São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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Uso de palavras é principal dificuldade

DA REPORTAGEM LOCAL

Freud explica, mas muitas vezes os tradutores não entendem. A lista de "recalques" nas traduções de sua obra é de grande extensão, segundo Luiz Alberto Hanns. E são problemas recorrentes em edições de muitos países.
Um dos exemplos do tradutor é a palavra alemã "versagung". "Ela foi traduzida no mundo inteiro como "frustração". É "frustración", em espanhol, "frustration", em inglês, "frustrazione", em italiano, "frustração", em português."
Para Hanns, "versagung" é, mais do que isso, "bloqueio", "impedimento", "obstáculo". "O termo frustração teoricamente pode ter essa acepção, no sentido de frustrar um ataque inimigo, mas o leitor normal não capta esse tipo de uso da palavra", expressa. É apenas um dos inúmeros exemplos discutidos pelo tradutor e sua equipe e levados a Renato Mezan, Sérgio Paulo Rouanet e outras dezenas de estudiosos importantes de Freud.
Pelo menos um deles, porém, se demonstra "frustrado" com o trabalho de Hanns. "Pelas amostras que tomei conhecimento não creio que o trabalho saia satisfatório", afirma Paulo César de Souza.
Autor de sete elogiadas traduções de obras de Nietzsche, publicadas pela Companhia das Letras, o pesquisador baiano projeta que a edição coordenada por Hanns poderá "acertar no varejo, mas provavelmente falhará no atacado". Ele afirma que, por sua grande preocupação científica, a edição que a Imago está lançando poderá trazer alguns achados terminológicos, mas que está fadada a "falhar na semântica". "O maior problema de traduzir Freud não difere dos grandes prosadores da língua alemã: reconstruir frases de uma forma precisa e elegante."
Souza, que diz ter sido convidado por Hanns a colaborar com o projeto, conta que preferiu se dedicar a seu próprio projeto de tradução da obra integral de Freud (que deve começar a sair só em 2010). Ele vem trabalhando em parceria com o pesquisador André Medina Carone, filho de dois tradutores renomados do alemão: o "kafkólogo" Modesto Carone e Marilene Carone.
A tradutora, que morreu em 1987, foi das primeiras (junto com Souza) a levantar críticas pesadas à tradução feita a partir do inglês pela Imago, no início dos anos 80. As traduções que ela havia feito de Freud deverão ser incorporadas no trabalho de Souza. (CEM)


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