São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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"Juventude" fez Villa-Lobos perder partituras

Para especialista, compositor, morto há 50 anos, não sabia, aos 30, que seria um gênio

Turíbio Santos, diretor do Museu Villa-Lobos, rebate fama de desorganizado do maestro, que deixou cerca de 1.200 composições


24.set.57/Folha Imagem
O maestro Villa-Lobos concede entrevista coletiva no Teatro Municipal de São Paulo, em 1957

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao morrer, em novembro de 1959 -os 50 anos serão lembrados amanhã-, Heitor Villa-Lobos deixou perto de 1.200 composições. Mas algumas já estavam perdidas e jamais foram localizadas.
São os casos da "Sinfonia nº 5", do "Choro nº 13", para orquestras e banda, do "Choro nº 14", para orquestra, banda e coral, ou da terceira série para piano da "Prole do Bebê".
O violonista e professor Turíbio Santos, 66, desde 1986 diretor do Museu Villa-Lobos, no Rio -instituição que gere o legado do compositor-, afirma que ele foi um homem bastante organizado e sistemático e que a maior parte dos extravios ocorreu com trabalhos de juventude. "Ninguém aos 30 anos sabe que no futuro será um gênio", afirma.
Prova de sua organização: ao "entrar" no universo musical de Johann Sebastian Bach, ele estudou em detalhes "O Cravo Bem Temperado" e o "Livro de Anna Magdalena" (mulher de Bach), diz Santos. O mito de que Villa-Lobos foi um homem bastante desorganizado não procede, afirma.
Um catálogo e um arquivo com as composições que ele produzia eram mantidos por Arminda, sua segunda mulher. Mesmo assim, ninguém nunca saberá ao certo o que aconteceu com o último de seus "Seis Prelúdios para Violão", que o compositor julgava o mais bonito.
Provavelmente a cópia se perdeu durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), na casa de Andrés Segovia (1893-1987), grande nome do violão clássico do século 20.
Santos afirma que, dependendo dos critérios, a obra de Villa-Lobos pode ser quantificada de 800 a 1.200 composições. A oscilação se deve às transcrições para outros instrumentos. Foi justamente por transcrições que se conhecem hoje os "Oito Dobrados para Violão", cuja partitura original se perdeu.
Por sugestão de seu editor na França, Villa-Lobos escreveu uma "Suíte Brasileira", em oito movimentos, para a qual "canibalizou" os dobrados.
Há momentos de sorte, como o encontro, num sebo, de uma das "Valsas Concertantes". Mas são acontecimentos excepcionais, diz o diretor do Museu Villa-Lobos.
A seu ver, não se pode trabalhar com esses extravios como museus procuram peças desaparecidas por furtos ou em guerras -mobilizando a Interpol e construindo sites na internet. Mas a instituição que cuida do acervo tem, mesmo assim, uma equipe de arquivistas atentos a qualquer pista.


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