|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Filme expõe intrigas da Factory
Documentário sobre amante de Andy Warhol relembra a rotina conturbada do estúdio do artista
Vencedor do Teddy neste ano mostra fortes críticas de integrantes da Factory a Warhol; longa está em cartaz no Festival Mix Brasil
SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Num filme sobre a vida de
seu tio, a cineasta norte-americana Esther Robinson expõe as
entranhas da Factory, célebre
estúdio de Andy Warhol, e revela um mundo em que as pessoas se destruíam para sobreviver. Os protagonistas estão ausentes: Warhol morreu em
1987, e Danny Williams, tio da
diretora e amante do artista,
desapareceu em 1966.
Telefonemas entrecortados,
barulhos de fundo e imagens
desfocadas são o fio condutor
de uma trama que dá voz aos
coadjuvantes do glamour.
Mais do que um documentário sobre o desaparecimento e a
filmografia obscura de um dos
tantos habitantes da Factory,
"Desaparecido: Danny Williams na Factory de Warhol"
-estréia de Robinson na direção, vencedor do Teddy de documentário neste ano em Berlim e em cartaz em SP no Festival Mix Brasil- dá contornos
humanos a contos desbotados
do underground de Nova York.
O grupo dos "glitterati", que
ardeu sob a ditadura de anfetaminas e purpurina de Warhol,
hoje lembra com amargura de
ter vivido sempre à sombra de
quem, a julgar pelos relatos do
filme, nunca foi tão genial
quanto pareceu.
"Imagine que tudo o que você
fez virou Andy Warhol. Pense
que, pelo resto da sua vida, só
queiram falar com você sobre
Andy Warhol. Ninguém quer
saber de você, querem saber
dele", disse a diretora à Folha,
por telefone, de Nova York.
Ela conta que tentou iluminar por outro ângulo a história
apagada pelo sensacionalismo
de livros e revistas sobre a época, que anularam a identidade
própria desses personagens.
Eles ficaram à margem da
personalidade magnética de
Warhol, suas crises e peculiaridades, junto do poder de sua
arte. Paul Morrissey, Edie
Sedgwick, Billy Name, Brigid
Berlin, Nico e o Velvet Underground são alguns deles. Agora,
todos querem um pouco da sua
individualidade de volta.
"O Andy era muito limitado.
Não foi autor de nada. Era inseguro demais, aceitava qualquer
sugestão", disse Paul Morrissey, produtor dos filmes de
Warhol, à Folha. "Ele era vazio. Era psicologicamente incapaz de fazer qualquer coisa."
No documentário, Morrissey
aparece falando sobre sua relação com Williams, com quem
disputou o poder no estúdio.
Hierarquia na Factory
"Era um duelo de forças",
lembra John Cale, guitarrista
do Velvet Underground, que
testemunhou uma briga física
entre Morrissey e Williams nos
bastidores de um show em Chicago. "No fundo, eram todas
pessoas incompletas, que encontravam na Factory um papel que não encontravam na sociedade, mas era tudo drama. A
vida era uma performance."
Brigid Berlin, que aparece
em "Chelsea Girls" injetando
anfetaminas, diz que o modo de
Warhol demonstrar amor era
perguntar se o amante da noite
anterior "tinha pau grande".
A briga pelo poder e atenção
dentro da Factory revela esse
lado sombrio de Warhol. "Todo
mundo amava Andy e ele manipulava todo mundo para amá-lo", lembra Danny Fields, produtor musical, em seu depoimento. "Mas era óbvio que ele
transava com Danny, porque
ele nunca precisava dar explicações, justificar nada."
O tio da cineasta foi amante
de Warhol no auge de sua carreira. Ganhou uma câmera de
presente e foi viver na casa do
artista, despertando o ciúme de
outros integrantes da Factory.
Entre 1965 e 1966, Williams fez
20 filmes que jamais saíram de
lá e agora aparecem em trechos
do documentário de Robinson.
Vazio
Com versões dissonantes da
mesma história e verdades colocadas em dúvida, Robinson
diz fazer um filme sobre a "não-lembrança", um relato sobre a
última atitude do tio, que escapou da Factory para desaparecer para sempre.
O filme começa e termina
com uma vista do mar e a paisagem vazia do precipício onde
foi encontrado o carro de Williams. Em seus diários, Warhol
refere-se a ele apenas como o
"eletricista de Harvard".
No blog Ilustrada no Cinema, o crítico Cássio Starling Carlos destaca o melhor do Mix Brasil
Texto Anterior: Fast fashion Próximo Texto: Frases Índice
|