São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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"OUVINTE DA NOITE"

Maupin é melhor cronista

BIA ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Armistead Maupin é um cronista da cidade de San Francisco, na Califórnia. Publicadas originalmente em forma de folhetim no jornal "San Francisco Chronicle", suas "Histórias de uma Cidade" foram transformadas em seriado de TV. Nelas, Maupin retratava as formas de sociabilidade e de família surgidas com a revolução sexual dos anos 70, as mudanças rápidas de costumes numa das cidades mais inquietas dos EUA e o baque representado pela chegada da Aids na comunidade gay nos 80.
Apesar das grandes qualidades para a crônica, Maupin funciona de forma bem mais irregular como romancista. Com traços autobiográficos no limite do confessional, "Ouvinte da Noite" é uma narrativa híbrida, às vezes intrigante, outras sentimental.
Gabriel Noone, um escritor de meia-idade, amarga a separação do namorado mais jovem e está em plena crise criativa, quando se depara com um manuscrito. O autor é um garoto soropositivo de 13 anos, vítima de abuso sexual pelo próprio pai. Fã dos esquetes radiofônicos de Noone, o garoto manifesta vontade de conhecê-lo e, a partir daí, os dois iniciam uma intensa amizade telefônica.
As conversas desencadeiam questionamentos no homem mais velho. E, no meio de observações melancólicas, surge um mistério com ar hitchcockiano, de resolução ambígua. Em um certo trecho, Maupin assinala que o Castro, bairro de San Francisco que foi um símbolo da afirmação homossexual, transformou-se num "parque temático gay".
Coisa semelhante se dá no livro, em que o que ele poderia ter de afirmativo e moderno, no sentido de registrar novos estilos de vida, vem envolto no sentimentalismo edulcorado e programático. É compreensível que seja politicamente importante para a comunidade gay tornar públicas e naturalizar suas histórias, mas soa estranho que os formatos venham de lugar tão careta como Holywood.


Ouvinte da Noite
  

Autor: Armistead Maupin
Editora: Arx
Quanto: R$ 39 (358 págs.)



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