São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

MAQUIAVEL

Biografias de Maurizio Viroli e Roberto Ridolfi colocam nas livrarias o lado humano do autor

Maquiavel em carne e osso

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das muitas virtudes de Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi a de promover uma espécie de strip-tease no modo de pensar a política. Começou por tirar as luvas -ao trabalhar em linguagem clara, sem a empolação vigente-, terminou por despir da reflexão sobre o poder seu casaco mais pesado -a aplicação da moral, sobretudo religiosa, à política.
Chegou a vez de o "desnudador" perder ele mesmo suas vestes. Estão saindo no Brasil dois livros que deixam o pensador florentino em carne e osso.
A Estação Liberdade acaba de colocar nas prateleiras o livro "O Sorriso de Nicolau - História de Maquiavel", de Maurizio Viroli. Coincidências do destino, o grande inspirador desse trabalho ganha em um mês sua primeira versão brasileira. A editora Musa, que já publicara "A História de Florença", de Maquiavel, lança em dezembro o clássico "Biografia de Nicolau Maquiavel" (1954), de Roberto Ridolfi.
Humano, demasiadamente humano, é como aparece o autor de "O Príncipe" nesse par de biografias. "Existem centenas e centenas de livros debatendo exclusivamente suas idéias, mas quase nada sobre sua vida. Não escrevo sobre Maquiavel, mas sobre Nicolau", diz Viroli à Folha.
Professor da Universidade de Princeton (EUA), estudioso há 20 anos de seu conterrâneo Machia (como os amigos chamavam o pensador), o cientista político decidiu ocupar um vácuo que não encontrou nos 400 anos de reflexão sobre o personagem.
"A grandeza de Maquiavel é sua filosofia de vida, mais do que seu pensamento político", diz, não sem polêmica, Viroli -já presente nas livrarias brasileiras com "Diálogo em Torno da República" (Campus, 2002), em parceria com Norberto Bobbio.
"Escrevi estas páginas para compreender o significado do sorriso que emerge de suas cartas, suas obras e de alguns retratos seus, pois acredito que esse sorriso encerra uma grande sabedoria de vida, ainda mais profunda do que o seu pensamento político", crava o autor em "O Sorriso de Nicolau".
Nesse retrato de como lidou o pensador com "ingratidão, pobreza, velhice, solidão e desespero", há farto espaço ainda para o Maquiavel alcoviteiro.
"Ele era um mulherengo notável", salienta Viroli. "É importante entender que ele não caía de amor apenas pelas mulheres, ele se apaixonava pelas idéias e isso é uma chave importante para entender suas teorias."



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