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"OUVINTE DA NOITE"
Maupin é melhor cronista
BIA ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Armistead Maupin é um
cronista da cidade de San
Francisco, na Califórnia. Publicadas originalmente em forma de
folhetim no jornal "San Francisco
Chronicle", suas "Histórias de
uma Cidade" foram transformadas em seriado de TV. Nelas,
Maupin retratava as formas de sociabilidade e de família surgidas
com a revolução sexual dos anos
70, as mudanças rápidas de costumes numa das cidades mais inquietas dos EUA e o baque representado pela chegada da Aids na
comunidade gay nos 80.
Apesar das grandes qualidades
para a crônica, Maupin funciona
de forma bem mais irregular como romancista. Com traços autobiográficos no limite do confessional, "Ouvinte da Noite" é uma
narrativa híbrida, às vezes intrigante, outras sentimental.
Gabriel Noone, um escritor de
meia-idade, amarga a separação
do namorado mais jovem e está
em plena crise criativa, quando se
depara com um manuscrito. O
autor é um garoto soropositivo de
13 anos, vítima de abuso sexual
pelo próprio pai. Fã dos esquetes
radiofônicos de Noone, o garoto
manifesta vontade de conhecê-lo
e, a partir daí, os dois iniciam uma
intensa amizade telefônica.
As conversas desencadeiam
questionamentos no homem
mais velho. E, no meio de observações melancólicas, surge um
mistério com ar hitchcockiano, de
resolução ambígua. Em um certo
trecho, Maupin assinala que o
Castro, bairro de San Francisco
que foi um símbolo da afirmação
homossexual, transformou-se
num "parque temático gay".
Coisa semelhante se dá no livro,
em que o que ele poderia ter de
afirmativo e moderno, no sentido
de registrar novos estilos de vida,
vem envolto no sentimentalismo
edulcorado e programático. É
compreensível que seja politicamente importante para a comunidade gay tornar públicas e naturalizar suas histórias, mas soa estranho que os formatos venham de
lugar tão careta como Holywood.
Ouvinte da Noite
Autor: Armistead Maupin
Editora: Arx
Quanto: R$ 39 (358 págs.)
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