São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA

Canadense é destaque no Fórum Internacional de Dança

Gaudreau leva seu laboratório de movimentos a Minas Gerais

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

"Na sua vida cotidiana, você está cercado de informações da natureza mais diversa -mas o que é mesmo informação? Como se interpreta o acontecimento da vida? Como se experimenta a realidade?"
Essas perguntas da coreógrafa Lynda Gaudreau integram-se agora às propostas do FID (Fórum Internacional de Dança). Além dos dois grupos internacionais -Lynda Gaudreau/Cia. de Brune e Jérôme Bel/R.B.-, o FID hospeda o "Território Minas Telemig Celular 2002" (programa de apoio a criações) e a "Extensão Brasil" (apresentação realizada mensalmente por grupos brasileiros, até 2003).
Um dos espetáculos mais esperados é o da canadense Gaudreau, "Document 3", que estréia hoje. A companhia já apresentara no próprio FID (em 2000) a primeira parte dessa grande "Enciclopoedia", um laboratório de movimentos.
Iniciado em 1999 com "Document 1", o projeto não tem data para terminar, como explicou Gaudreau, por e-mail, à Folha. "A idéia é apresentar o trabalho de outros artistas no meu próprio trabalho, artistas que considero importantes. Gostaria de compartilhar esse interesse por eles com a minha platéia."
Em "Document 1", Gaudreau trabalhava partes do corpo por meio de fragmentos do cotidiano e de trechos coreográficos de outros artistas (como Jonathan Burrows, Meg Stuart ou Benoit Lachambre). Tudo era material para explorar o movimento de forma sucinta e classificatória, que remetia a uma enciclopédia.
Agora, em "Document 3", a coreógrafa canadense pesquisa o que se dá no intervalo entre duas coisas, no instante que precede a ação.
O brasileiro Cristian Duarte participa do trabalho. Duarte esteve na Bélgica, com o auxílio de uma bolsa Capes e foi lá que encontrou Gaudreau. "Ele entrou intuitivamente no meu trabalho e trouxe algo que eu estava procurando há muito tempo", diz a coreógrafa. "É um bailarino criativo, que nos surpreende -e isso é o motor da criação. É um prazer trabalhar com ele."
Gaudreau se define como uma anatomista do movimento ou arquiteta do corpo humano. "Antes, estava trabalhando com unidades completas de informação; agora, estou mais interessada em pedaços. Tento trabalhar com o mínimo possível, mas sempre sinto que é demais. Em certo sentido, quero que a platéia coreografe o que está vendo."

Perguntas e respostas
Em outros termos, o foco recai sobre a nossa percepção. "Quando digo que estou interessada em pedaços de informação, quero dizer que me dou conta de o quanto completamos ou apagamos o que nos chega. O que você vê? Como isso faz sentido? O que é informação? Isso existe?"
As ambições por trás de tais perguntas não são pequenas. Não significam menos do que a tentativa de elucidar o que chamamos, com simplicidade, de "vida".
Não é de estranhar, portanto, que a dança se alie a outras artes, nessa aventura. "Minha pesquisa é sempre um trabalho de coreografia, mas envolve outras linguagens. Coreografar lida com a idéia de movimento e isso é muito amplo, não se limita ao movimento do corpo. Muitas formas de arte trabalham com a mesma questão", afirma.
Com Gaudreau, a dança é mais e menos do que se pensa: é uma perspectiva, um horizonte novo, de onde pensar tudo na vida, inclusive a dança.


DOCUMENT 3 - com Lynda Gaudreau. Onde: Teatro Sesiminas (r. Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, Belo Horizonte, tel. 0/xx/31/ 3241-7181). Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto: R$ 7,50 e R$ 15. Programação completa no site oficial: www.fid.com.br (o festival acontece até o próximo dia 26 de outubro).



Texto Anterior: Trechos
Próximo Texto: Bastidores: "Linha Direta" vai enfatizar dramaturgia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.