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Uso de palavras é principal dificuldade
DA REPORTAGEM LOCAL
Freud explica, mas muitas vezes
os tradutores não entendem. A
lista de "recalques" nas traduções
de sua obra é de grande extensão,
segundo Luiz Alberto Hanns. E
são problemas recorrentes em
edições de muitos países.
Um dos exemplos do tradutor é
a palavra alemã "versagung". "Ela
foi traduzida no mundo inteiro
como "frustração". É "frustración",
em espanhol, "frustration", em inglês, "frustrazione", em italiano,
"frustração", em português."
Para Hanns, "versagung" é,
mais do que isso, "bloqueio",
"impedimento", "obstáculo". "O
termo frustração teoricamente
pode ter essa acepção, no sentido
de frustrar um ataque inimigo,
mas o leitor normal não capta esse tipo de uso da palavra", expressa. É apenas um dos inúmeros
exemplos discutidos pelo tradutor e sua equipe e levados a Renato Mezan, Sérgio Paulo Rouanet e
outras dezenas de estudiosos importantes de Freud.
Pelo menos um deles, porém, se
demonstra "frustrado" com o trabalho de Hanns. "Pelas amostras
que tomei conhecimento não
creio que o trabalho saia satisfatório", afirma Paulo César de Souza.
Autor de sete elogiadas traduções de obras de Nietzsche, publicadas pela Companhia das Letras,
o pesquisador baiano projeta que
a edição coordenada por Hanns
poderá "acertar no varejo, mas
provavelmente falhará no atacado". Ele afirma que, por sua grande preocupação científica, a edição que a Imago está lançando
poderá trazer alguns achados terminológicos, mas que está fadada
a "falhar na semântica". "O maior
problema de traduzir Freud não
difere dos grandes prosadores da
língua alemã: reconstruir frases
de uma forma precisa e elegante."
Souza, que diz ter sido convidado por Hanns a colaborar com o
projeto, conta que preferiu se dedicar a seu próprio projeto de tradução da obra integral de Freud
(que deve começar a sair só em
2010). Ele vem trabalhando em
parceria com o pesquisador André Medina Carone, filho de dois
tradutores renomados do alemão:
o "kafkólogo" Modesto Carone e
Marilene Carone.
A tradutora, que morreu em
1987, foi das primeiras (junto com
Souza) a levantar críticas pesadas
à tradução feita a partir do inglês
pela Imago, no início dos anos 80.
As traduções que ela havia feito de
Freud deverão ser incorporadas
no trabalho de Souza.
(CEM)
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