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Crítica/"Os Donos da Noite"
Diretor adota tom sóbrio e rejeita a catarse em "policial existencialista"
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Das tantas idéias prontas que todo mundo
usa sem duvidar, parece inabalável a crença de que a
beleza deriva da perfeição. A visão de um filme como "Os Donos da Noite" é uma boa oportunidade para descobrir que a
imperfeição pode ser uma via
mais direta para o sublime.
Dirigido por James Gray (dos
ótimos "Fuga para Odessa" e
"O Caminho sem Volta"), o longa recupera um gênero, o policial com tintas existencialistas,
bastante comum no cinema
americano dos anos 70.
"Os Donos da Noite" se passa
nos anos 80, num clube nova-iorquino cuja pista é embalada
pelos hits da época e também
por muita cocaína e outros aditivos ilegais. É lá que emerge a
figura ambígua de Bobby Green
(Joaquin Phoenix, espetacular). Gerente do clube, também
movido por ambição e estimulantes químicos, Green tem laços problemáticos com um pai
e um irmão, homens de destaque da polícia que pretendem
desbaratar uma grande operação de tráfico coordenada pela
máfia russa.
Nesse ambiente, o diretor James Gray nunca nos entrega todas as cartas, criando uma trama que muda de rumo várias
vezes, o que, em alguns momentos, dá a impressão de buracos no roteiro ou de história
mal construída.
O que lhe interessa, contudo,
não é obedecer aos cânones da
verossimilhança e, sim, conseguir reproduzir texturas e tonalidades de sentimentos dos
estados de alma de seu protagonista. Para além dos fatos e da
ação, o que Gray busca é captar
as emoções que acompanham
um movimento de ascensão e
queda, a ruptura brusca que
distingue os paraísos artificiais
da droga dos infernos realistas
do luto e da melancolia.
É isso que justifica que Gray
não construa um filme de aparência sólida e fechada e prefira
apostar em criar contrastes entre pontos frágeis e momentos
fortes, um modo de reiterar as
várias crises pelas quais passa
seu personagem.
Em vez de um espetáculo flamejante que conduz à catarse,
"Os Donos da Noite" é marcado
pela sobriedade, o que acentua
ainda mais o gosto amargo que
deixa no espectador.
OS DONOS DA NOITE
Direção: James Gray
Produção: EUA, 2007
Com: Joaquin Phoenix, Eva Mendes
Onde: Bristol, Unibanco Arteplex,
Villa-Lobos e circuito
Avaliação: bom
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