|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Alain Fresnot fala sobre seu terceiro longa
Brasil de 1555 chega às telas em 2000
Paulo Giandalia/Folha Imagem
|
O cineasta Alain Fresnot, que prepara para 2000 o filme "Desmundo", história de amor passada no Brasil de 1555 |
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Apesar de ter trabalhado em
mais de três dezenas de filmes
desde 1981, o cineasta Alain Fresnot parecia estar relegando uma
parte de sua carreira: em 18 anos,
assinou como diretor apenas dois
longas-metragens em 35 mm.
"Desmundo", filme que prepara para 2000, vem subverter essa
periodicidade e se juntar a "Ed
Mort", lançado em 97, e a "Lua
Cheia", de 88. "Um a cada dez
anos...", comenta Fresnot. "Espero que agora se torne mais frequente."
"Desmundo" ainda está em fase
de captação -o orçamento é de
R$ 4,3 milhões- e deve ser filmado na metade do ano que vem. A
produção é da A.F. Cinema e Vídeo, empresa responsável por títulos como os premiados "Kenoma" e "Através da Janela" e o ainda não-lançado "Castelo Rá-Tim-Bum" -eis aí o que Fresnot andou fazendo enquanto não dirigia
os seus próprios.
A nova fita, baseada em livro
homônimo de Ana Miranda (Cia.
das Letras, R$ 24), conta a história
de Oribela, uma das adolescentes
órfãs portuguesas mandadas ao
Brasil em 1555 para prover os senhores de engenho de "carne
branca", por assim dizer.
Em "Desmundo", Fresnot pretende não apenas contar a história de Oribela, mas mostrar cenas
de cunho histórico. Leia abaixo
entrevista com o diretor.
Folha - O que significa "Desmundo"?
Alain Fresnot - É o nome do livro da Ana Miranda, que deu origem ao roteiro. Pela concepção
do livro, e dos europeus do século
16, o mundo era o Hemisfério
Norte. Abaixo do Equador era o
inverso, o contrário do mundo, o
antimundo ou desmundo.
Folha - Como conciliar cenas
históricas com uma história de
amor?
Fresnot - O filme é um diário da
adolescente Oribela, mas a parte
histórica não é um pano de fundo
para a trama. O que Oribela sofre
são exatamente as condições do
início do século 16. Até a década
de 30, em vez de os portugueses
civilizarem os índios, eles é que se
"indianizavam". Até essa época, o
Brasil era muito largado. Tinha
poucos europeus. Como os franceses rondavam muito por perto,
começaram as grandes expedições.
Folha - E é nessa época que o
filme se passa?
Fresnot - O filme se passa nos
anos 50, quando a menina é largada no Brasil. E isso é um fato histórico mesmo. Os jesuítas pediram para Portugal mandar meninas brancas, porque os portugueses estavam se misturando muito
com as índias. Existem cartas do
padre Manoel da Nóbrega pedindo órfãs.
A inter-relação, no filme, entre
o que seria antropológico e o que
é da menina se dá pela vida dela.
Ela chega, é direcionada para um
senhor de engenho. Ele tira ela da
praia, ela não quer ir. Ingenuamente, ela tem uma primeira fuga. Quando chega na vila, não tem
mais a nau. O cara que gosta dela
é um bandeirante, rude, que vai
fazer um apresamento numa aldeia indígena. A parte de figurino
e cenografia não começou ainda,
mas a idéia é ser o mais fiel possível, apesar de ser um período
muito pouco conhecido.
Folha - Essa fidelidade se reflete nas falas em latim, hebraico e tupi antigo, certo?
Fresnot - Isso é porque os índios falam em tupi e os jesuítas rezam em latim. Os cristãos novos,
os judeus convertidos à força durante a Inquisição, alguns deles
ainda falavam hebraico ao chegar
aqui. Essas falas não são essenciais na compreensão da história,
então não haverá legendas. É um
filme muito pouco falado. É visual, muita ação e pouco diálogo.
Folha - É uma boa hora para
um filme como esse devido à comemoração dos 500 anos do
Descobrimento do Brasil, certo?
Fresnot - Sim, mas não foi feito
no sentido oportunista da coisa.
Eu comprei os direitos em 96, logo que saiu o livro. Nem estava ligado no caráter de efeméride.
Texto Anterior: Vida bandida - Voltaire de Souza: Vegetais Próximo Texto: Novo Fresnot tem leitura hoje na Folha Índice
|