feitos tão ou
mais importantes. Como se
descolar da imagem de galã e se
provar um ator versátil, disposto a correr riscos.
Comprovando o talento revelado por Francis Ford Coppola em "Vidas sem Rumo"
(1983), ele foi o carismático anti-herói do subestimado "Caçadores de Emoção" (1991),
uma drag queen cômica e comovente em "Para Wong
Foo..." (1995), um autor de autoajuda canastrão no experimental "Donnie Darko" (2001).
Mas não foi o suficiente para
que ele mantivesse uma carreira estável, para que os convites
voltassem a aparecer.
Foi preciso algo mais cruel
que Hollywood para que ele retornasse aos holofotes. Foi doloroso ver um ator conhecido
pelo porte físico definhar em
público. O câncer no pâncreas
terminou a tarefa de borrar sua
estampa de galã, mas a luta
contra a doença fez emergir outra imagem, a de um homem
frágil, mas tenaz até o fim.
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