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DANÇA
Canadense é destaque no Fórum Internacional de Dança
Gaudreau leva seu laboratório de movimentos a Minas Gerais
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
"Na sua vida cotidiana, você está cercado de informações da natureza mais diversa -mas o que é
mesmo informação? Como se interpreta o acontecimento da vida?
Como se experimenta a realidade?"
Essas perguntas da coreógrafa
Lynda Gaudreau integram-se
agora às propostas do FID (Fórum Internacional de Dança).
Além dos dois grupos internacionais -Lynda Gaudreau/Cia. de
Brune e Jérôme Bel/R.B.-, o FID
hospeda o "Território Minas Telemig Celular 2002" (programa de
apoio a criações) e a "Extensão
Brasil" (apresentação realizada
mensalmente por grupos brasileiros, até 2003).
Um dos espetáculos mais esperados é o da canadense Gaudreau,
"Document 3", que estréia hoje. A
companhia já apresentara no próprio FID (em 2000) a primeira
parte dessa grande "Enciclopoedia", um laboratório de movimentos.
Iniciado em 1999 com "Document 1", o projeto não tem data
para terminar, como explicou
Gaudreau, por e-mail, à Folha. "A
idéia é apresentar o trabalho de
outros artistas no meu próprio
trabalho, artistas que considero
importantes. Gostaria de compartilhar esse interesse por eles
com a minha platéia."
Em "Document 1", Gaudreau
trabalhava partes do corpo por
meio de fragmentos do cotidiano
e de trechos coreográficos de outros artistas (como Jonathan Burrows, Meg Stuart ou Benoit Lachambre). Tudo era material para
explorar o movimento de forma
sucinta e classificatória, que remetia a uma enciclopédia.
Agora, em "Document 3", a coreógrafa canadense pesquisa o
que se dá no intervalo entre duas
coisas, no instante que precede a
ação.
O brasileiro Cristian Duarte
participa do trabalho. Duarte esteve na Bélgica, com o auxílio de
uma bolsa Capes e foi lá que encontrou Gaudreau. "Ele entrou
intuitivamente no meu trabalho e
trouxe algo que eu estava procurando há muito tempo", diz a coreógrafa. "É um bailarino criativo,
que nos surpreende -e isso é o
motor da criação. É um prazer
trabalhar com ele."
Gaudreau se define como uma
anatomista do movimento ou arquiteta do corpo humano. "Antes, estava trabalhando com unidades completas de informação;
agora, estou mais interessada em
pedaços. Tento trabalhar com o
mínimo possível, mas sempre
sinto que é demais. Em certo sentido, quero que a platéia coreografe o que está vendo."
Perguntas e respostas
Em outros termos, o foco recai
sobre a nossa percepção. "Quando digo que estou interessada em
pedaços de informação, quero dizer que me dou conta de o quanto
completamos ou apagamos o que
nos chega. O que você vê? Como
isso faz sentido? O que é informação? Isso existe?"
As ambições por trás de tais
perguntas não são pequenas. Não
significam menos do que a tentativa de elucidar o que chamamos,
com simplicidade, de "vida".
Não é de estranhar, portanto,
que a dança se alie a outras artes,
nessa aventura. "Minha pesquisa
é sempre um trabalho de coreografia, mas envolve outras linguagens. Coreografar lida com a idéia
de movimento e isso é muito amplo, não se limita ao movimento
do corpo. Muitas formas de arte
trabalham com a mesma questão", afirma.
Com Gaudreau, a dança é mais
e menos do que se pensa: é uma
perspectiva, um horizonte novo,
de onde pensar tudo na vida, inclusive a dança.
DOCUMENT 3 - com Lynda Gaudreau.
Onde: Teatro Sesiminas (r. Padre
Marinho, 60, Santa Efigênia, Belo
Horizonte, tel. 0/xx/31/ 3241-7181).
Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto:
R$ 7,50 e R$ 15. Programação completa
no site oficial: www.fid.com.br (o
festival acontece até o próximo dia 26 de
outubro).
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