São Paulo, Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999 |
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MÚSICA Evento em Salvador reuniu produtores e artistas para discutir intercâmbio entre África e América Bahia experimenta sons afro-latinos
SYLVIA COLOMBO enviada especial a Salvador O bloco baiano Ilê Ayê, a cantora cabo-verdiana Cesaria Evora e a peruana Susana Baca trabalham, cada um a seu modo, a mistura de elementos afro e latino-americanos que atuaram na construção da cultura de seus países. Os artistas integraram o elenco de shows do 1º Mercado Latino-Americano, que terminou ontem em Salvador e teve a miscigenação e o intercâmbio cultural dos países da América Latina e da África como tema principal. "Cabo Verde e Brasil precisam aprender mais sobre suas raízes comuns, que vêm da música portuguesa e africana", disse a cantora, em entrevista à Folha. Cesaria, 58, dividiu o palco no último domingo com a cantora baiana Virgínia Rodrigues, em noite que lotou o Teatro Castro Alves, na capital baiana. A Bahia é o elo de ligação entre Cesaria e o Brasil. Trazida pela primeira vez ao país por Caetano Veloso, em 94, a cantora diz que, então, passou a se interessar cada vez mais pela música brasileira. Em seu último disco, "Café Atlântico" (BMG), Cesaria gravou "É Doce Morrer no Mar", de Dorival Caymmi sobre texto de Jorge Amado, em parceria com Marisa Monte. "A idéia foi dela e eu adorei conhecer melhor o repertório de Caymmi", diz. O repertório do show baiano incluiu músicas dos discos anteriores, principalmente de "Miss Perfumado" (92), álbum responsável por seu sucesso tardio e reconhecimento internacional. Mas foram as músicas de "Café Atlântico" que entusiasmaram o o público. Cesaria reforçou seu talentoso grupo de músicos com a presença de três instrumentistas cubanos. Promoveu, então, os casamentos do mambo caribenho com a coladera e das baladas românticas latinas com a morna. "Estou cada vez mais interessada na música latino-americana e trabalho num projeto de gravação de um disco somente com músicos brasileiros", disse. "Café Atlântico" é seu sétimo CD e foi produzido parcialmente em Cuba, com arranjos do violoncelista brasileiro Jaques Morelenbaum. Para gravar "É Doce Morrer no Mar", Cesaria passou duas semanas na Bahia. Som afro-peruano No sábado, a peruana Susana Baca, pesquisadora das raízes africanas da música peruana, apresentou-se ao lado da baiana Margareth Menezes. Susana foi descoberta pelo mercado internacional pelo músico e produtor David Byrne, que a incluiu na coletânea "The Soul of Black Peru", lançada pelo seu selo Luaka Bop. Seu último disco, "Del Fuego y Del Alma", mistura folclore peruano com jazz, rap e elementos de MPB. Negócio de risco Organizado no Brasil por uma entidade privada, a Casa Via Magia, e com apoio da Red Latinoamericana de Productores de Arte Contemporánea, o evento teve patrocínio majoritário da Ford Foundation. "Ainda é um negócio de risco apostar no intercâmbio cultural entre países latino-americanos. Os produtores do nosso continente estão bem pouco interessados na promoção dos artistas de países vizinhos, por isso temos de buscar caminhos indiretos, como o patrocínio via Estados Unidos", disse Ruy Cézar Costa Silva, da Via Magia. Durante o mercado, houve uma feira para produtores de eventos da América Latina e debates sobre intercâmbio entre órgãos governamentais de cultura da Colômbia, México, Chile e outros. A jornalista Sylvia Colombo viajou a convite da organização do evento Texto Anterior: Televisão: Ajato põe TV no computador Próximo Texto: Artes Plásticas: Johnnie Walker tem mostra no RJ Índice |
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