São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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ALTA-COSTURA
Dener Pamplona de Abreu, morto há 20 anos, foi o primeiro estilista brasileiro a se transformar em grife
Criador da moda no país ganha biografias

Divulgação
O estilista Dener veste uma de suas criações, em foto dos anos 70 tirada em sua mansão, no Pacaembu


Dener e seus cães em sua mansão no Pacaembu, São Paulo A primeira-dama Maria Teresa Goulart veste um autêntico Dener (sentado) IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Inventor da moda brasileira, o costureiro Dener Pamplona de Abreu, morto há 20 anos, está prestes a ter sua vida detalhada em duas biografias.
Dener foi o primeiro brasileiro a comercializar seu nome em grife. Criou o mito do "costureiro-estrela", artista e sensível. Inventou a idéia de top model. Ficou milionário. Perdeu tudo. Foi censurado na televisão por ser considerado efeminado demais. Bebeu até morrer.
Para o jornalista Fernando de Barros, 83, um dos mais respeitados consultores de moda do país, "Dener foi o único estilista que houve no Brasil".
É essa vida excêntrica, com dezenas de passagens hilariantes, mas com um final trágico, que está sendo costurada pelo sociólogo Carlos Dória e pela jornalista Maria Doria. Apesar do mesmo sobrenome -com exceção do acento-, os dois não se conhecem e fizeram suas biografias separadamente.
A primeira, de Dória (ele), chama-se "O Bordado da Fama - Uma Biografia de Dener" e está prestes a ser rodada pela Editora Senac São Paulo. O lançamento está marcado para o dia 2 de dezembro.
A segunda, de Doria (ela), chama-se "A Ópera de Dener" e ainda está sendo escrita. A autora negocia com duas editoras e pretende lançá-la no início do ano que vem.
Ambos os livros perderam a data de morte. Daqui a três semanas, em 9 de novembro, farão 20 anos que Dener morreu. De cirrose hepática, segundo ambos os autores.
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Visão da imprensa
Para tecer "O Bordado da Fama", o sociólogo Carlos Dória escolheu privilegiar o ponto de vista da imprensa. "Podia ser a visão do mordomo ou de uma de suas mulheres, mas me interessei mais em ver como a imprensa tratou Dener, tanto em seu auge, nos anos 60, como em sua decadência, nos 70", diz o escritor.
Daí surgiram várias ótimas histórias. Quando a imprensa descobriu, por exemplo, que Dener se banhava em leite para dar viço à pele, "o ritual causou frisson, em particular em um influente jornalista mineiro que escrevia em "O Cruzeiro'. Ele chegou a ventilar a hipótese do mordomo recolher o leite, após o banho, para poder distribuí-lo entre pobres do bairro", escreveu Dória.
O sociólogo não se limitou apenas a jornais e revistas. Ouviu também alguns amigos, parentes e funcionários. No caso do leite, Dória confirmou a história com o mordomo Pierre, na verdade, Pedro Vila. O empregado descartou a hipótese da distribuição, mesmo porque "não havia pobres no Pacaembu".
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Maria Stella Splendore
Já a jornalista Maria Doria investiu pesadamente na entrevista para levantar o véu do passado. E promete diversas revelações, como o verdadeiro início de carreira de Dener. "Não foi na Casa Canadá, como ele sempre disse, mas sim vendendo camisetas na porta de teatros de revista."
A jornalista ouviu mais de 30 pessoas. "Fui até Miami só para entrevistar Maria Stella Splendore, a primeira mulher de Dener", diz.
Splendore, aliás, é considerada a primeira top model brasileira. Aos 16 anos, foi escolhida por Dener para fazer um desfile e acabou se casando com o costureiro. "Fico feliz com essas biografias. Espero que façam isso com outros ídolos do passado", disse. Após a separação, Splendore morou em diversos países e se tornou hare krishna.
Ambas as obras tratam do suposto homossexualismo de Dener, mas não afirmam coisa alguma. "É tão ridículo, tão pequeno isso. Tivemos dois filhos. Ele era um artista e isso é o que deve ser falado", diz Splendore.
O assunto irritou também a mãe de Dener, Eponina Pamplona de Abreu, 95. "Ele não era gay. Se casou duas vezes. Eu morava com ele e via muitas mulheres", conta.
Eponina vai além e, ignorando até o atestado de óbito, diz que seu filho nunca bebeu muito. "Ele sofria de hepatite desde pequeno. Foi disso que morreu."
As duas biografias trazem dezenas de boas fotos. As publicadas pela Ilustrada hoje são de "O Bordado da Fama". Já "A Ópera de Dener" vai contar com o álbum de família de diversos parentes.



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